Dunyas eno Unyaah — A Viagem
Dunyas eno Unyaah — A Viagem
Por: Shirley Santos
Capítulo 1

Ao sair de porta afora, deparo-me com algo que somente na imaginação de artistas do grafite poderia existir, mas existe! Realmente existe, porque não estou delirando e, com certeza, ainda não enlouqueci!

O céu é num tom esverdeado claro, um gigante arco, que parece ser quase da mesma cor do céu, brilha fracamente contornando a imensidão verde como se fosse um anel envolvendo este planeta. Além disso, um sol gigante e branco brilha ao lado de outro amarelado bem pequeno que parece estar mais distante que o primeiro. Nossa! Meu pai do céu! Que céu é esse?!

Coloco uma das mãos fora da sombra da casa admirando os raios solares tocarem a minha pele. Engraçado, mas nessa luz, pareço mais branca ainda. Como pode?!

Não é só isso que prende a minha atenção, há várias construções de pedra com telhados em madeira e outras apenas de madeira como a casa do Zarphiruus.

Na verdade, pelo que posso perceber, é uma cidade ao estilo medieval, mas com uma boa concentração de pessoas andando de um lado para o outro com vestes do mesmo tipo que a minha roupa. Parecem muito atarefadas com os seus afazeres. A grande maioria delas parecem envolvidas com a agricultura, pois estão em carroças que carregam várias variedades de alimentos.

— Ei! Vai ficar admirando o céu e as casas até que horas, garota boba?  — O Rylo resmunga ao meu lado, me despertando do meu devaneio.

— Será que dá pra você parar de me chamar assim, gato vira-lata!  — encaro os seus olhos-esmeralda.

— Suba logo nas minhas costas para caminharmos.

— Nem pensar! Ainda me estou sentindo dolorida depois daquela corrida.  — minto descaradamente, não estou a fim de andar em cima dele. Não me acostumei com a ideia de que o meu gato doméstico é, na verdade, uma pantera gigante.

— Oi, Rylo! Quanto tempo!  — um rapaz de cabelo não muito curto, castanho escuro, aparentando ter mais ou menos a minha idade, se aproxima de nós. Logo atrás dele, outro garoto e uma garota, muito parecidos um com o outro, também aparentando ter a mesma idade que o outro menino. Acredito que o casal é de irmãos.

— Você sabe muito bem que tempo é algo relativo, Jorge.  — O Rylo responde, encarando o garoto.

— Quem é a garota, Rylo?  — A menina se aproxima de mim com um leve sorriso. Ela e o outro garoto são morenos, quase como o Júlio e possuem olhos na cor de âmbar.

— Esta é a Sara.  —  O felino responde. Engraçado, mas, por um momento, senti que o Rylo hesitou em dizer quem eu sou — Sara, estes são Jorge, Camila e Cristiano. Eles são aprendizes de feiticeiro.

— Sério?  — questiono franzindo a testa.

— O Zarphiruus nos trouxe pra cá depois que ficamos órfãos e começou a nos ensinar a arte dos nossos ancestrais.  — O tal Cristiano se pronuncia — O Jorge foi o primeiro a chegar, eu e a minha irmã chegamos dois anos depois.

— Já disse que o tempo é algo relativo, crianças.  — ouço a voz do Zarphiruus atrás de mim.

— Foi o que eu acabei de dizer para eles.  — O Rylo encara o feiticeiro — Falta muito para eles aprenderem certas coisas básicas.

— Tá! Tá! Nós sabemos!  — A Camila revira os olhos — Vamos começar logo com a aula de hoje, Zarphi.

— A aula de hoje será vocês acompanharem a Sara para que ela conheça o nosso lar.  —  O feiticeiro mostra um leve sorriso.

— Babá de criança, Zarphiruus! Você tá de brincadeira?  —  O Jorge franze a testa.

— Ei! Não sou criança e não preciso de babá!  — Quem ele pensa que é? Não sou criança, droga!

— Vocês vão fazer o que eu digo e sem questionamentos, agora vão!  — A voz de comando do Zarphiruus deixa os seus alunos cabisbaixos.

Realmente, não acredito que seja necessário eles me acompanharem, principalmente porque o Rylo iria fazer isso de qualquer maneira. Todos nos despedimos do feiticeiro, em seguida caminhamos pelas ruas largas e constituídas de paralelepípedos na direção norte, eu acho.

