CaíqueDepois de conversar com a Mayara, pedi se podia ficar no seu sofá, pensando em falar com o Gu pela manhã. Ela não se opôs. Ofereceu espaço, como fez outras vezes. Passei a noite em claro, com as palavras de Mayara e preocupações do Gustavo ecoando na minha cabeça. Ele tem medo de eu ir embora de novo. Medo de me perder. Eu nunca quis que ele se sentisse assim, mas a verdade é que deixei isso acontecer. Minha ausência no passado criou uma insegurança que eu talvez nunca consiga apagar.Ficar ou partir? Essa pergunta tem me atormentado há dias. Desde que recebi a proposta de trabalho, só consigo pensar no que seria melhor para todos nós. Mas, no meio de tanta indecisão, esqueci de considerar o mais importante: como isso afetaria meu filho.Por mais que a minha preocupação sempre foi sobre como o Gu e a Mayara receberiam a possível novidade, sei que ele é o ponto mais sensível. Com Mayara, consigo conversar e pedir sua opinião, mas com ele, não. Preciso ter uma solução para levar
MayaraChego em casa e vou até o quarto trocar de roupa. Coloco peças leves, tentando me sentir confortável, mas estou com a mente longe. As palavras de Caíque ecoam na minha cabeça, ele falou com o Gu pela manhã e pediu para conversarmos mais tarde. Como perdi hora e ele foi levar nosso filho e avisou que o buscaria, não consegui falar com o Gustavo sobre o assunto.Mas nosso filho estava calmo e feliz, isso é um bom sinal, não é?Uma parte de mim ainda está com medo.Assim que termino de me trocar, ouço batidas na porta. Corro para abrir e ao puxar a maçaneta e abrir a porta, encontro Caíque e Gustavo, em uma conversa animada.— Olha quem chegou. — Brinco, me abaixando e meu filho ri vindo para meus braços. — Saudades de você. — Beijo o seu pescoço quando o abraço e ele ri.&m
MayaraO cheiro de café fresco invade a sala enquanto ajeito os cobertores no sofá. Gustavo está no chão, cercado de brinquedos, fazendo um aviãozinho decolar com um sorriso enorme no rosto. Caíque surge na porta da cozinha, segurando duas xícaras fumegantes, e me lança um olhar tranquilo que me faz sorrir.Ainda estou me acostumando com essa sensação de paz. Depois de tudo que aconteceu, eu achei que nunca mais experimentaria essa leveza. Mas aqui estamos nós, juntos, fazendo algo tão simples como passar a noite em família.— Aqui está o café, como você gosta — ele diz, me entregando a xícara e se sentando ao meu lado no sofá.— Obrigada. — Seguro a xícara com as duas mãos, sentindo o calor aquecer meus dedos. Caíque observa Gustavo brincar e depois me olha, um sorriso suave nos lábios.— Ele está tão feliz — comenta, baixinho.— Sim. Eu também estou — confesso, quase sem pensar. Quando percebo, Caíque está me encarando com aquele olhar sério e intenso. Meu coração acelera.Antes que
CaíqueAcordo com o som das mensagens chegando no celular. Ainda meio sonolento, estico o braço para pegá-lo na mesinha de cabeceira. A claridade da tela quase me cega, mas reconheço o nome da Larissa na notificação.Lari: Precisamos conversar. Coisa boa. Me liga quando acordar.Reviro os olhos, mas um sorriso já está surgindo nos meus lábios. Larissa sempre tem um jeito dramático de dar as notícias. Me espreguiço e levanto, indo até a cozinha. O cheiro do café que ficou na garrafa de ontem ainda está presente, mas prefiro preparar um novo.Enquanto a cafeteira trabalha, encosto na bancada e finalmente ligo para minha irmã. Ela atende no segundo toque, com uma animação que eu quase nunca vejo.— Bom dia, dorminhoco!— Bom dia, senhora Larissa. Fala logo, que mistéri
