Cap.02

— Até que enfim uma babá que a Sophia goste. Amanhã, você poderia passar em minha casa, para tratarmos do assunto? Se você aceitar, é claro.

Como não aceitar? Estava desesperada por um emprego, morrendo de medo de atrasar as parcelas da faculdade. Estava vendo meus sonhos descerem por água abaixo.

Ter que voltar para São Carlos, sem meu diploma, não é uma opção. Eu toparia qualquer trabalho honesto para me manter aqui na cidade. Ainda tem o fato de eu amar crianças, será um trabalho prazeroso!

— Sim, sim! Eu aceito!

Respondi rapidamente, tentando conter minha euforia, um sorriso satisfatório automaticamente se formou em meus lábios. Meus olhos brilhavam, a senhora Bárbara colocou a mão no peito e respirou fundo, ela parecia estar aliviada com a minha resposta.

— Vamos querida, sente-se para almoçar com seu querido "papai" ele está vindo.

A senhora Bárbara falou com a filha sobre o pai e o "papai" soou com desdém. Senti um clima pesado e fingi não perceber, pois, a vida pessoal deles, não me interessa.

— Bom, com licença, eu vou voltar para a minha mesa.

Eles sinalizaram com a cabeça concordando, eu saí de lá, para perto da Carla.

— Mel, você pode ir buscar duas cervejas para nós, por favor? Enquanto eu me sirvo de um pouco mais de churrasco — Carla me pediu, com um olhar presunçoso. 

Entrei na cozinha mexendo no meu celular e fiquei enojada quando vi uma mensagem do Alex.

"Oi, podemos conversar? Tanto tempo se passou espero que não esteja me odiando".

Fiquei inojada com a ousadia daquele traste. Depois de tudo que ele fez, ainda quer conversar? Ele que converse com a piranha da Eliza.

Continuei andando entretida com a mensagem, enquanto caminhava apressada pela enorme cozinha. De repente, senti meu pequeno corpo bater contra uma imensa parede de músculos que estava à minha frente, com o impacto acabei sendo derrubada no chão.

— Você não deveria mexer no celular enquanto caminha, garota! — Bradou um tanto irritado.

Devo ter batido forte minha cabeça no chão, morri e fui parar no céu? Que diabos! Que homem lindo era aquele? Nossa Senhora da Bicicletinha, me dê equilíbrio!

O homem é alto, cabelos desgrenhados num tom castanho-claro, olhos na cor avelã, lábios carnudos e a boca desenhada perfeitamente em formato de coração. Trajado em uma bermuda branca e uma camisa vermelho carmim gola "V" meia manga coladas em seus braços musculosos.

— Desculpe-me.

Minha voz saiu praticamente num sussurro! Ele estendeu o braço para me ajudar a levantar, sem esforço algum me puxou, como se meu corpo fosse uma afronta à lei da gravidade e não tivesse peso algum.

— Não precisa se desculpar, só tome cuidado por onde anda garota. — Me olhou sem expressão alguma olhos, me senti intimidada com seu tom rouco e estrondoso. Ele piscou um olho e deu as costas, indo para a porta dos fundos.

Caramba! Esse é meu futuro patrão, pai daquela menina linda. Ela tem os traços dele, até o lindo desenho da boca. Agora, sei de onde ela herdou tanta beleza.

"Que a nossa senhora das mulheres derretidas me segure, pois, eu estou desmanchando na cozinha".

Entretanto, ele é um homem casado e não quero me envolver numa encrenca desse tamanho, jamais! Fugindo dos meus pensamentos, foquei na bebida que a Carla me pediu, peguei duas cervejas bem geladas e voltei para o jardim.

Sentindo-me constrangida, voltei para onde a Carla estava. Minha amiga não disfarça em momento algum, ela olha descaradamente para o marido da senhora Bárbara. Sorrio da distração da minha amiga, no entanto, não é só a Carla que está comendo o homem com os olhos, às duas tias dela também estão quase deixando a baba escorrer pelo canto da boca.

Sophia parecia muito feliz com a presença do pai. Eles brincaram e correram pelo jardim, ele parece ser um ótimo pai. Os olhares e risos emanam a reciprocidade do amor e do carinho entre ambos. A senhora Bárbara não se importa com a alegria dos dois, ela é indiferente, não aparenta ser aquele tipo de esposa e mãe babona que admira cada momento feliz em família.

— Olha amiga, eu não te mostrei o lindo CEO no ramo das joias — Carla pega no meu braço e acena com a cabeça em direção ao senhor Ferri.

— Amiga, acabei de levar um tombo na cozinha. Ao esbarrar nele, caí e ainda tive o desprazer de ouvi-lo me chamar garota!

Revirei os olhos e peguei um abridor de garrafas que estava sobre a mesa e abri as cervejas, tomo um gole generoso na tentativa de aliviar minha tensão.

— Céus, não acredito! — Carla arregalou os olhos e tapou a boca com as mãos, para abafar as gargalhadas, minha amiga não parava de rir de mim.

