PONTO DE VISTA DA ROSE
Meu telefone vibrou enquanto eu estava fazendo as unhas. Normalmente, eu ignoraria, terças à tarde são meu momento pessoal, afinal. Mas algo me fez olhar. Talvez tenha sido intuição. Talvez tenha sido destino. Talvez tenha sido apenas aquela sensação deliciosa que eu tive a manhã toda, como se algo maravilhoso estivesse prestes a acontecer.
A manchete me fez borrar o esmalte francês perfeito que Julie tinha acabado de terminar na minha mão direita.
"MULHER LOCAL TEMIDA MORTA APÓS CARRO SER ENCONTRADO NO RIO"
Minhas mãos tremeram enquanto eu clicava no link, sem me importar com o esmalte arruinado. Estava lá, em preto e branco bem claro: Camille Elizabeth Lewis, 25 anos, presumivelmente morta após seu carro ser descoberto no Rio Morton na manhã de terça-feira. Nenhum corpo recuperado. Busca em andamento.
— Meu Deus. — Sussurrei, mas por dentro, fogos de artifício estavam explodindo. Rolhas de champanhe estavam saltando. Cada célula do meu corpo queria pular e dançar.
— Está tudo bem, senhorita Lewis? — Julie perguntou, preocupada com minhas mãos trêmulas.
Forcei meu rosto a assumir a expressão apropriada de choque e tristeza.
— Minha irmã... houve um acidente. Eu... preciso ir.
A viagem para casa foi uma tortura, tendo que manter meu rosto adequadamente arrasado enquanto meu coração voava como um pássaro finalmente libertado de sua gaiola. Mal consegui passar pela minha porta da frente antes que a risada borbulhasse, selvagem e um pouco histérica.
Ela realmente tinha feito isso. Minha irmãzinha patética e grudenta finalmente tinha feito algo certo. Ela tinha desaparecido exatamente como eu havia arranjado, até o carro no rio. Aqueles caras que contratei através de três intermediários diferentes tinham seguido minhas instruções perfeitamente.
Servi um copo do Cristal que estava guardando para uma ocasião especial. Isso definitivamente se qualificava. Pegando meu telefone e o champanhe, me encolhi no meu cantinho favorito da janela, aquele com a vista perfeita do jardim que Camille costumava amar tanto.
Os artigos estavam em todos os lugares agora. Notícias locais, redes sociais, até alguns veículos regionais pegando a história. Eu rolava por eles como cartas de amor, cada um mais doce que o anterior. As fotos que escolheram eram perfeitas, Camille sempre fotografava terrivelmente, parecendo desbotada e incerta ao lado do meu glamour cuidadosamente curado. Mesmo na morte, ela era minha sombra.
— Para você, irmãzinha. — Sussurrei, levantando meu copo para o quarto vazio. — Obrigada por finalmente sair do meu caminho.
Meu telefone tocou, Stefan, bem na hora certa. Respirei fundo, arranquei minha voz em algo adequadamente quebrado.
— Amor? — Deixei minha voz rachar. — Você... você viu?
— Rose, sinto muito. — Ele soava genuinamente chateado, o bobo. — Estou indo para aí. Você não deveria estar sozinha agora.
Perfeito. Absolutamente perfeito.
— Eu simplesmente não consigo acreditar que ela se foi. — Disse, acrescentando um pequeno soluço para efeito. — Minha irmãzinha...
— Vamos superar isso juntos. — Ele prometeu.
Encerrei a ligação e sorri para meu reflexo na janela. Sim, nós superaríamos isso juntos, assim que um período de luto apropriado tivesse passado. Seis meses, talvez. Oito no máximo. Então Stefan se voltaria para mim em busca de conforto, e eu finalmente teria tudo que havia passado quatro anos cuidadosamente arranjando.
A casa precisaria estar escura quando ele chegasse. Enlutada. Fui por aí fechando cortinas, criando o cenário perfeito para minha performance. A irmã enlutada, devastada pela perda, se voltando para o viúvo de sua irmã em busca de apoio... era quase poético.
Meu telefone vibrou novamente, mamãe desta vez. Deixei tocar duas vezes antes de atender.
— Rose? — A voz dela estava grossa de lágrimas. — Por favor, me diga que não é verdade.
