Cap.03

Fiquei praticamente duas horas, enrolando a minha amiga para a grande surpresa do dia. Minha função era distraí-la, enquanto sua mãe organizava tudo para o momento especial.

Dona Helena fez o sinal e todos nos encaminhamos para a frente da casa. Carla ficou chocada com o presente que ganhou dos pais. Um carro Mini Cooper Roadster, conversível branco, com um gigantesco laço vermelho em cima. Minha amiga mal conseguia conter os gritos de felicidade, abraçou os pais, ficou em pé no banco de trás, emocionada e toda sorridente. Foi maravilhoso participar desse momento!

Consegui me despedir da eufórica Carla e de todos os convidados, em seguida fui embora. Durante a volta para a minha casa, meu celular tocou. Era a minha mãe, atendi logo a ansiedade me consumia para contar a novidade sobre meu novo emprego!

— Oi, mãezinha!

— Oi filhota, estou morrendo de saudades. Como você está?

Percebi estar sentindo muita falta de ouvir a voz da minha mãe, onde meus pais trabalham, o sinal para celular é ruim e eles passam a semana trabalhando na fazenda dos (Oliveiras).

— Ah mãe, estou tão feliz! Consegui um emprego.

Expresso minha felicidade.

— Obrigada meu Deus! Orei muito, minha filha! Ainda bem que você conseguiu um emprego, as coisas aqui estão piores a cada dia. A chuva de granizo acabou com as plantações. Infelizmente dez funcionários foram demitidos.

— Nossa, e se vocês ficarem desempregados? Bom... Vocês ainda têm a opção de morar aqui. — Tentei persuadi-la.

— Não, minha filha já falamos sobre isso. — Meus pais são aqueles típicos caipiras do interior que detestam a capital. — Adivinha quem veio nos visitar no final da semana passada?

— Não faço ideia, dona Maria. — Sorri.

— O Alex, ele disse que sente saudades e que um dia ainda vai casar com você.

Soltou a péssima notícia, inocentemente toda feliz, eu não a culpo.

Não contei o motivo do fim do meu namoro. Para ela, Alex é um homem bom e de família, foi o que ele demonstrou para os meus pais. O infeliz! Vai continuar sonhando, porque comigo ele não vai casar.

— Como está o Breno? Ele nunca mais me ligou.

Mudei o rumo daquela indesejada conversa, perguntando pelo meu irmão.

— Está bem, minha querida. No domingo Breno e Alex foram assistir ao jogo no estádio. — Revirei os olhos, frustrada.

— Ah, que legal! — Tentei disfarçar — Mãe, eu preciso ir, cheguei à frente do meu apartamento. Beijos, depois eu ligo, te amo.

— Chegamos, senhorita. — O motorista me avisou.

Desliguei o celular, peguei vinte reais da bolsa e entreguei-lhe.

— São vinte e cinco reais, senhorita. — Franzindo o cenho, eu o encarei desacreditada.

— Você só pode estar de brincadeira, que absurdo! Antes do almoço eu paguei o mesmo valor, para fazer o mesmo trajeto.

Um olhar mortal foi lançado em minha direção, preferi não discutir. Peguei mais cinco reais da bolsa e joguei com força em sua direção.

— SUA MAL EDUCADA! — Esbravejou.

— SEU LADRÃO! — O repreendi, abri a porta e desci do carro com ódio e sem olhar para trás.

Esses motoristas pensam que ganho dinheiro fácil! Como podem ser tão sacanas? Paguei vinte reais por uma corrida rápida hoje pela manhã e, agora, me cobram vinte e cinco reais. Ladrões!

Exausta, me joguei na cama. Estava furiosa com o motorista do aplicativo e odiando o Alex. Quem ele pensa que é? Depois de tudo que me fez passar, ainda tem a audácia de frequentar a casa dos meus pais e sair com o Breno, como se ainda fossem cunhados. Ah! Se Breno soubesse quais eram as intenções do Alex comigo, eu teria dó da surra que ele levaria do meu irmão.

O Breno é mais velho que eu, ele tem vinte e quatro anos, é alto e forte o suficiente para quebrar em pedacinhos, cada parte magra do corpo fino do meu ex namorado.

Alex é um homem bonito, inteligente e de família rica. No entanto, é um filho da mãe, sem escrúpulos.

***

Despertei assustada do meu sono tranquilo, com o barulho chato do meu despertador. Esfrego meus olhos, com o dorso das mãos, bocejo ainda sonolenta, rolo na cama, antes de me levantar para ir ao banheiro com os cabelos bagunçados.

Retiro meu pijama surrado e em seguida tomo um banho, mega animada com minha entrevista na casa dos Ferris.

Espero que minha falta de experiência e indicações em outros empregos, não me atrapalhem a ocupar a vaga. Até mesmo, porque a senhora Bárbara garantiu que o emprego é meu.

Saio do banheiro enrolada em uma toalha, abro o guarda roupas e escolho uma calça jeans. Retiro do cabide uma blusinha rosa, folgada e com alças finas, nada de decotes. Prendo meus longos cabelos em um famoso rabo de cavalo, aplico uma maquiagem leve no rosto e finalizo com um gloss rosê nude.

Depois de o último motorista ter me cobrado um valor abusivo pela corrida, optei por ir de ônibus. Caminhei até uma parada e logo passou um. Ainda bem que hoje tudo está indo a meu favor, meu transporte chegou em dez minutos.

