Capítulo 2

Comento sobre o que me falaram sobre os planetas, assim como o tempo que é relativo, além de falar da minha surpresa ao saber da real idade do Zarphiruus, este último item causa a gargalhada dos meus três acompanhantes.

— Tudo bem, jovem Sara, é muito normal se surpreender quando ouve as verdades do universo pela primeira vez, principalmente para alguém que foi criada entre os humanos comuns. — diz Noluckin após conter o riso.

O taverneiro finalmente coloca as bebidas sobre a mesa, então brindamos como se fossemos velhos conhecidos. Até que eles são legais, é claro que cada um à sua maneira. Quem iria imaginar que um dia beberia e também conversaria com uma bruxa e um demônio como se fossemos amigos de longa data? Isso é surreal!

Pego o meu copo e antes de beber olho para o líquido, é azul igual ao que bebi na casa do Zarphiruus, ao experimentar a bebida, percebo que realmente é o mesmo. É tão saboroso que bebo tudo num único gole!

— Vejo que gostou do suco de Irsluum. Quer mais? — O Worwyck pergunta abrindo um grande sorriso.

— O que você disse?

— Suco de Irsluum. É uma fruta que só existe neste planeta e é muito saborosa, não é?

Um frio percorre a minha espinha ao lembrar-me da bebida que o Zarphiruus me deu pela manhã. Neste momento, a portinhola abre e quem entra é o trio de adolescentes aprendizes com o Rylo.

— Finalmente te encontramos! — O Jorge pronuncia.

— Por que a trouxe para cá, Worwyck? — O Rylo questiona encarando o homem-urso.

No entanto, o que realmente me interessa é a bebida que acabei de engolir. Sinto o meu sangue ferver tanto quanto na escola, quando aquela hiena me deu uma bofetada.

— Rylo! — grito a plenos pulmões, assustando a todos — Aquele mentiroso! Safado! Feiticeiro idiota! O que ele me deu pra beber? Eu sabia que não deveria beber aquela coisa, mas ele mentiu pra mim! — jogo o copo metálico na cara do felino — E você também mentiu!

Levanto da cadeira e antes que ele pudesse dizer-me alguma mentira a mais, saio correndo na direção da cidadela. Ouço as vozes de todos atrás de mim, mas não dou a mínima atenção. Aquele feiticeiro mentiroso vai ver só uma coisa! Vou bater tanto naquele idiota que vai perder o rumo de casa!

Ao chegar perto da casa dele, noto oito figuras encapuzadas conversando com o Zarphiruus na frente da construção, porém isso não me detém e antes que ele pudesse perceber de onde veio o golpe, dou um soco nele jogando-o para longe.

No instante seguinte, pulo na sua direção, caindo sobre o seu corpo e dou vários socos na sua cara de feiticeiro idiota. Subitamente, o sinto mexer uma das suas mãos, no mesmo instante, faíscas na cor púrpura me arremessam contra a parede de uma construção alta do outro lado da rua de pedras.

Antes de cair no chão, o meu corpo fica preso por um escudo na cor púrpura. Parece que uma parede pesando uma tonelada está me espremendo contra a construção. Droga! Esse desgraçado está usando magia.

— Covarde! Me enfrente sem a sua magia! — grito com toda força — Feiticeiro mentiroso!

— Sara! — ouço as vozes dos meus supostos amigos de escola.

O Júlio, assim como os outros tiram os seus capuzes, além deles os professores Romeu, Shirley e Jaqueline também estão aqui. O que estão fazendo aqui? Vai me dizer que também são feiticeiros? Então, é por isso que os olhos do Júlio mudam de cor.

— Primeiramente, jovem Sara, quero te parabenizar, pois, faz muito tempo que alguém me pegou de surpresa num ataque, e, é claro, você tem um gancho de direita incrível, mas, agora, será que dá para me explicar por que me atacou? — O Zarphiruus fala ainda usando a sua magia com uma das mãos para me segurar, enquanto a outra massageia a própria cara.

— Solta ela, velho! — O Júlio grita com ele, pegando-o pelo colarinho — Ou você vai ver os meus verdadeiros poderes.

— Você é que deve soltar-me, garoto, ou verá porque sou um dos poucos da primeira linha ainda vivo!

Neste momento, o Rylo com os aprendizes de feiticeiro, mais os meus recentes e estranhos amigos aparecem.