Noto uma floresta que circunda a pequena cidade, por quase todos os lados, o único lugar que não possui árvores é para onde nós seguimos.

Algumas pessoas montadas nos seus cavalos passam por nós, nos cumprimentando. Interessante, os aprendizes de feiticeiro parecem conhecer todos que vivem aqui. Subitamente, algo chama a minha atenção, um tigre gigante, assim como o Rylo, cruza o nosso caminho com uma mulher montada sobre o seu lombo e a pantera gigante fala algumas palavras para ele, mas não compreendo a língua.

— Você disse que não havia outros iguais a você.  — murmuro na orelha do meu felino depois que o tigre e a mulher se afastam.

— Eu disse que sim e não, garota boba.  — responde ao continuar a caminhada.

— Como assim? Não entendi!

— A minha espécie tem este planeta como origem. Somos Khalytiuuns e a verdade é que existimos desde antes da chegada dos primeiros feiticeiros, assim como outras espécies daqui. Todos somos criaturas de Eloah que nos fez durante a criação dos mundos.

— Acho que você confundiu mais ainda a minha cabeça porque o Zarphiruus falou que este planeta foi encontrado por um feiticeiro.

— Sim! Realmente, foi o Mervylli que nos encontrou, mas este planeta já era um dos domínios de Eloah e foi por isso que o Criador permitiu que ele e muitos outros viessem viver aqui. Alguns de nós decidimos ajudar os feiticeiros e os seus descendentes.

— Tá! Mas isso não responde a minha pergunta, por que disse sim e não quando perguntei se havia outros como você? Vai me dizer que só você possui magia?

— Exatamente! Quero dizer… Não me entenda mal, aqueles que escolhem proteger os feiticeiros também praticam magia, mas somente porque os feiticeiros lhes dão esses poderes e que, na verdade, nem são grandes feitiços assim. O que eu quis dizer quando disse não é que, na verdade, eu era um feiticeiro, mas uma bruxa me transformou num Khalytiuun quando ainda era criança, no mesmo dia que matou os meus pais. Depois me levou para ser seu escravo e, por muito tempo, fiquei servindo de cobaia nos experimentos dela até que finalmente consegui fugir. Vim para o lar daqueles semelhantes a mim onde conheci o Zarphiruus e decidi ficar com ele.

— Nossa! Que história! Então, na verdade, você é um garoto?

— Sim.  — diz encarando-me com os seus olhos-esmeralda.

— Ei! Espera só um minuto aí! Você me viu tomar banho várias vezes!  — paraliso no lugar franzindo a testa e o meu sangue começa a ferver de raiva.

— Opa! Conta essa história direito, Rylo! Como assim você viu ela se banhar?  — A Camila também questiona o felino e pela sua expressão, creio que ficou tão indignada quanto eu.

— Precisava cumprir o meu dever de guardião.  — Ele senta, encarando nós duas, parece que está sorrindo esse… Esse… Gato tarado está rindo de mim?!

— Ora, seu gato devasso!  — Antes que eu pudesse pensar nas consequências, dou um soco no focinho dele com toda força, derrubando-o no chão.

A minha vontade é de socar esse gato vira-lata, porém ele parece adivinhar a minha intenção de me jogar em cima dele para socar mais a sua cara, pois faz alguns gestos com a sua pata direita e faíscas verdes vêm na minha direção formando um escudo, protegendo-o de um possível ataque meu.

— Covarde!  — grito a plenos pulmões — Me enfrente sem a sua magia!

— Não! Obrigado, mas sou seu guardião e não o seu inimigo. Peço perdão pela minha indelicadeza, mas, naquele momento, não pensei muito sobre o assunto, no entanto, sei que fui muito…

— Devasso!  — A Camila exclama ao meu lado, acredito que ela também está com raiva do felino.

— Eu diria imprudente, mas tudo bem! Vocês podem ficar bravas comigo, pois estou consciente do meu erro. De qualquer forma, só vi você nua uma vez, nas outras, me virei antes de você tirar a roupa.

— Você acaba de entrar na minha lista negra, gato vira-lata! A sua sorte é que ainda não sei usar magia.  — afasto-me dele.

— Magia?  — Ele desfaz o seu campo de força esverdeado — Por que pensa que possui magia?

— Não foi por isso que me trouxe pra cá? Para ser mais uma aprendiz do Zarphiruus.

— Ah… É um pouco mais complicado que isso, mas… Agora, vamos continuar.

