Doce como Mel {11}

Depois do que aconteceu naquela noite em que eu definitivamente não estava a raciocinar direito quando deixei que ele me beijasse, Benjamin foi embora me deixando confusa e perdida em meus pensamentos

Depois do que aconteceu naquela noite em que eu definitivamente não estava a raciocinar direito quando deixei que ele me beijasse, Benjamin foi embora me deixando confusa e perdida em meus pensamentos. O que dificultou o meu sono, pois eu não parava de pensar no beijo, e até mesmo me julgar por ter deixado que aquilo acontecesse.  No outro dia, todos nos encontramos no mesmo local para tomar café, exceto Benjamin que não estava lá, pelo visto ele foi fazer algo importante assim que acordou. Todos me parabenizaram pelos meus dezoito anos, mas ainda assim, eu me sentia aflita. Eu não sabia como reagir após encontrá-lo, e como para me perturbar, um pouco antes do almoço, no qual tínhamos marcado de passar em um bistrô italiano muito conhecido e famoso, íamos ir em um jardim botânico, e foi neste momento que eu o encontrei.

Ele estava nos esperando logo em frente ao Hotel, inclinado em seu carro com um cigarro na boca, parecendo perdido em seus pensamentos. Não trocamos nenhuma palavra durante o caminho, mas eu pude perceber que ele me olhava pelo retrovisor de vez em quando, e aquilo me deixou nervosa pois eu não sabia ao certo como me comportar após todos os acontecimentos, e ficava ainda mais nervosa ao pensar em como ele iria se comportar em relação a mim. Quer dizer, eu sei bem que ele está acostumado a lidar com garotas, mas não é como se eu fosse uma das quais ele já lidou alguma vez.  Se eu pudesse e tivesse coragem, eu iria pôr rapidamente um ponto final nessa história e esquecer que um dia já chegamos a nos beijar. Mas isso é praticamente impossível quando nem por um momento os meus pensamentos deixam de lado a sensação dos seus lábios nos meus. E eu ficaria muito envergonhada de ter que falar com ele com meus pensamentos tão sujos.

Assim que chegamos no jardim, que irá servir de base para entendermos e pesquisar sobre espécies de flores e plantas que definitivamente se diferem das do Brasil, Cristina me entregou um bloco de notas, contando comigo para este trabalho, já que eu era a mais experiente com relação a isso.

— Eu acho que se a gente se separar, vamos conseguir terminar isso a tempo da nossa reserva no bistrô. — Cristina sugere, caminhando mais a frente que todos nós.

— Bom, isso é verdade. Podemos adiantar muito se nos separarmos. — Respondo e ela se vira na minha direção com um sorriso, dessa vez encarando os dois logo atrás de mim e esperando pela opinião deles.

— Eu não entendo nada sobre isso. — Benjamin responde e Tadeu assente.

— Nem eu.

— Como os dois não são muito úteis, podemos nos separar em dupla. Tadeu vem comigo e Benjamin pode lhe acompanhar.

Mordo meu lábio tentando não demonstrar o meu descontentamento com essa situação. Mas é claro que ela faria algo assim, eu deveria ter previsto e dizer que preferia que ficássemos todos juntos. Mas agora é tarde demais pois Cristina e Tadeu vão para um caminho diferente do nosso, e eu me vejo ali sozinha com Benjamin, que estava alguns passos à minha frente.

— Está usando a pulseira; — Ele comenta assim que eu me ajoelho em frente a uma Margarida dinamarquesa, tirando uma foto da sua beleza e em como até mesmo eu gostaria de tê-la caso houvesse uma festa. — Pensei que não iria gostar, mas acho que acertei.

Viro minha cabeça em sua direção, tentando decifrar o porquê de ele achar que eu não gostaria. É um presente, sendo ruim ou bom, não sou uma pessoa de fazer desfeita.

— Realmente me encantou… A pulseira, é claro; — Me corrijo limpando a garganta, já me levantando e voltando a caminhar. — Não te vi durante o café da manhã. — Comento tentando disfarçar a minha curiosidade enquanto eu anoto no bloco de notas o nome de uma planta exótica.

Leva algum tempo até que ele responda.

— Tinha assuntos importantes para resolver.

Olho em sua direção novamente e vejo ele acender um cigarro, o que me faz arregalar os olhos e entrar em alerta.

— Mas o que você pensa que está fazendo? — Questiono incrédula e logo tiro o cigarro da sua mão, o jogando no chão e pisando para o apagar. — Você se faz de cego? Tinha uma placa avisando que é proibido fumar.

Ele tem um sorriso de canto em seus lábios, o que faz com que eu me sinta ainda mais aborrecida.

— Eu não me importo com as regras, ruiva.

Respiro fundo, tentando me concentrar em não passar dos limites e acabar soando grossa.

— Eu também não me importo se você não segue regras, mas me importo com a vida de todas essas plantas. Por isso, você vai guardar o cigarro e irá fumar quando bem entender depois que sair daqui.

Seu sorriso se alarga ainda mais, e eu ergo a minha sobrancelha sem conseguir entender o porquê de ele achar isso engraçado.

— Tudo bem. Já disse que gosto quando você se solta? Você fica até fofinha quando está brava.

Sinto as minhas bochechas corarem violentamente e eu desvio o meu olhar para que ele não perceba

— Eu não estou brava...

O resto do passeio no Jardim botânico pode ser resumido em um Benjamin silencioso e perdido em seus pensamentos. Pelo o que parece, as coisas que ele teve que resolver essa manhã ainda estão mexendo com a sua cabeça. Continuei anotando e tirando fotos de espécies de plantas tropicais e exóticas, nas quais eu tinha certeza que seria proveitosa para a floricultura. Após terminarmos, fomos o mais rápido que pudemos para o restaurante, com o medo de perdermos a nossa reserva e acabar por nem conseguir experimentar os pratos servidos lá.

Assim que chegamos, eu tive a confirmação de que Cristina não estava brincando quando citou que esse bistrô era um cinco estrelas, muito lindo e famoso. No meio do restaurante tinha um enorme salão, e as mesas ficavam ao redor, todas exalando riqueza, lustres espalhados pelo teto, garçons super bem vestidos e com uma postura que nem mesmo eu tinha. Mesmo longe, dava para perceber que as pessoas que estavam ali eram de uma classe muito superior à minha, na qual eu jamais me encaixaria. Em contraste com todas aquelas pessoas, eu usava um short jeans de cintura alta, um cropped branco e uma jaqueta jeans, que apesar de ser uma das roupas mais decentes que eu comprei com a "ajuda" de Benjamin, meu pai ainda arrumaria motivo para mim jamais a usar.

Enquanto uma mulher nos levava até a nossa mesa, eu senti olhares sobre a gente, o mesmo olhar de superioridade na qual eu estava acostumada.

— Você está linda.

Eu senti a voz de Benjamin sussurrar próxima ao meu ouvido enquanto uma de suas mãos pousaram em minha cintura. Neste momento eu estava corada, mas eu não consegui evitar de olhar em sua direção, para ver ele com um sorriso em seu rosto. Sorrio de volta desviando o meu olhar, sentindo um peso sair dos meus ombros, por algum motivo que eu não saberia especificar. A recepcionista nos levou até uma mesa próxima a parede de vidro que nos dava uma bela vista da cidade que é Milão, onde podíamos ver vários prédios e algumas construções dignas de um prêmio por serem tão lindas. Todos apreciamos aquela sensação, e principalmente a comida que nos foi servida, que foi uma escolha de Benjamin e Tadeu, já que os dois já tinham vindo aqui e já sabiam dos melhores pratos baseados em nossos gostos. Eu fiquei feliz, pois eu estava saboreando uma comida maravilhosa com uma vista maravilhosa, em uma cidade e país dos sonhos, logo no meu aniversário de dezoito anos. O marco em minha vida que deveria ser a minha liberdade de escolha, mas em relação a isso eu já não tinha certeza, mas com isso em mente, eu prometi a mim mesma não pegar tão pesado e deixar as coisas fluírem, assim como a conversa que tivemos naquela mesa, onde Cristina avisou que ela e Tadeu tinham um presente para mim assim que chegássemos de volta ao Hotel.

Benjamin continuava um pouco distraído, e eu estava já me sentindo apreensiva por pensar se ele estava me evitando. Quer dizer, eu sei que o mundo não gira ao meu redor e que há vários outros motivos para ele parecer preocupado, mas eu já estava começando a imaginar se eu não fiz algo errado e ele não gostou, e agora só está me evitando. Bem, eu não desejo que ele tenha gostado do beijo, mas eu me sentiria muito mal e constrangida em saber que eu fui péssima. Para mim foi algo tão… mágico. Mesmo que errado.

Tínhamos voltado ao hotel e eu estava sentada na sala de Cristina, onde eu tive a confirmação de que os quartos eram idênticos. Tadeu estava sentado ao lado de Cristina e eu estava no sofá oposto, sozinha, já que Benjamin tinha um compromisso. Tentei não pensar muito sobre isso e me concentrei nos presentes à minha frente. Eu já estou muito agradecida por eles terem se lembrado de mim, mesmo sem saber o que eles compraram. Assim que abri o presente de Cristina, me surpreendi ao me deparar com um perfume importado da França, assim como ela fez questão de dizer. Surpreendentemente, o perfume era doce, bem como eu gosto, eu imaginava que seria algo mais forte e marcante. Tadeu não conhecia os meus gostos, mas ainda assim foi um belo presente, e muito caro pelo visto. Ele me presenteou com um lindo colar de pérolas, no qual eu faria questão de usar ainda nesta viagem, só para poder aproveitar do meu presente já que eu sei que o meu pai não aprovaria.

Com a desculpa de ser o meu aniversário, Cristina fez pipoca e brigadeiro e logo pôs um filme para assistirmos. A minha primeira impressão do filme, foi um romance um pouco diferente, e eu estava curiosa, então eu fui a que mais comeu brigadeiro e pipoca, porém em um certo momento do filme a minha opinião sobre ele acabou por se recair. Meu Deus, o filme tinha tantas cenas explícitas, e eu fiquei tão envergonhada por estar vendo aquilo… Por mais que Cristina quisesse que eu visse aquelas cenas… Eu fechei os meus olhos em todas, sem conseguir entender como as pessoas viam aquilo com tanta normalidade. Quer dizer, duas pessoas estão nuas e fazendo essas coisas… Meu Deus, eu sequer sabia como isso acontecia, mas após esses filmes eu tinha certeza que aquelas cenas tinham me traumatizado ao ponto de eu lembrar do que eles faziam com clareza.

O último filme já estava prestes a acabar, e eu logo inventei a desculpa de ir no banheiro somente para não ter que assistir mais cenas como aquelas, e eu estava até mesmo disposta a ficar lá até o filme acabar, torcendo para que eles não notassem a minha falta. Eu estava durante todo o filme com a consciência pesada, preocupada ao lembrar que meu pai jamais permitiria que eu visse tal coisa.

Assim que cheguei no banheiro e tranquei a porta, eu fui logo na pia jogar uma água em meu rosto para me refrescar. Minha mente entra em alerta assim que eu ouço uma voz conhecida vindo da sala, e logo após uma voz feminina, que eu também reconhecia. Benjamin e Pietra… Os dois parecem estar rindo junto com Cristina e isso fez com que eu sentisse um aperto no peito. Eu não queria ficar pensando sobre isso, mas ontem à noite ele me beijou… quer dizer, eu não vejo problema nenhum em ele ficar com uma garota, mas está parecendo que ele só quer me beijar e usar de mim sempre que a sua modelo não está por perto.

Respiro fundo e me sento na tampa da privada, frustrada por pensar dessa forma. Olho para a pulseira em meu pulso, passando meus dedos delicadamente sobre os pingentes fofinhos no qual eu me senti genuinamente emocionada ontem. Mas agora eu não quero que ele me veja usando isso e achando que foi algo importante. Não… não quero dar esse gosto, por isso a tiro do meu pulso e a guardo no bolso do meu short.

Os risos deles aumentam e eu ergo a minha sobrancelha me perguntando como alguém poderia rir vendo um filme tão… obsceno como aquele. Isso só me confirma o quão fora da caixa eu sou. A forma que eu penso e tento não me deixar levar pela emoção, isso me torna um pouco excluída de todos, já que eles agem bastante movidos pela emoção. Me lembro de vários momentos da minha infância e adolescência em que eu via todas as meninas ou meninos rodeados por companheiros, rindo, jogando bola, brincando de boneca, andando de bicicleta e até mesmo marcando para sair uma na casa das outras. Eu nunca tive uma experiência de amizade. Nunca tive alguém para chamar de amiga, para pentear o cabelo uma da outra, sair juntas, nem que fosse na igreja ou compartilhar segredos e dores. A verdade é que eu sempre fui sozinha, contando somente com a companhia da minha mãe, já que eram raras as vezes que eu via todo o resto dos meus familiares. Eu acho que parte desse fardo é completamente meu. Apesar da criação que meus pais me deram, eu sempre fui uma pessoa estranha, cheio de defeitos e erros. Mas bem, acho que essa sou eu.

— Tem alguém aí?

Por algum motivo estranho, ou talvez porque eu tenha estudado um pouco da língua italiana, eu estava entendendo completamente o que Pietra perguntou logo após bater na porta.

Alan estava certo, aquele livrinho faz milagres.

— Já estou saindo. — Aviso sentindo a voz um pouco falha, e me olho na frente do espelho, percebendo que minhas bochechas estavam molhadas por lágrimas, que eu logo trato de limpar.

— Desculpa, é que eu já não estava mais aguentando. — Ela se explica com um sorriso sem graça assim que eu abro a minha porta.

— Tudo bem…

Dou espaço para que ela possa passar e logo saio do banheiro, me sentindo um tanto quanto mal pelos meus próprios pensamentos. Ela fecha a porta atrás de mim e eu fecho os olhos, me preparando mentalmente para voltar para sala e ter que lidar novamente com essa situação. A verdade é que eu quero ficar sozinha em meu quarto e aliviar toda essa apreensão que estou sentindo em meu peito.

— Deve ter deixado isso cair.

Me viro para trás ao som da sua voz e percebo que ela segura a pulseira que Benjamin me presenteou.

Encaro a pulseira em sua mão, quando todos os meus pensamentos recentes e depreciativos de repente voltam com bastante força. Quer dizer, ele gosta dela, esse presente tão significativo deveria ser dela, não?

— É muito bonita. — Ela murmura o estendendo na minha direção com um sorriso.

Isso o que estou prestes a fazer… é o certo?

— Ah, você pode ficar, tenho certeza que vai combinar muito mais com você.

Seus olhos se abrem de surpresa, mas logo um sorriso se desenha em seus lábios mais cheios, e ela me encara abaixando sua mão.

— Muito obrigada, é realmente muito linda. Mas tem certeza disso?

Eu tenho? Pois neste instante eu estou sentindo o meu coração doer em meu peito. Isso não deveria fazer diferença para mim, já que é só um presente, mas a verdade é que agora eu tenho certeza de que ele não iria se importar de que essa pulseira ficasse com ela, até mesmo por que é dela que ele gosta.

— Sim, não se preocupe.

Ela assente com um sorriso e fecha a porta do banheiro novamente. Respiro fundo passando a mão pelo cabelo, de repente me sentindo mal pelo o que eu acabei de fazer. Ele me deu porque era o meu aniversário, e bom, nem nos conhecemos direito então não devo sentir como uma obrigação usar aquela pulseira. Até mesmo por que o meu pai implicaria sobre esse presente.

Me viro determinada a passar direto pela sala e ir para o meu quarto, quando eu me bato de frente com dois ombros largos, que me seguram rapidamente.

— Opa! — Levanto o meu olhar que se encontra com o de Benjamin, e eu logo sinto aquela mesma sensação de nervosismo. — Você está bem? — Ele pergunta analisando o meu rosto e eu assinto, me desvencilhando dos seus braços.

— Desculpe, eu estou com pressa; — Limpo a garganta desviando o meu olhar do seu, me sentindo sem graça e com as batidas do meu coração mais rápidas que o normal. — Eu tenho que ir.

Saio dali quase que correndo, passando diretamente pela sala e ignorando Cristina que havia me chamado. A verdade é que eu realmente sou muito estranha, mas está tudo bem, contando que eu continue assim somente até voltar da viagem com o dinheiro da minha mãe. Por ora, terei que enfrentar esse luau que eu nem mesmo queria ir. Por isso fiquei em meu quarto, me preparando fisicamente e mentalmente para ter que fingir estar bem, porque de verdade, eu sentia que algo iria explodir em meu peito.

Quando deu a hora eu já estava pronta e logo seguimos para a praia, onde nos sentamos ao redor de uma fogueira enquanto estava tendo um pequeno show ao vivo muito próximo da gente. O homem no violão estava cantando uma música de Johnny Cash chamada Hurt. Eu estava com um sorriso no rosto, pois aquela canção estava acalmando toda a tempestade em meu coração. A sensação e a tranquilidade que eu senti foi algo tão bonito que por um minuto eu esqueci os problemas que me rodeavam.  Somente com o som do mar se quebrando e a brisa salgada que balançava o meu cabelo. Mas assim que a última nota da música foi tocada, a realidade voltou repentinamente, me fazendo repensar sobre o que eu realmente estava sentindo.

Benjamin estava sentado ao lado de Pietra em um tronco próximo ao meu, Tadeu estava sentado à minha direita, sentado ao lado de Cristina, e eu estava mais próxima do músico do que qualquer outra pessoa, observando e ouvindo suas canções com pura admiração.

E foram essas mesmas canções que desviaram a minha atenção da mão de Benjamin na perna de Pietra, que estava com sua mão sobre a dele. A mesma mão que estava com a minha pulseira, o que só me fez ter certeza de que ele não se importava se eu tinha dado o seu presente para outra pessoa.

A baia do meu macaquinho branco estava a balançar com o vento, e eu estava me sentindo maravilhada nele, pois o mesmo nasceu para estar em meu corpo, mesmo que ele precisasse de uns ajustes como aumentar o tamanho.

Assim que eu levantei o meu olhar, eu vi a cena de Pietra deitando sua cabeça no ombro de Benjamin, e aquilo foi suficiente para me levantar e dar uma desculpa qualquer para me afastar um pouco dali, ainda segurando o copo com algum líquido que eu não fazia ideia, mas tinha certeza que Cristina me deu algo com álcool. Eu sabia que estava quente, mas eu logo me apressei em deixar que aquela bebida deslizasse pela minha garganta, me reprovando por estar desobedecendo as regras que me foram impostas e me reprovando ainda mais por que mesmo no meu aniversário de dezoito, eu me senti mal com algo assim. Quer dizer, está tudo bem se eu não gostar de beber, mas eu não sei, pois eu nunca bebi, e somente não bebo pois o meu pai provavelmente me expulsaria de casa.

Mas me esqueço disso, após tirar a sandália que eu usava, eu comecei a caminhar pela beira do mar, sentindo a areia molhada sob os meus pés e as ondas do mar se quebrando bem a minha frente. Aquela sim era uma sensação digna de um paraíso, é quase como se eu estivesse experimentando a liberdade. E qual foi a última vez que eu me senti assim? Paro de frente para o mar, sentindo a leve brisa salgada bater contra o meu rosto e balançar o meu cabelo, enquanto um sorriso se forma em meu rosto. Fecho os meus olhos, tentando o máximo levar os meus pensamentos juntos com o mar, de uma forma leve e deliciosa, pensando em como ele é grande e incrível, e como eu gostaria de ser assim também. Isso me faz pensar em como a vida é só uma, e eu deveria tentar aproveitá-la. Mas…

Meus devaneios são interrompidos pelo som do toque do meu celular vibrando em meu bolso, e logo aquela imersão se quebra. Pego o meu celular notando que é do hospital.

— Alo?

Atendo sentindo um aperto em meu peito, me sentindo preocupada pois já é de noite.

— Mel, aqui é Belinda, a enfermeira que supervisiona a sua mãe. — Ela murmura e eu assinto, me recordando dela.

— O que houve? Está tudo bem com ela? — Pergunto prendendo o pingente entre os meus dedos, torcendo para que não tenha acontecido nada demais e ela esteja bem, firme e forte como eu sei que ela é.

— Não aconteceu nada realmente de grave, porém após alguns exames foi constatado que o estado dela não está do melhor. Às vezes ela dá sinal de melhora, mas logo após ela fica completamente instável. Eu não posso fazer nada além de apoiá-la e tentar aliviar a sua dor com antibióticos, mas você mesmo sabe que isso não é garantido. Precisamos começar o tratamento o quanto antes, caso contrário...

Solto um suspiro fechando os meus olhos e abaixando a minha cabeça.

O que eu poderia fazer? Eu já estou aqui nessa viagem, e tudo o que posso fazer por ora é esperar que Cristina tenha o dinheiro em mãos para me pegar e eu conseguir dar o início ao tratamento, para assim poder juntar com as minhas economias que estavam reservadas para a minha faculdade.

— Obrigada Belinda, eu ligarei com melhores notícias, mas… Por enquanto, não a deixe sozinha, por favor. — Peço com a voz por um fio, sentindo as lágrimas quentes em meus olhos.

Encerro a ligação e encaro as estrelas sentindo minhas bochechas esquentarem pelas lágrimas que deslizam pela mesma. Tudo aquilo que eu estava acumulando em meu coração, guardando para mim mesma, tudo voltou tão de repente como um soco no estômago e a única forma de fazer essa dor cessar foi deixar que o primeiro soluço escapasse pela minha garganta.

Sento na areia quando sinto que perdi as minhas forças. Eu não aguentaria perder a minha mãe e no momento eu sinto como se estivesse carregando esse fardo sozinha no mundo.

— Mel? — Sinto uma mão em meu ombro e logo trato de limpar as minhas lágrimas. — Você está bem?

Olho para o lado me deparando com Cristina, que está agachada ao meu lado me olhando com preocupação.

Suspiro, pensando sobre a sua pergunta. O que me aconteceu? Eu estou me sentindo preso e sufocada, é isso.

— Eu… quero me divertir, de verdade. Como nunca antes.

Seus olhos se abrem em surpresa e ela assente, me ajudando a levantar.

— Tem certeza que é disso que precisa? Se quiser podemos voltar para o hotel. — Ela sugere mas eu balanço minhas cabeça para os lados, negando, me sentindo mais decidida do que nunca sobre isso.

— Eu nunca estive tão certa na minha vida. Eu quero me conhecer, e não vou conseguir fazer isso se todos os meus passos ficarem restritos aos do meu pai. — Murmuro com a voz firme, com uma determinação que eu nunca ouvi de mim mesma.

Esse era o momento que eu iria decidir sobre mim mesma. Iria descobrir se eu sou o tipo de pessoa que gosta de festa ou não. Quero ver até onde posso ir e me conhecer de verdade. E se eu estiver errada sobre isso… então tudo bem, eu ainda tenho a minha vida com o meu pai quando eu voltar para casa. Mas eu sinto que quero me libertar dessa jaula que eu vivo constantemente.

— Isso é ótimo. Eu sei de um lugar que vamos nos divertir até o amanhecer sem cansar. Não se preocupe, não vai ser nada perigoso. Mas antes disso; — Ela começa, me entregando o seu copo que está cheio de alguma bebida alcoólica e me olha de forma sugestiva. — Bebe isso, vai precisar; — Ela pisca para mim e eu encaro o copo, decidida. Sinto a bebida deslizar pela minha garganta e limpo a garganta, sentindo o quão amarga ela é quando está gelada. — É isso, garota!

Logo eu vejo Tadeu, Benjamin e Pietra se aproximando da gente.

— Está tudo bem? — Tadeu pergunta, me olhando com seu cenho franzido, parecendo preocupado.

— Você nem imagina como estamos bem! Vai pegar o carro que hoje vamos para uma festa de verdade! — Cristina exclama e logo todos nos olham surpresos.

Somente sorrio timidamente, de repente achando isso engraçado.

— Uma festa…? — Benjamin questiona baixinho, como se para si mesmo.

— Exatamente. É o meu aniversário de dezoito anos, eu quero me divertir! — Exclamo sentindo minhas bochechas corarem com os olhares de todos sobre mim.

Benjamin franze o cenho não parecendo gostar da ideia quando Cristina aparece na minha frente, me segurando pelos ombros.

— Hoje você vai saber qual o verdadeiro significado de diversão.

Essa foi a última coisa que eu consegui registrar na minha mente, pois tudo após isso é apenas um fragmento da minha memória. Com muita dança, música alta e muita bebida.

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