— Júlio solte o Zarphiruus, agora. — O Rylo se coloca na frente do moreno — O causador disso tudo é o Worwyck. Ele deu suco de Irsluum para ela.

— E qual é o problema com o suco de Irsluum. — O Júlio liberta o feiticeiro, encarando o felino.

— Agora, entendo. — O Zarphiruus olha para o Worwyck — Olá, velho amigo! É bom te ver, apesar de ter causado um belo problema para mim.

— Será que dá pra me tirar daqui, seu feiticeiro mentiroso! — grito chamando a atenção de todos.

— Somente se prometer que vai se acalmar. — O Zarphiruus me encara levantando as sobrancelhas.

— Não vou prometer nada pra você! — O meu sangue ferve ainda mais com as palavras dele. Como pode isso? Sinto tanta raiva dele! — Vou te matar, seu velho mentiroso!

— Então, vai ficar mais um pouco aí até se acalmar.

— Me solta! — A minha respiração fica cada vez mais ofegante, enquanto o meu sangue ferve cada vez mais nas minhas veias.

Sinto um poder crescer dentro do meu ser e essa energia me dá forças, começo a movimentar o meu corpo lentamente dentro do escudo. Levanto as mãos no alto, no mesmo instante que o meu corpo começa a brilhar em tons de vermelho e prateado que se revezam a cada movimento que tento empurrar o escudo.

— Pare, Sara! — ouço a voz do feiticeiro mentiroso, no mesmo instante, o brilho cresce tanto que explode a barreira, me fazendo cair no chão.

Quando volto o meu olhar para o feiticeiro, vejo todos caídos, atordoados com a explosão. Nossa! Não pode ser que eu tenha causado isso a eles. O Júlio é o primeiro a conseguir se levantar e corre na minha direção.

— O que você fez, minha esquentadinha? — diz ao abraçar-me.

— Eu estava com muita raiva desse feiticeiro mentiroso. — murmuro abraçando-o com força.

— Calma, Sara. — Ele levanta o meu queixo para encarar os seus belos olhos azuis cristalinos — Senti tanto a sua falta.

Antes que eu pudesse dizer algo, ele me beija docemente, eis que algo extraordinário acontece. O seu beijo é como um balde de água fria em cima do fogo da minha raiva. Sinto-me tão tranquila e me esqueço de tudo ao nosso redor. Como pode um simples beijo acalmar-me tanto assim?

Uma gargalhada assustadora e estrondosa nos faz despertar para a realidade que nos cerca. Olho para todos os lados, assim como o Júlio. Noto que quase todos já se levantaram, os que ainda estão se levantando são os três aprendizes de feiticeiro.

— Que rizada foi essa? — A Alessandra e a Bianca falam ao mesmo tempo.

— Opa! Conheço muito bem essa gargalhada. — diz Noluckin parecendo muito preocupado, olhando de um lado para o outro.

— Isso não é bom! Também conheço essa gargalhada. — murmura Monyck e os seus olhos demonstram certo pavor.

O Júlio me ajuda a levantar, ouvimos uma nova gargalhada quando uma sombra gigante esconde a luz dos dois sois, além de uma gritaria entre as pessoas moradoras das casas vizinhas do Zarphiruus, que somente agora notei que estavam vendo tudo das suas janelas.

A sombra diminui quando uma criatura alada se aproxima e… Nossa! Não acredito no que os meus olhos estão vendo! É um dragão vermelho! Um dragão de verdade! Como pode?! Bom, nessa altura do campeonato eu não deveria ficar surpresa, mas é impossível não se surpreender com as criaturas que estou conhecendo.

O dragão pousa próximo da casa do Zarphiruus, fazendo com que todos recuem alguns passos. Quase que ele não cabe na rua inteira, uma bela mulher de cabelo negro e pele alva está sobre a fera alada como se ele fosse uma montaria qualquer.

Uma fumaça negra surge do nada ao lado do dragão, no exato momento que a bela mulher desce da fera. Então, surge outra mulher, também muito bela, de cabelo castanho-claro com finas mechas vermelhas.

— Olá, crianças! — declara a mulher que estava montada no dragão.

— Posso saber o que a rainha de Sanirsckaah faz tão longe de casa? — O Zarphiruus diz olhando para a bela dama.