Droga! Esse gato é igual aos outros. Por que não me falam logo as coisas que pergunto? É sempre a mesma coisa! Isso está começando a irritar-me de verdade!

Continuamos a andar pela cidadela, mas o meu sangue ainda continua fervendo por saber o que esse gato vira-lata fez. Atrevido! Devasso! Por isso, faço questão de afastar-me dele e andar ao lado da Camila e o seu irmão, enquanto ele e o Jorge seguem na frente do grupo.

— Ah… Me respondam uma coisa. Por que o Rylo e o Zarphiruus disseram que o tempo é relativo?  — digo ao observar um puma gigante passear com uma moça e um garotinho no seu lombo.

— Porque o tempo passa diferente em cada um dos planetas que fazem parte dos domínios de Eloah.  — O Jorge responde ao virar para trás e me encara — Aqui, por exemplo, cinco dias é equivalente a um dia na Terra. Noventa dias na Terra é equivalente a um dia em Jeninbluut e Pharckiinzuus. Quanto a Sanirsckaah, dez dias lá é equivalente a um dia na Terra.

— Primeiro, acho que vou demorar pra decorar esses nomes estranhos. Segundo, se o tempo corre tão diferente nesses lugares, como vocês fazem pra calcular o tempo?  — questiono coçando a cabeça.

— Pra que fazer a contagem do tempo se somos quase imortais?  — O Cristiano responde sorrindo para mim.

— Como assim?

— Ele quis dizer que, por não sermos humanos normais, nós vivemos muito mais que eles, por exemplo, adivinha quantos anos terrenos o Zarphiruus possui?  — A Camila abre um meio sorriso.

— Sei lá, uns trinta e poucos.

Os três caem na gargalhada, fazendo as minhas bochechas queimarem. Qual é a graça? Por acaso disse alguma estupidez? Para mim ele parece ter mais ou menos isso.

— Ele tem exatos três mil e cem anos terrestres, garota boba.  — O Rylo responde ao se virar e encarar-me.

— O quê?!  — exclamo estridentemente, fazendo os três aprendizes de feiticeiros gargalharem ainda mais.

Qual é o problema deles? Estou começando a conhecer essas coisas! Como poderia saber? O Rylo se vira e continua a caminhar pela rua de pedras, acompanhado por seus amigos, deixando-me petrificada e com os olhos arregalados. Como pode um ser humano ter três mil e cem anos? Isso não é normal! Mas o que é normal neste mundo que estou conhecendo?!

Um estranho ruído metálico, que está vindo de uma rua do meu lado esquerdo, chama a minha atenção. Sigo o som entre os transeuntes, sem me importar com aqueles adolescentes risonhos e o seu amigo felino. Deparo-me com uma casa parecida com a do Zarphiruus, a única diferença é uma grande loja aberta para o público. Pelo menos, é o que parece, pois, tem objetos de metal por todos os lados e parecem que estão à venda.

O ruído é interrompido no momento em que entro no estabelecimento. Ao reparar nos objetos, poço diferenciar copos, pratos, tigelas, panelas e vários utensílios de cozinha, mas esses não são os únicos instrumentos presentes, há também outras peças de metal que não sei para que sirvam, apesar de ter reconhecido algumas ferraduras de cavalo.

— Em que posso ajudá-la?  — ouço uma voz grave do meu lado direito, ao virar-me, noto uma sombra de uns dois metros de altura no fundo da loja.

— Não quero atrapalhar o seu trabalho. Estou apenas olhando.

— Nunca a vi por aqui antes. Qual é o seu nome, criança?

— Acabei de chegar e estou hospeda na casa do Zarphiruus.

— Zarphiruus? Aquele bode velho ainda continua recrutando aprendizes de feiticeiro?  — A sombra começa a se aproximar e… Nossa! Meu pai do céu!

Uma criatura meio humana meio urso surge diante dos meus olhos. O que é isso? O seu rosto tem um pouco de semelhança com um humano mesmo com o focinho e, também, tem poucos pelos na sua face, porém o seu corpo é coberto por pelos negros. Pelo menos, acredito que seja, pois está usando apenas calça preta, além de um par de botas de mesma cor, isso sem contar que ele parece uma montanha de músculos.

As suas orelhas são estranhamente posicionadas no alto da cabeça, os seus olhos são na cor azul bem claro quase confundindo com a parte branca. Ok! Estou começando a acreditar que estou enlouquecendo!

