Se era isso o que ela queria, ela conseguiu!

Na manhã seguinte, fiz de tudo para não encontrar com Isabella durante o plantão, eu torcia para que ela não contasse aos nossos colegas de trabalho sobre o nosso encontro na noite anterior.

Tomei um analgésico para aliviar a dor de cabeça causada pela ressaca e sentei-me na sala de descanso durante o intervalo. Ali avaliei a biópsia estereotáxica de um dos meus pacientes antes de conversar com um de seus  familiares.

As mensagens de Josephiné não paravam de chegar no meu telefone, olhei para a tela do meu blackberry que vibrava, encostei a minha cabeça no estofado marrom da poltrona reclinável e atendi:

— O que você quer Josephiné?

— Quero que você venha para casa hoje, precisamos conversar!

— Você quer que eu volte para você me esbofetear de novo?

— Non, mon chéri! Convidei um amigo que conheci na casa swing vip. — A voz dela estava manhosa. 

— Que porra é essa Josephiné? 

— É só para apimentar a nossa relação.

Toquei na tela e encerrei a chamada. Fechei os meus olhos e relaxei um pouco antes de retornar ao trabalho. O telefone vibrou no meu colo, então desliguei o aparelho.

— Excusez-moi, doutor Bittencourt! — Abri os olhos e fitei Nathalie, a enfermeira. Ela tinha um sorriso bem alinhado. — A filha do seu paciente o está aguardando!

— Merci beaucoup!

Pensei em convidá-la para um café, mas depois do que aconteceu com Isabella, era melhor não arriscar. 

— Diga para ela que vou atendê-la na minha sala, s'il vous plait!

Guardei meu blackberry no bolso da calça, peguei o meu tablet e os exames do meu paciente. Segui em passos apressados até a sala onde, para a minha surpresa, Alícia me esperava. Entrei e fechei a porta.

— Bonjour! — Ela cumprimentou meio sem graça.

— Bonjour, Alícia! — Fui para o outro lado e me sentei na cadeira atrás da minha mesa. — Você é filha do monsieur François?

— Oui!

Ajeitei a pasta com exames sobre a mesa antes de explicar toda a situação sobre o caso do paciente.

— Você está zangado?

— Não compreendi! — Tirei os óculos e mirei nos olhos dela.

— André falou que tomou satisfações com você no toalete.

— Do que você está falando? — Fingi que não entendia.

Ela permaneceu quieta e fitou as mãos sobre o colo, tinha o jeito da minha Nicky. Desviei a atenção para os papéis e foquei no trabalho.

— Eu estou com os resultados da biópsia estereotáxica da amostra do tumor que removi do seu pai… — Entreguei a pasta com uma capa branca para Alícia — Avaliei a situação e decidi que vou operá-lo depois de amanhã — disse com firmeza. 

Alícia me escutava em silêncio, parecia nervosa. Ela mexeu nos cachos e concordou com a cabeça.

— Criarei uma abertura no crânio para ter acesso ao tumor.

— Existe algum risco? — indagou ela.

— Sim! — respondi instintivamente. — Este é um procedimento arriscado.

— Quais os riscos, doutor? — Notei quando ela engoliu em seco.

— Poderá afetar a fala, o movimento das pernas e das mãos. É por isso que eu preciso da autorização de um membro da família.

Alícia não disse uma palavra, parecia pensativa e eu compreendia perfeitamente, já que a minha avó sofria com essa maldita doença. A única diferença, era que o pai de Alícia poderia se recuperar após a cirurgia curativa  e iniciando o tratamento com radioterapia, já a minha avó estava com câncer... no estágio final.

— Eu autorizo! — Alícia derrubou o muro da insegurança. 

Não é fácil tomar decisões que colocam a vida de quem amamos em risco e eu a compreendia perfeitamente.

 — Pesquisei tudo sobre o seu trabalho e pelo o que soube, você é um dos melhores cirurgiões do Saint-Mary. — Alícia teceu o comentário. — Confio em você!

— Meu objetivo é retirar a maior parte do tumor sem ferir o tecido cerebral através da craniotomia.

Fiquei lisonjeado com o elogio dela, mas mantive a minha postura. Trabalhei e estudei incansavelmente para obter avaliações positivas.

— Sei que você não quer tocar nesse assunto, mas eu gostaria de te pedir desculpas pela atitude do André, ele é muito ciumento!

 Recostei na cadeira e franzi a testa, se Nicky flertasse com outro homem na minha frente, eu reagiria da mesma forma.

— Eu já esqueci isso! — Menti descaradamente. — Espero que essa situação não tenha causado problemas entre vocês.

— Pedi um tempo. André é possessivo — confessou. — Deixei ele em Paris e vim passar uns dias na casa da minha mãe, aqui na cidade.

Cliquei na pasta de arquivos do meu notebook e enviei para à iimpreassora o formulário de autorização para a cirurgia.