— Apenas uma visita, meu querido Zarphi, afinal já faz muito tempo que não nos vemos, não é mesmo?

— Não há nada para você fazer aqui, Lilith.

— Engano seu, querido Zarphi. — Ela me encara, em seguida olha para todos que estão presentes — Interessante! Quatro feiticeiros, uma bruxa, um demônio, um Khalytiuun fajuto, um Urlyack, cinco pretensos nefilins e três aprendizes de feiticeiros. — Ela volta a sua atenção para mim, então começa a se aproximar — Parece-me, querida Sara, que está formando o seu próprio exército. Agora, só precisamos saber em que lado irá lutar.

— Não se atreva a tocar nela, bruxa! — O Júlio se posiciona entre nós duas.

— Querida Morgana, poderia fazer o favor de tirar o rapaz da minha frente. — A mulher murmura sem tirar os olhos do Júlio.

Faíscas vermelhas saem das mãos da outra mulher, atingindo o moreno, lançando-o para longe e prendendo-o na parede de uma construção, assim como o Zarphiruus fez comigo. O Rylo rosna para a mulher e salta na direção dela, mas ele também é atingido pelas faíscas vermelhas, porém permanece flutuando no ar envolto pela energia vermelha.

— Olá, gatinho! É bom te ver novamente, mas parece que você ainda não aprendeu que não se deve enfrentar-me com apenas força bruta. — A tal Morgana olha para o Rylo com um grande sorriso.

O Zarphiruus, em conjunto com a Shirley e o Romeu lançam raios nas cores púrpura e verde na direção da tal Morgana, fazendo-a se proteger com um grande escudo de energia rubra.

— Já chega! — A tal Lilith exclama estrondosamente fuzilando com o olhar todos os feiticeiros — Já disse que viemos apenas fazer uma visita!

Quase todos os raios sessam, apenas Morgana ainda mantém a sua energia segurando o Rylo e o Júlio, então a Lilith volta o seu olhar para mim.

— Então, querida Sara, o que está achando do seu verdadeiro universo? Fiquei sabendo que a sua ignorância foi quebrada depois de um encontro num certo cemitério, mas, principalmente, depois da sua fuga dos adoráveis cães de um dos meus leais e letais generais. Por falar nisso, como está a sua adorável mamãe?

— Minha mãe?!

— Sim! A adorável Maria. — diz ao acariciar o meu rosto com uma das suas mãos — Acredito que você deve estar louca para saber onde ela está, não é verdade?

— Você sabe onde ela está?

— É claro! A Maria está visitando alguns velhos amigos no meu lar. — diz ao abrir um grande sorriso.

Algo estranho acontece, os seus olhos cor de avelã começam a ficar vermelhos como sangue e os seus caninos crescem como presas de vampiro. Meu pai do céu! O que está acontecendo?! Isso tudo é um maldito pesadelo, só pode!

— Lilith, foi você que sequestrou a Maria? — O Zarphiruus questiona se aproximando de nós duas.

— Eu? Jamais sujaria as minhas mãos, querido Zarphi. — responde sem tirar os seus olhos dos meus — Mas se você desejar, doce Sara, pode ir nos visitar, assim como a sua querida mãe. — ela me cheira com os olhos fechados, em seguida me encara — Logo a sua cede será tão grande quanto a minha, criança, e ninguém conseguirá nos impedir de derrotar o Criador de uma vez por todas. Vamos embora, querida Morgana! Parece que não somos bem-vindas aqui, afinal.

A Lilith caminha lentamente em direção à fera alada. Após montar no dragão, ela volta a encarar o meu rosto, sorri levemente, então joga um beijo para mim, além de dar uma piscadinha.

Observo a grande fera alada desaparecer no céu, enquanto a Morgana se desfaz numa fumaça negra. O Júlio e o Rylo são libertados no mesmo instante que a bruxa desaparece. O moreno corre ao meu encontro, porém antes dele me abraçar, sinto uma fraqueza gigante, caio de joelhos e apoio as minhas mãos no chão. O que aconteceu? Num momento estou possuída por um poder enorme e no instante seguinte não me aguento em pé.

— Sara! — O Júlio me abraça, no mesmo instante que a minha cabeça começa a latejar forte e a minha barriga começa a doer — Você está bem? O que aquela bruxa fez com você?

— Não… Me sinto… Bem. — murmuro com a voz fraca.