— Não tenha medo, criança.  — diz quando começo a afastar-me  — Posso parecer uma fera, mas não sou. Bom, pelo menos, não quando estou fora de uma batalha. O meu nome é Worwyck e já lutei ao lado do Zarphiruus, isso quer dizer que sou amigo dele, então pode acreditar em mim quando digo que não vou fazer mal nenhum a você.

— Ah… Acho que… Não estava preparada pra ver alguém como você.  — pisco várias vezes.

— Realmente, acredito que sou um pouco assustador para alguém que jamais viu este mundo e todas as complicações envolvidas com ele. Vamos fazer o seguinte, que tal eu mudar essa sua primeira má impressão?

— Como?  — engulo em seco.

— Acabei o meu serviço por hoje e estava indo para o porto beber algo. Quer ir?

— Você disse porto?  — abro um leve sorriso — Tem mar por aqui?

— Mas é claro! Você gosta do mar?

— Sim! Gostava de ir na praia quando a minha mãe e eu morávamos no Rio. É claro que ia apenas no fim da tarde para observar as ondas, mas realmente amava fazer isso.  — A lembrança da minha mãe me faz murchar o sorriso. Preciso encontrar uma maneira de voltar para procurar por ela.

— O oceano aqui é um pouco diferente do que existe na Terra, logo vai perceber que este planeta é mais selvagem que o seu antigo lar, mas… você aceita o meu convite?

— Sim!  — digo sem nem pensar.

Ele veste um manto sem mangas negro, com capuz, bem ao estilo medieval que vai até os pés, em seguida partimos na direção sul, eu acho. Entramos na floresta que, na verdade, neste trecho é apenas uma estreita barreira entre a cidadela e as construções do porto que logo começam a aparecer.

— Ah… Como é mesmo o seu nome, senhor?

— É Worwyck.

— Me desculpa perguntar, mas… O que, exatamente, é você?

— Sou um Urlyack. A minha espécie é natural da Terra, mas com o crescimento da espécie humana, decidimos deixar o nosso lar. Os que resolveram deixar a guerra vieram para cá, enquanto outros foram para Jeninbluut e Sanirsckaah. Somos especialistas em lidar com metais, principalmente na fabricação da Acrux.

— Acrux?  — levanto as sobrancelhas.

— São as espadas usadas pelos anjos para destruir os demônios e os anjos caídos.

Ao nos aproximar cada vez mais do mar, vejo várias embarcações no estilo das antigas caravelas que velejavam pelos oceanos do meu planeta. Todas elas estão ancoradas um pouco distante da praia, mas o que realmente chama a minha atenção é o mar.

— Ah… Parece que o mar aqui é verde.  — digo ao voltar o meu olhar para o homem-urso.

— Se algum dia for navegar, vai perceber que as diferenças não ficam apenas na cor da água. Antes que eu me esqueça, tenha cuidado, pois, aqui você vai encontrar seres que deixaram a guerra, mas a guerra não deixou eles.

— O que quer dizer com isso?

— Outras criaturas vieram viver aqui depois que abandonaram a guerra, mas vai perceber que nem todas merecem, pois, continuam arrumando briga por qualquer motivo.

— Entendi, mas não se preocupe, não estou aqui pra arrumar uma briga, quero apenas conhecer o lugar.

Estamos na rua principal que fica de frente para o mar, caminhamos mais alguns metros, paramos em frente de uma construção que se parece com um sobrado feito de pedras.

— Lembre-se do que falei. — declara ao colocar uma das suas mãos, que só agora notei que possui garras afiadíssimas, na portinhola.

— Certo. — murmuro engolindo em seco.

Ao entrar, noto que o lugar é bem grande, bem iluminado com vários candelabros pendurados no teto, várias mesas com as suas respectivas cadeiras estão espalhadas por todo o ambiente, além de um grande balcão. Atrás dele várias prateleiras abarrotadas de garrafas de todos os tamanhos e cores.

Há um burburinho vindo de duas mesas que estão ocupadas com alguns homens e mulheres, outra que está ocupada com três figuras encapuzadas. Também há duas criaturas parecidas com o Worwyck, além de uma mulher, os três sentados em bancos no balcão.

O homem-urso me puxa pelo braço, sentamos numa mesa um pouco afastada das que estão ocupadas. O ruído de conversa é interrompido quase que automaticamente quando nos sentamos. Todos os presentes nos encaram. Nossa! O que aconteceu? Será que é por minha causa?