— E tem mais, graças a você, ele é meu futuro patrão. — Arqueei uma sobrancelha, encarando minha amiga e questionando-a. Ela virou a cerveja e quase esvaziou a garrafa.

— Não acredito! Você vai ser a babá da pentelha, filha daquele Deus grego?

— Sim e graças a você! Eu tenho que te agradecer, Carla, eu realmente estou precisando muito de um emprego. — Minha amiga sorriu contente que graças a ela, eu não corro mais o risco de voltar para o interior derrotada.

— Ahhh, eu fico feliz em ter te ajudado amiga, nem sei o que seria de mim sem você aqui na cidade. Minha mãe falou que eles são bons pagadores e que a última babá que trabalhou para eles, recebia dois salários para cuidar da Sophia.

— Nossa, então tenho que te agradecer pela segunda vez. — Dei uma abraço nela, realmente estava super satisfeita com meu emprego.

— A parte boa dessa história é que eu vou ter uma desculpa para ir lá ver você. — Carla fala cheia de malícia e bebendo sua cerveja, sem parar de olhar o senhor Ferri. Eu ri muito da minha amiga.

— Carlinha, você deixou cair algo no chão... — Rafael diz, apontando com o dedo em direção aos pés da Carla.

— Onde? O que eu perdi? — Carla inocentemente olhou para o chão à procura de algo.

— A sua vergonha, você perdeu, está quase comendo o cara bombado com os olhos. — Dessa vez até eu ri da mancada da Carla.

— Vai procurar o que fazer, idiota! E ele não é bombado — deu de ombros.

Sophia e o pai pararam de brincar e se juntaram à mesa, onde estavam os pais da Carla e a senhora Bárbara. Ela me olhava sorridente e ocasionalmente acenava com suas pequenas mãozinhas.

Os pais dela notaram a simpatia que ela tem por mim, tanto, que senhora Ferri falou algo para o marido e ele me olhou. Acredito que ela deve ter falado sobre a nova babá, no caso eu. Depois a madame voltou a concentrar-se na conversa com a senhora Helena, senti um alívio, no entanto, quando voltei a olhá-los de longe me surpreendo.

O senhor Ferri continuou a me observar, seus olhos estreitaram como se estivesse me analisando, se a intenção era me intimidar, ele conseguiu com maestria. Fiquei constrangida, desviei o olhar na tentativa falha de me distrair com as conversas da Carla e dos meninos, mas eu sentia que ele ainda me observava e meu corpo esquentou de uma forma estranha, senti vergonha, como se eu estivesse sendo despida.

Olhei de soslaio para ter a certeza de que ele ainda estava me olhando e para o meu desespero, o homem ainda se mantinha concentrado em mim.

Ele quebrou um pouco o gelo quando esboçou um leve sorriso para mim, eu fingi que não era comigo, dei as costas e avisei para Carla que iria ao banheiro. Precisava sair daquele lugar com urgência!

Segui para dentro da casa com minhas pernas moles, parecia geleia se desmanchando. Entrei e fui direto na geladeira em busca de mais uma cerveja, abri a pequena garrafa e tomei quase todo o conteúdo, como se fosse o último líquido do mundo.

Segui para o banheiro, passei pela imensa sala e enfim cheguei. Precisava molhar um pouco o rosto, para esfriar minhas bochechas que estavam pegando fogo. Antes de sair, dei uma conferida rápida no espelho, minhas bochechas estavam parecendo um tomate de tão vermelhas. Retoquei o meu batom e saí.

Estava caminhando pela sala, voltando para a cozinha, com a cabeça baixa quando, pela segunda vez, esbarro no senhor Ferri. Dessa vez, ele estava se servindo de whisky e provavelmente, não toma cerveja.

— Se vai tomar conta da minha filha, é melhor ser mais atenta, não acha? — Puta que pariu, o que esse homem faz aqui? Mais uma vez, demonstrei o quanto sou desastrada!

— Não vou decepcioná-los, senhor Ferri. — Tentei soar naturalmente.

— Me chame de Maurice, por favor. — Ele me interrompe e sorri enquanto leva o copo à boca, me hipnotizando de forma instantânea com aquela boca convidativa.

— Ok, Maurice. Obrigada por me darem a oportunidade de trabalhar com aquela linda menina, ela é um encanto!

Senti meu rosto corar novamente. Carla tem razão quando diz que esse homem faz uma mulher molhar a calcinha facilmente. Sua voz rígida mexe com meu íntimo, me causando arrepios. Ele ficou me observando, enquanto eu falava, mas seus olhos estavam conectados em meus lábios, muito mais do que qualquer outro canto.

— Será bem divertido, senhorita Melinda. — Meu nome soa em sua voz carregada de sedução. Não acredito que estou tendo pensamentos luxuriosos com um homem casado, que frustrante! Preciso me concentrar em meu trabalho e nos meus estudos.

Ele encheu seu copo novamente e saiu sem avisar. Fiquei pasma, observando aquele monumento sair, enquanto ganhava um tempinho recuperando meu fôlego. Pensei na lógica, não seria legal sair de dentro da casa com ele. O que iriam pensar? Não gosto nem de imaginar!

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