— Venha! Traga-a para dentro, já! — O Zarphiruus abre a porta da sua casa.

O Júlio me carrega para dentro, o feiticeiro ordena que ele me deite na minha cama. Os dois se ajoelham ao meu lado, o velho mentiroso coloca uma das mãos sobre a minha testa.

— Merda! A febre voltou! Tenho que ser rápido!

— O que ela tem? — O Júlio questiona olhando para o velho, que se levanta e vai em direção à mesa.

Nossa! Só agora noto que todos entraram na casa, os seus semblantes são de extrema preocupação. Mesmo os dois que não eram para sentir qualquer compaixão em relação a mim ou qualquer outro. Será que a bruxa e o demônio realmente se arrependeram das perversidades que devem ter praticado?

Vejo o Zarphiruus pegar o mesmo copo de madeira que me deu pela manhã, assim como uma adaga, depois se ajoelha ao meu lado, puxa a manga da sua roupa, expondo o seu braço esquerdo.

— O que você vai fazer? — O Júlio questiona franzindo a testa.

— Ela precisa de sangue, e já!

— Não… — sussurro com a voz mais fraca ainda — Não… Sou… Vampira…

— É mais complicado que isso, Sara. Você vai morrer se não beber. — O feiticeiro corta o seu braço e um fio fino de sangue rubro escorre, caindo dentro do copo.

— Eu não entendo! Por que ela precisa de sangue? — O Júlio questiona encarando os meus olhos — Pensei que ela fosse como eu e os outros.

— Agora, não é hora para explicações. — O Zarphiruus encara os olhos do moreno.

Depois de alguns instantes com o seu sangue escorrendo vertiginosamente para dentro do copo, o feiticeiro fecha os olhos por alguns segundos e quando os abre, estão brilhando num tom púrpuro, troca a taça de mão e cobre o ferimento no seu braço com a mão direita, pronuncia algumas palavras numa língua estranha, em seguida cobre o vasilhame com a mesma mão e fala outras expressões que não consigo entender, depois o brilho púrpuro desaparece.

— Beba. — diz ao ajudar-me a levantar a cabeça.

— Não… — sussurro e viro o meu rosto, evitando que ele coloque a borda do copo nos meus lábios.

— Não seja teimosa como foi agora a pouco! Se tivesse me ouvido e se acalmado, não teria gastado toda a sua energia com uma bobagem.

— Você… É… Um… Mentiroso… — sinto a minha visão ficar turva, parece que a escuridão do sono está puxando-me para longe.

— Está sem forças até para falar! Por favor! Faça isso! Por sua mãe! — A voz do Zarphiruus parece desesperada, mas a escuridão está levando-me lentamente — Rápido! Ajude-me, Júlio! Estamos perdendo ela!

Sinto alguém me levantar, me abraçar pelas costas, em seguida levantam a minha cabeça no mesmo instante em que abrem a minha boca, um líquido quente e muito saboroso escorrega pela minha garganta. É tão gostoso o seu sabor! É o mesmo que a minha mãe me deu no copo do McDonald's. Então, desde o princípio, era sangue que eu estava bebendo.

— A febre dela está muito alta! — ouço a voz do Júlio perto do meu ouvido, no mesmo instante que o copo é afastado dos meus lábios. Estranho, mas parece que a escuridão desistiu de levar-me, pois, a sinto libertando-me gradualmente — Só isso será suficiente? Parece que está inconsciente.

— Não se preocupe porque ela ainda está consciente. — ouço a voz do Rylo bem próximo, parece que está na minha frente.

— Como você sabe? — Pela voz do Júlio, acredito que realmente o moreno está muito preocupado comigo.

— Porque posso sentir a consciência dela. Não é ouvir, antes que me pergunte, sinto ela pensando e nos ouvindo.

— Acorde, minha esquentadinha. Temos tanto o que conversar. — sinto o abraço forte do Júlio, além de um beijo na minha bochecha.

— O melhor mesmo é deixá-la descansar, o meu feitiço em conjunto com o sangue, vão fortalecê-la aos poucos. Deite-a novamente para que durma tranquilamente.

Dormir? Mas não quero dormir! Se bem que, algumas horas de sono seriam perfeitas. Antes mesmo de pensar em mais alguma coisa, já não sinto mais nada, pois a escuridão me abraça, me levando para o submundo do sono.

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