Seis

Os três jantaram tão animadamente, que Skyler foi capaz de esquecer todo o drama que sua vida carrega. Ela sorria, diante de cada coisa engraçada que Alex e Haley compartilhavam, de algumas saídas.

Quando Haley decide que é hora de ir embora, Skyler se despede com um breve aceno e se afasta, para deixar que os dois amigos se despeçam. Ela observa, quando eles cochicham algo e riem daquilo. Após um abraço caloroso, Haley deposita um beijo na bochecha de Alex e então se junta a irmã.

— Hal, eu posso fazer uma pergunta?

— Claro, Sky. — responde, ligando o carro.

— O Alex... quer dizer... vocês...

Haley ri. Ela já sabia qual seria a pergunta que sua irmã estava prestes a fazer.

— Não. — Haley responde, ainda rindo. — Eu e o Alex nunca aconteceu e nem vai.

— Ah...

— Sky? — ela o olha. — Eu sou gay. Gosto de mulheres.

Skyler quase se engasga. Ela não conseguia acreditar que sua irmãzinha, que amava pôneis cor de rosas, estava lhe dizendo que gostava de mulheres.

— Nossa... eu...

— Me deixa um pouco chateada, saber que você nunca notou. — ela diz. — Gosto de meninas desde sempre. Quando foi que você me viu com algum garoto?

Era verdade. Desde a escolinha, que Haley nutria mais carinho pelas meninas que meninos. No fundamental, foi quando percebeu que gostava de meninas. Um dos garotos a chamou para sair e ela aceitou, pois adorava conversar com a garota que trabalhava na lanchonete. Enquanto estava em seu encontro, no qual o garoto apenas falava de futebol, Haley observava a forma graciosa com que América andava pelo salão. Em como ela sorria, ao ouvir algum elogio ou agradecimento. Mas foi exatamente quando Tom tentou beijá-la, que Haley sabia que aquilo não era para ela. A sensação era de que seria capaz de vomitar tudo o que tinha e não tinha no estomago, incluindo o próprio.

Nunca passou de uma paixãozinha da lanchonete, mas Haley sempre soube o que queria para sua vida. No ensino médio ela descolou uns beijinhos escondidos, mas nada muito sério. Os moradores do Missouri, eram muito tradicionais. Embora tivessem pessoas assumidas na cidade, Haley não sabia se aguentaria a pressão daquele povo. Na faculdade, ela se libertou. Conheceu Andréa, uma francesa toda perfumada e cheia de amor para dar. Enfim, teve sua primeira experiencia sexual. Não duraram, uma vez que Andréa voltou para Paris e a bloqueou de todas as coisas.

Haley decidiu viver o presente e não se apegar a mais ninguém. Além de trabalhar muito, ela pegava várias e não se apegava a ninguém.

— Desculpe. — Skyler diz, sentindo-se mal, por não ter prestado atenção em sua irmã. — Eu...

— Relaxa, Sky. Não estou chateada de verdade.

Skyler acena, embora não consiga lidar com aquilo. Ela viveu tanto tempo à mercê de Stephen, que esqueceu de todo o resto. Esqueceu de viver sua própria vida e principalmente, de saber sobre sua irmã.

— Animada para amanhã? — Haley pergunta. — Será um baita evento.

— Você sabe que tipo de evento é esse?

— Olha, até onde eu sei, será lançamento de uma linha de joias. Estará repleto de pessoas importantes. E o Alex estará lá também.

— Eu sei. Ele disse.

Skyler não nota, mas Haley tinha um sorriso travesso nos lábios. Ela havia entendido a pergunta de sua irmã, sobre ela e Alex, como um possível interesse. Quando na verdade, Skyler só queria saber um pouco da vida de sua irmã mais nova.

— Você precisará vestir roupas sociais. Eu acho que tenho algo para emprestar.

[...]

— Eu não posso usar isso. — Skyler diz, em total reprovação a roupa que sua irmã mostrava. — Eu estou quase na casa dos trinta, não posso.

A roupa em questão, era um vestido preto e justo. Ele tinha as alças grossas e um detalhe no busto, que deixaria os seios de Skyler quase saltando para fora. Chegando próximo ao joelho, tinha um pequeno corte. Era deslumbrante e social ao mesmo tempo.

— Você ainda fará vinte e nove, Sky. Para de graça.

— Hal... e essas marcas? — ela questiona, passando as mãos pelos braços. — Tenho que usar algo que cubra tudo.

Haley revira os olhos e caminha até sua penteadeira. Ela logo retorna segurando uma base e um pó.

— Se prepare para o milagre.

A garota passa um pouco de base por cada marca visível nos braços e seios de sua irmã. Após alguns minutos, maquiando as agressões sofridas, Haley vira a irmã para diante do enorme espelho que havia ali. Skyler encara admirada, a obra de arte que sua irmãzinha foi capaz de fazer.

— Meu Deus... — ela murmura, tocando o braço com cuidado. — Não dá para ver nada... você é genial.

— Claro que sou, irmãzinha. E então? Se sente mais disposta a usar o vestido?

Skyler pega o tecido em suas mãos e coloca na frente do corpo, tentando visualizar como ficaria ali. Ela até gostava do que imaginou, mas o cabelo que tinha no momento, a deixava com a autoestima mais baixa do que costuma estar.

— Hal... você... — ela tenta encontrar palavras, enquanto mexe no cabelo toro. — Conseguiria melhorar isso?

— Se senta aí.

Haley vai até o banheiro e pega uma tesoura na gaveta da pia. Ela volta até sua irmã, que já está sentada a sua espera e começa a consertar o estrago que estava aquele cabelo.

— Por que ele cortou? — Haley pergunta.

Skyler suspira, com as lembranças recentes preenchendo sua mente.

— Eu estava sentada diante da TV, fazendo uma trança. Eu gostava de colocar em alguns tutoriais no youtube, para aprender formas de trançá-lo. Eu juro, juro que não ouvi Stephen chegar. Ele estava completamente bêbado, como todos os outros dias. Começou a gritar comigo e quebrar cada vidro que encontrava na frente, dizendo o quão inútil eu era. Stephen gritava que eu só sabia ficar mexendo no cabelo e o quanto ele odiava aquilo.

Ela pausa, para recuperar o folego. Lembrar daquilo novamente, embora não fizesse muito tempo que tivesse ocorrido, a machucava intensamente.

— Ele me puxou pelo cabelo, até o banheiro do quarto. Stephen pegou uma tesoura e começou a cortá-lo, de qualquer jeito e violentamente. Dei muita sorte, em ele não ter me cortado ou furado. Você sabe que eu sempre cuidei do meu cabelo muito bem e amava cultivá-lo. De todas as violências que sofri, essa foi uma das mais dolorosas.

Haley sentia uma dor profunda no coração, ao ouvir o relato de sua irmã. Ela se sentia culpada, por ter ido embora e deixado ela para trás. Principalmente por nunca ter notado, o quão manipulador e violento seu cunhado era.

Ela abraça Skyler e deposita um beijo em sua bochecha molhada.

— Vamos prometer uma coisa aqui? — Skyler assente. — Nunca mais, falaremos de Stephen ou tudo o que você passou. Tudo bem? Daqui por diante, só falaremos de coisas boas. Você já tem em que trabalhar amanhã e tudo irá se encaixar, você vai ver.

Skyler sorri e se vira para abraçar fortemente, a única pessoa capaz de amar e cuidar dela, da maneira que merece. Por enquanto.

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