— Eu preciso que você assine o termo de ciência e consentimento específico para procedimentos invasivos e cirurgias — expliquei em tom calmo e frio.

Entreguei uma das folhas a Alícia e assinei a outra. Ela colocou o celular na mesa, leu atentamente e depois de quase dois minutos preenchendo os dados, assinou. Assim que me entregou o documento, ela se colocou de pé.

— Merci beaucoup! — Caminhou até a porta e saiu.

Acredito que ela observou a minha indiferença, mas eu realmente não queria conversar sobre aquela situação no meu trabalho. Guardei as folhas em uma pasta na gaveta e tomei outro comprimido analgésico. Estava com tanta dor de cabeça que não percebi que Alícia havia esquecido o celular na minha mesa. Levantei e saí apressado, porém não a encontrei.

— Que merda! — balbuciei.

Pensei em deixar o smartphone nos achados e perdidos do hospital, contudo, hesitei. Voltei para a minha sala, acessei os registros dos meus pacientes no computador e encontrei o número do telefone residencial da mãe de Alícia. 

Durante a noite liguei o meu blackberry e me arrependi. O som das notificações não paravam, pensei em mudar o número do meu telefone, para que Josephiné não me incomodasse.

Olhei para a luz brilhante na tela do smartphone de Alícia em cima da cama, pensei que o ex dela estivesse ligando, então, não atendi. O celular tocou mais uma vez, vi que o contato estava salvo como “Mamãe”, deduzi que Alícia estaria nervosa ligando da casa da mãe dela.

— Bonsoir, Alícia!

— Bonsoir, doutor! Esqueci meu celular na sua sala.

— Eu pretendia ligar para a sua casa, mas tive que atender alguns pacientes.

— Compreendo!

— Amanhã, eu deixarei o seu smartphone na recepção do hospital e avisarei a Mariana que você irá buscá-lo.

— Non! Preciso verificar alguns e-mails de trabalho. 

— São quase 8 horas da noite, não vou sair agora. Tenho que descansar!

— Se importaria se eu buscasse na sua casa? — perguntou ela.

— Estou no hotel Campanile, perto do Hospital. — Será que ela fez isso de propósito? Se Alícia fez ou não, eu não perderia a oportunidade de ficar a sós com ela. — Peça ao recepcionista para ligar para o meu quarto assim que você chegar.

Pulei da cama logo depois que encerrei a ligação, eu estava nu e não podia recebe-la da forma como cheguei ao mundo. Coloquei uma calça de moletom e uma camisa preta com estampa do Homem-Morcego. 

Ajeitei os fios curtos dos meus cabelos no espelho e removi os óculos. Reparei na camisa e tirei, não queria causar uma impressão ruim. Mexi em algumas peças de roupas até que recebi a ligação, vesti a blusa às pressas enquanto autorizava ao funcionário do hotel que permitisse o acesso de Alícia até o meu quarto. Verifiquei as camisinhas na gaveta da cômoda branca ao lado da cama e corri para atender a porta.

— Olá, doutor!

Fiquei sem palavras assim que vi a mulher no vestido liso rosa que delineou suas curvas.

— Por favor, me chame de Alexander! — Senti o aroma daquela deliciosa fragrância do perfume que ela usava. Puxei a camisa para ocultar o volume na calça. — Entre!

Alícia atravessou e caminhou pelo espaço amplo do meu quarto. Ela rebolava aquele traseiro gostoso enquanto caminhava e eu a comia com os olhos.

— Aceita uma bebida ou um café?

— Non! Merci!

— Ah, o seu celular! — Notei que a tela do telefone de Alícia brilhava em cima da cama. Era o ex dela. — Acho que ele quer falar com você!

Ela pegou o smartphone da minha mão e recusou a ligação de imediato.

— Como está a sua filha? André falou que ouviu o médico falando com você.

— Está com a mãe dela!

Tirei o livro da oitava edição do manual de Neurocirurgia de cima da cama.

— Marcelly é filha do meu melhor amigo, adotei-a depois que o pai dela faleceu.

Não sei porque dei satisfação da minha vida para uma mulher que apareceu do nada depois de 3 anos.

— Que atitude admirável. Então a mãe da menina é sua esposa?

— Não! — Ajeitei o lençol branco da minha cama. — Eu não sou casado! Morei por um tempo com a mãe de Marcelly,  mas não deu muito certo.

Alícia estava em pé perto da poltrona com estofado bege  e desviou os olhos quando eu a encarei.

— E como está seu coração?

— Saudável, continua bombeando sangue!

Ela riu da resposta, apreciou o meu senso de humor.

— Você é mais simpático fora do trabalho.

Alícia chegou mais perto enquanto avaliava o restante do quarto. Afastou a alça do vestido que deslizou pelo corpo dela até cair no assoalho de madeira. Observei o detalhe dos mamilos que eram  mais escuros do que a pele em volta dos seios firmes e pequenos. Ela puxou o lábio inferior com os dentes. As mãos dela acariciavam meu rosto e me guiaram até a boca carnuda, estava enfeitiçado por aquela deusa de ébano. 