— Mamãe... — Forcei um soluço. — Eles encontraram o carro dela... no rio...
— Não, não, não... — A dor crua na voz dela enviou uma emoção através de mim. Era isso que eu queria todos esses anos, ser a única filha, o único foco da atenção deles. Não mais dividir o amor deles com minha imitação pálida de irmã.
— A polícia acha... — Pausei para efeito. — Eles acham que ela pode ter feito de propósito. Ela estava tão estranha ultimamente, tão distante...
As sementes que eu havia plantado nos últimos meses estavam florescendo lindamente. As dicas sutis sobre a depressão de Camille, as sugestões cuidadosas de que ela não estava lidando bem com a vida. Todo mundo acreditaria. Eles balançariam a cabeça e diriam que tragédia era, e como deveriam ter visto os sinais.
— Eu deveria ter ajudado ela mais. — Mamãe lamentou. — Deveria ter estado lá...
— Todos nós deveríamos. — Acalmei, enquanto por dentro eu estava dançando. — Mas você conhece a Camille, ela nunca queria ser um fardo para ninguém.
Depois que desliguei, tirei meus saltos e girei pela minha sala de estar, champanhe respingando pela borda do meu copo. Livre! Finalmente, gloriosamente livre! Não mais a pequena Camille perfeita com seus olhos tristes e julgamento silencioso. Não mais competir por atenção, por amor, por qualquer coisa.
Avistei uma foto na lareira, eu e Camille no casamento dela, o vestido dela cuidadosamente escolhido para fazê-la parecer desleixada ao lado do meu vestido de grife. Peguei a foto, estudando o rosto dela. Ela nunca entendeu como o mundo realmente funcionava. Como você tinha que pegar o que queria, como bondade era apenas fraqueza disfarçada.
— Você deveria me agradecer. — Disse para a imagem dela. — Eu te dei a saída perfeita. Todo mundo vai se lembrar de você como a alma trágica e bela que não conseguia suportar a crueldade do mundo. Melhor do que deixar eles verem que fracasso você realmente era.
A campainha tocou, Stefan, bem na hora. Coloquei a foto de volta e verifiquei minha maquiagem no espelho do hall. O rímel à prova d'água estava artisticamente borrado, meus olhos vermelhos do champanhe. Perfeito.
— Lembre-se. — Sussurrei para meu reflexo. — Você está devastada. Quebrada. Perdida sem sua irmã amada.
Abri a porta para encontrar Stefan parecendo arrasado, seus olhos azuis avermelhados. Alma tão sensível. Era uma das coisas que me atraíam nele, isso e o dinheiro da família dele, é claro.
— Oh, Stefan! — Me joguei em seus braços, deixando ele me segurar enquanto eu tremia com o que ele pensaria serem soluços.
— Eu estou aqui. — Murmurou no meu cabelo. — Vamos superar isso juntos.
Por cima do ombro dele, eu sorri. Sim, nós superaríamos. Só que não da forma que ele imaginava.
Deixei ele me levar para o sofá, me arranjar cuidadosamente entre as almofadas. Ele foi buscar água para mim, doce e previsível Stefan, enquanto eu checava meu telefone novamente. #RIPCamille estava trending localmente. A cobertura das notícias estava se expandindo. As pessoas estavam compartilhando memórias, postando fotos antigas.
Perfeito. Simplesmente perfeito.
— Eu fico pensando. — Disse quando Stefan voltou. — Em todas as coisas não ditas. Todo o tempo que nunca teremos...
Ele se sentou ao meu lado, me puxando para perto, e eu me aninhe nele como se pertencesse ali. De certa forma, eu pertencia. Tudo estava se encaixando exatamente como eu havia planejado.
Camille se foi, Stefan estava aqui, e logo, muito em breve, eu teria tudo que sempre quis. A fortuna, o status, a vida perfeita, tudo meu, sem nenhuma sombra pálida de irmã para diminuir meu holofote.
— Para novos começos. — Sussurrei na camisa do Stefan, baixo demais para ele ouvir.
Lá fora, começou a chover, o próprio tributo da natureza ao meu triunfo. Fechei os olhos e sorri, deixando Stefan confundir minha expressão com tristeza.
Tchau, irmãzinha. Obrigada por finalmente fazer algo certo.