O apartamento estava mergulhado num silêncio estranho. As cortinas dançavam com o vento da janela entreaberta, enquanto o som abafado do zíper de uma mala ecoava pelo ambiente. Alicia estava ajoelhada no chão da sala, diante de uma caixa aberta, com as mãos trêmulas segurando uma moldura de fotografia. Era uma imagem dela e Roberto, tirada durante a viagem para a Grécia. Os dois estavam sorrindo. Um sorriso que agora lhe parecia distante, forçado, como se aquele momento tivesse pertencido a outra vida.
Ela respirou fundo e guardou o porta-retrato no fundo da caixa, cobrindo com um casaco leve por cima, como se esconder a imagem fosse também enterrar os sentimentos.
Por dias, ela tentou encontrar uma resposta justa, humana, que não envolvesse dor. Mas qualquer caminho que escolhesse, alguém sairia ferido — e ela, despedaçada. Não conseguiria viver ao lado de Roberto sabendo que era João quem dominava seus pensamentos mais íntimos. E tampouco podia viver com João, carregando a culpa de