Me inclinei na direção dela e molhei aqueles lábios perfeitos. Passei as mãos pelos cachos e a abracei quando enfiei a minha língua em sua boca. Eu sabia o que ela queria e daria sem nenhuma objeção, mas tinha que ser sincero, me afastei um pouco e observei o olhar atordoado:

— Alícia, eu não sou o tipo de homem que curte relacionamento.

— Eu também não gosto — falou com um sorriso largo.

Ela estendeu a mão e me tocou. Puxou a minha camisa e não esperou que eu despisse a minha calça.

— Espera! — Tirei o preservativo da gaveta.

— Vem cá! — Me puxou e depois me jogou na poltrona. 

Ela se ajoelhou e colocou a mão na minha calça conforme beijava a pele da minha barriga, curvei a cabeça para trás e movi o quadril quando ela me engoliu. Sugava com vontade e me fazia urrar. Segurei na poltrona com os movimentos ágeis dos lábios que contraíram em volta do meu membro duro. Movia no ritmo daquela carícia, toquei a mão dela que se movia prazerosamente de baixo para cima.

Alícia abriu o invólucro, removeu a camisinha e deslizou por toda a minha extensão. Ela se ajeitou sobre o meu colo, separou as pernas esguias e torneadas e suspirou enquanto descia. Estava completamente aberta e arquejava conforme eu beijava-lhe os seios pequenos. 

Se era isso o que ela queria, então ela conseguiu. Eu estava dentro dela e ela cavalgava com vontade sobre o meu pau. Meus dedos brincavam naqueles fios encaracolados, mordisquei-lhe o bico. O gemido escapou-lhe da garganta enquanto ela gozava.

— Tão rápida! — murmurei. — Quero mais! — Exigi.

Saí de dentro dela e a coloquei de joelhos sobre o estofado da poltrona, me concentrei naquele corpo perfeito, segurei-lhe firme pela cintura e afundei na carne molhada e quente. Gostava de foder naquela posição, penetrava-lhe com uma certa urgência.

Cerrei os olhos, minhas pernas tremiam e meus pensamentos me traíram, gozei explosivamente enquanto pensava na mulher que eu ainda amava. Eu me sacudia dentro de Alícia e lutava para não gritar o nome da Nicky.

Ela se jogou na poltrona e me encarou com uma feição compungida. Virou o rosto para o outro lado e evitou os meus olhos conforme eu arfava. 

— Está tudo bem?

— Sim! — Ficou em pé e me evitou quando tentei beijá-la. Colocou vestido e calçou a sandália. — Tenho que ir! — Alícia pegou o celular que ainda estava na cama. — Merci beaucoup! —  Saiu apressada.

Pela primeira vez, almejei que uma mulher ficasse, todavia, ela fugiu. 

O inverno trazia as primeiras gotas de chuvas frias. Dois dias depois do rápido encontro com Alícia, eu cheguei mais cedo no trabalho, esperava reencontrá-la após a cirurgia. Parei perto da janela do penúltimo andar do hospital Saint-Mary, contemplei o céu encoberto por nuvens cinzas, arrumei  meus óculos e mirei na tela do blackberry enquanto ouvia as batidas das gotas contra o vidro.

― O que você quer, Josephiné? ― questionei com frieza, estava farto daquela situação. ― Estou muito ocupado! ― As cobranças de Josephiné me irritavam. ― Ficarei por uns dias em um hotel aqui perto.

Ela insiste em fazer ménage ou praticar aqueles lances sadomasoquistas. Suspirei pesado e sentei na cadeira. Olhei para as informações do pai de Alícia que ainda estavam abertas na tela do meu computador.

Espremi os meus olhos, por anos lidei com as mudanças de humor e os fetiches da Josephiné, mas era impossível agir como se nada tivesse acontecido nos últimos dias.

― Chega, Josephiné! ― Levantei os óculos e esfreguei os meus olhos com os dedos. ― Essa conversa acabou!

Alisei o meu queixo e fechei os arquivos com as informações do paciente enquanto Josephiné berrava do outro lado da linha até ficar rouca. Odiava quando ela questionava a minha sexualidade só porque não cedia às dominações com os brinquedos dela, ainda mais quando ela falava da minha ex-mulher só para me atormentar.

― A Nicky ficou no passado ― falei alto, estava nervoso, mas ela tinha razão, nunca esqueci a Nicole. ― Au revoir, Josephiné!

Verifiquei a hora no relógio e desisti de discutir. Encerrei a ligação, cocei a minha testa e suspirei. Precisava me acalmar para entrar na sala de cirurgia. Sempre deixei os meus problemas em casa, mas nos últimos dias, as coisas ficaram mais complicadas. Eu estava decidido a dar um fim naquele relacionamento estranho.

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