MayaraAinda estou com a cabeça na rotina do trabalho quando recebo a mensagem de Caíque. Ele pergunta se podemos jantar na casa dele hoje, só nós três. Um sorriso meio bobo aparece no meu rosto. Respondo que sim, tentando não parecer empolgada demais. Quando dá o horário de buscar o Gu na escola, saio do escritório em que trabalho e faço o caminho apressadamente. Chego a tempo de ouvir o sinal da escola tocar, enquanto espero Gustavo no portão, como sempre. Ele vem correndo na minha direção, cheio de energia, e me dá um abraço apertado.— Mãe, o papai vem buscar a gente? — pergunta, os olhos brilhando de expectativa.Quando vou falar que não sei, pois não perguntei para ele quando nos falamos mais cedo, avistamos Caíque atravessando a rua. Ele vem em nossa direção com aquele sorriso tranquilo, e só de vê-lo ali, sinto meu peito aquecer.— Oi, May — ele cumprimenta, passando o braço por minha cintura e me dando um beijo rápido na boca, claramente não se importando em sermos vistos ju
CaíqueO barulho do teclado ecoa pela sala, enquanto termino de revisar os últimos documentos que tenho que entregar. É impressionante como as coisas mudaram tão rápido. Há algumas semanas, eu estava pensando na possibilidade de deixar a cidade para trás mais uma vez. Agora, estou aqui, preenchendo formulários para começar em um novo emprego na próxima semana.Consegui um trabalho em uma nova empresa, nada tão glamoroso quanto a oferta anterior, mas, para ser honesto, parece bem mais significativo. Terei a chance de começar do zero em um novo lugar, pois, não aguentava mais onde estava, e acho que nunca valorizei tanto uma oportunidade. O mais importante é que estarei trabalhando de casa e vou poder continuar perto de Mayara e Gustavo, sem precisar sacrificar minha vida familiar.O celular vibra em cima da mesa, e vejo ser uma mensagem da Larissa, m
MayaraA nossa manhã começa agitada, como era de se esperar. A casa está uma verdadeira bagunça, cheia de balões coloridos, bandeirolas espalhadas e um bolo enorme sobre a mesa montada na sala. Gustavo está radiante, correndo de um lado para o outro, e eu me pego sorrindo enquanto confiro se tudo está em ordem mais uma vez.Caíque surge na sala, trazendo mais algumas cadeiras da garagem. Ele parece tão empolgado quanto o Gustavo, e não consigo evitar sentir meu coração aquecido ao vê-lo tão comprometido com tudo isso.— Acho que nunca organizei uma festa tão grande — ele comenta, me olhando com um sorriso cúmplice.— Não é tão grande assim. Só chamamos os amigos mais próximos, meus pais e seus irmãos — digo, tentando me convencer também.— Ainda assim, parece uma reunião de família completa — ele brinca, me puxando para um rápido beijo no rosto.Faz alguns dias que entramos no assunto de como iríamos comemorar o aniversário do Gu. Todo ano, ele comemora na escola, com os amigos e prof
CaíqueAcordo com o sol entrando pela janela, espalhando raios dourados pelo quarto. Viro para o lado e vejo Mayara ainda adormecida, os cabelos espalhados pelo travesseiro. Não consigo evitar um sorriso ao perceber que, depois de tantos altos e baixos, finalmente estamos aqui, juntos, planejando um futuro. E mesmo não sendo a primeira vez que acordo ao seu lado, ainda me sinto impactado com sua imagem.Levanto devagar para não acordá-la e vou até o quarto do Gustavo, que já está em pé, mexendo nos brinquedos.— Bom dia, campeão — digo baixo, entrando no quarto.— Bom dia, pai! Posso abrir esses presentes? — Aponta para alguns pacotes.— Pode ser depois? Precisamos comer.— Tá bom. Então, vamos tomar café? — ele pergunta, com os olhinhos brilhando.— Vamos. Só vou chamar sua