— Ei! Worwyck! Sabe que não é permitido crianças aprendizes na minha taberna. — reclama um homem com cara de poucos amigos que está atrás do balcão. Quem ele pensa que é para falar assim de mim?

— Não sou criança e nem aprendiz! — digo encarando o homem do bar.

Um dos indivíduos encapuzados se aproxima de mim como se estivesse flutuando. Ele chega tão perto que sinto o seu fedor, fazendo-me virar o meu rosto, mas logo volto a encarar a criatura e… Nossa! É muito parecido com o ser que vi no cemitério! E como aquele, esse faz a mesma coisa, me cheira como se eu fosse um delicioso pedaço de carne ou algum outro alimento saboroso.

— Ela realmente não é aprendiz, Franklin. É algo muito mais perigoso! Não é, criança? — A criatura sorri com a sua boca cheia de dentes pontiagudos.

— Já disse que não sou criança! — Antes que eu pudesse dizer algo mais, uma adaga é fincada na mesa de madeira entre a criatura e eu.

— Ela é minha convidada, portanto, não vou aceitar que seja maltratada! — exclama Worwyck também mostrando os seus dentes pontiagudos como se fosse rosnar para a criatura encapuzada.

De onde ele tirou essa adaga? A criatura se afasta lentamente encarando-o, em seguida volta o seu olhar para mim. Pela cara de poucos amigos que está fazendo, com certeza está com raiva.

— Por acaso você pensa que pode derrotar-me com essa adaga, Worwyck? — diz sem tirar os olhos de mim — Lembre-se que já faz muito tempo que deixou a guerra, além, é claro, que essa arma não poderia destruir-me.

— Não preciso te destruir, Noluckin, apenas te dar uma boa surra!

— Rapazes, não vamos começar uma briga na frente de tão jovem convidada. — diz uma mulher loira platinada e olhos esverdeados. Acredito que é a mesma que estava no bar — Aliás, quem é ela, Worwyck? — pergunta ao se sentar numa das cadeiras livres da nossa mesa.

— O meu nome é Sara. E… Por que você disse que sou perigosa? — questiono encarando a criatura encapuzada, enquanto se senta ao meu lado.

— Se não te contaram, não serei eu a abrir a boca. — responde após conter uma gargalhada horripilante.

— Qual é o problema de vocês adultos? — O meu sangue ferve com a resposta da criatura, dou um soco na mesa tão forte que chega a fazer um trincado nela — Por que nunca respondem o que quero saber?

— Calma, jovem Sara! — A mulher abre um meio sorriso — Que tal uma bebida e, assim, nos contar o que está acontecendo. Franklin, por favor, traga vinho e um suco para a jovem Sara. O meu nome é Monyck, sou uma feiticeira de quinta linha e essa coisa feia é o Noluckin, um demônio de centésima não sei o que linhagem.

— Mais respeito, Monyck! Sou um demônio de décima linha! — A criatura olha para a mulher com uma cara de poucos amigos.

— Coitado! Pensa que amedronta alguém por aqui? Agora, nos conte o que está acontecendo, jovem. — diz Monyck voltando a sua atenção para mim.

— E por que tenho que falar alguma coisa pra vocês? Um é um demônio asqueroso, além de fedorento, e você parece mais com uma bruxa.

— Hum! A jovem tem coragem! Gostei de você, garota! Sim, sou uma bruxa, se isso te satisfaz, mas deixei a batalha por estar cansada dessas picuinhas entre o Criador e os anjos caídos.

— Já que deixaram a guerra, por que o Noluckin não me diz o que sabe? — encaro os olhos negros do demônio.

— Acredito que o Zarphiruus deve ter os seus motivos para esconder as coisas de você. — O Worwyck coloca uma das suas mãos sobre o meu braço — Ele sempre foi muito sensato nas suas decisões e se não falou nada é porque ainda não está no momento de você saber. Agora, que tal você me dizer o que já aprendeu sobre o nosso mundo.

— Certo. — respondo resignada, afinal creio que nenhum deles realmente deve saber o que está acontecendo comigo ou com a minha mãe.

Também seja melhor mesmo mudar o rumo da conversa, pois tenho que me acalmar. Não sei direito o que está acontecendo comigo, mas a cada dia que passa, sinto uma raiva crescendo dentro de mim, além dessa força que desconhecia e que cresce na mesma velocidade da minha ira. O que será isso?

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