Chego em frente à linda casa de vidro, com o suor escorrendo em minha testa. Como aqui é um condomínio para ricos, a linha do ônibus não passa na área, todos tem seus carros. Tive que andar três quarteirões até chegar na casa dos poderosos Ferris. Dois toques na campainha, uma senhora super educada e sorridente, me recebeu.

— Entre, o senhor Maurice está lhe esperando no escritório.

Merda! "Ai não, não... onde está a loira simpática que iria me entrevistar hoje"?

Entro e me encanto com a beleza da casa, na sala havia um enorme sofá em "L" num tom marrom-claro fosco. As paredes eram pintadas em branco, móveis de madeira, toda a decoração era rústica, exalando riqueza em cada detalhe. Tinha uma parede falsa com uma TV enorme, supus que tivesse umas 60 polegadas. Fiquei surpresa quando vi que era uma parede falsa, atrás dela estava uma sala separada. Deve ser o escritório do senhor Ferri.

Caminhei lentamente, observando cada detalhe da linda casa. Paramos em frente à porta de madeira, a mesma que a senhora bateu três vezes.

— Entre.

A voz carregada do outro lado da porta responde. A empregada simpática sorriu e acenou com a cabeça, saindo em seguida. Respirei fundo e girei a maçaneta com a mão tremulando.

O senhor Maurice estava sentado em uma poltrona do outro lado da mesa, com seus braços apoiados sobre ela, me observando atentamente.

— Bom dia, Senhor Ferri.

O cumprimentei de longe, num tom sério. Ele gesticulou para eu me sentar à sua frente.

Ainda bem, pois estava com minhas pernas moles devido ao nervosismo, não sei até quando iria conseguir sustentar meu corpo, ficando em pé.

— Bárbara teve que viajar com urgência, por isso eu vou fazer sua entrevista. — Acenei que sim.

— Você trouxe algum currículo, Melinda? — "Oh droga".

— É... eu, eu, não senhor Ferri, — Arfei cabisbaixa, em pura frustração.

— Qual é a sua idade, Melinda?

O encarei, seus olhos me encaravam semicerrados, moveu sua cabeça deixando-a  de lado, enquanto me fitava com um olhar curioso.

— Tenho dezenove anos.

Balbuciei nervosamente, enquanto o imperioso mantinha sua postura autoritária.

— Certo, pelo menos é maior de idade. — Pigarreou — Você tem experiência como babá, senhorita Melinda?

— Não.

— E como sabe lidar com crianças?

— Eu já disse que dou conta!

Resumi o fato espontaneamente, o observei arquear uma sobrancelha.

— Hum, veremos senhorita! — Ele me entregou uma folha de papel. — Leia — acrescentou.

Alimentação:

07:00 hs: cereal com leite.

09:00 hs: frutas ou suco de maçã verde. (As frutas precisam variar a cada dia)

11:00 hs: almoço.

12:00 dormir...

Atividades:

15:00 hs: parquinho do condomínio.

Duas vezes vezes por semana levá-la à empresa, para visitar o papai e a mamãe. Nas quintas feiras, a professora particular de estudos virá para ensinar Sophia.

Aviso importante!

Sophia é alérgica a dipirona, amendoim e camarão. Não pode tomar banho de chuva, Sophia tem bronquite alérgica.

— Uau, quanta coisa!

Ofeguei, e ainda não tinha terminado de ler tudo.

— Tomar conta de uma criança não é como brincar de bonecas, Linda! Se você acha que não dá conta, é só sair por aquela porta que fica logo atrás de você!

Apontando para a porta com sua voz ríspida, ele falava friamente, tentando me tirar do sério, mencionando bonecas outra vez tratou-me como se eu fosse uma garotinha.

"Put4 que pariu! Esse homem não sabe nada mesmo sobre mim, se soubesse ao menos de onde eu vim..."

— Eu não sou uma garotinha como você pensa, senhor Ferri. Você não sabe nada sobre mim, mas vou te adiantar, de onde eu vim as pessoas não têm medo do trabalho, somos humildes, porém, trabalhadores!

E continuei minha cerimônia, vendo-o ficar ainda mais sério. Falava sem tempo para respirar, enquanto ele me observava com os olhos arregalados.

"Agora ele vai me ouvir".

— De onde eu vim, ainda criança, eu cuidava dos meus primos para minha tia trabalhar. E MAIS, eu tinha apenas dez anos quando comecei. Não fujo de trabalho, senhor Ferri.

Inalei o ar e voltei a encará-lo ainda mais encorajada.

— Se não me quiser aqui na sua casa, me avise que irei embora. Mas se me deixar ficar com o emprego, eu te mostro como dou CONTA SIM, de cuidar de uma criança.

— Acho bom a senhorita abaixar o tom de voz para falar comigo.

Bradou ríspido, me fez piscar os olhos devido seu tom seco.

— Não se esqueça que você está em uma entrevista de emprego e não discutindo com seus amiguinhos,quem vai ser a mamãe e quem vai ser o papai.

Foi irônico em suas palavras. A ignorância dele era tão espontânea, que seus cílios nem sequer tremeram enquanto falava.

Naquele instante, tive certeza que havia passado dos limites. Oh, Deus! Seus lábios carnudos formam uma linha fina, eu definitivamente o tirei do sério.

— Hoje você está com sorte Melinda, pois estou paciente, tirei o dia de folga e você terá uma oportunidade. É isso que você quer?

— Sim, quero e preciso! — sucinto.

— Muito bem! Ficarei o dia inteiro observando tudo. Se eu vir a competência que você diz ter, a vaga é sua. — Soltei o ar, aliviada!

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo