Doce como Mel {10}

Na manhã seguinte, os raios do sol estava atravessando a janela do meu quarto, indo diretamente em meu rosto. Fui dormir com muita relutância pensando nos últimos acontecimentos, principalmente nas palavras de Benjamin. Eu não sabia como me sentir, por isso estava confusa, ao mesmo tempo em que estava eufórica por ele praticamente ter dito que me achava atraente, eu sabia que aquilo era errado e que eu não devia aceitar tão bem as suas palavras. Eu nunca duvidei da minha aparência, mas jamais acharia que seria o suficiente para atrair alguém como Benjamin. E por este mesmo motivo que eu acho que ele só esteja brincando comigo.

Por isso acordei me sentindo atordoada, sem saber ao certo o que fazer em um país desconhecido. Somente fiz as minhas atividades matinais. Escovei meus dentes, lavei o meu rosto e tomei um banho. Já estava vestida com uma blusa branca, uma saia cinza e um cardigan branco de lã, e uma botinha sem salto que eu percebi que várias pessoas estavam usando, prestes a ir até o local de encontro, onde iríamos tomar café quando resolvi dar uma olhadinha no meu celular. Não havia nada demais, além de uma ligação perdida do meu pai que eu propositalmente resolvi ignorar, pois eu sabia que não conseguiria falar normalmente com ele após todos aqueles acontecimentos. Aproveitei a chance para ligar para a minha mãe, querendo saber como a mesma estava se sentindo, e apesar de ela não parecer animada, Belinda me avisou que o seu quadro não tinha nem melhorado e nem piorado, e de certa forma eu fiquei tranquila. Fiquei sabendo também que o meu pai a visitou somente uma vez desde que eu fui embora, passando boa parte do seu dia na igreja, e ouvir isso partiu o meu coração. Minha mãe provavelmente estava se sentindo sozinha, mas ela jamais imporia a sua vontade sobre a do meu pai, por isso estava sofrendo em silêncio. Após dizer que eu estava torcendo para a sua melhora e que a amava, eu terminei a ligação, decidida a ir para o local de encontro para tomar café onde Cristina nos avisou ontem à noite.

Cheguei na área da piscina e avistei todos sentados em uma mesa próxima a piscina, e entre as mesas com alguns aperitivos para se servir. A mesa em que estavam sentados estava logo embaixo de uma alta cabana branca com traços dourados, por isso foi fácil descobrir onde estavam. Enquanto caminho até eles, eu percebo que há uma pessoa a mais na mesa. Uma mulher, magra, provavelmente alta com a pele bronzeada e um enorme e liso cabelo negro, sentada ao lado de Benjamin.

— Bom dia. — Cumprimento a todos, me sentando ao lado de Cristina, que me lança um sorriso aberto.

— Mel, deixa eu lhe apresentar. Essa é Pietra, uma amiga de Benjamin, ele acabou se encontrando com ela. Você acredita que ela trabalha numa agência de modelo? — Cristina exclama entusiasmada e eu sorrio fracamente não me sentindo confortável pois sei que eu sou péssima em socializar com as pessoas.

Pietra fala algo em italiano, com um sorriso na minha direção, porém Benjamin se aproxima um pouco mais dela para sussurrar algo em seu ouvido. Tenho certeza que ele deve ter avisado que eu não falo italiano. Benjamin a puxou ainda mais para perto dele, pondo uma de suas mãos sobre a coxa da garota, e aquilo realmente me incomodou, não por um grande motivo, mas sim porque eu quase tinha me deixado levar por suas palavras de ontem. Eu sou tão ingênua mesmo…

Eu não sei se estava fazendo aquilo de propósito, mas em um certo momento seu olhar se encontrou com o meu e ele tratou de depositar um beijo no canto da boca da garota, logo após ela rir de algo que o mesmo falou. Apesar de eu já ter perdido a apetite com essa imagem, eu fiz o meu pedido, torcendo para que eu não ficasse enjoada toda vez que lembrasse disso.

Todos tomavam café animadamente na mesa, exceto eu que não entendia nada do que eles estavam falando. Até mesmo me surpreendi com Cristina que parecia ter alguma noção do idioma. Por isso desviei o meu olhar de todos eles, tentando pensar ou fazer algo interessante, até que os meus olhos se encontram com os de um garoto que está sentado numa mesa afastada, junto com uma mulher e um homem mais velho, e ele parecia estar tão distante dos seus companheiros quanto eu. Ele tinha tatuagens e até mesmo piercing, e pelo olhar no seu rosto, estava de mau humor. Talvez eu estivesse o encarando demais…

— O que acha de dar um mergulho na piscina? Não tem quase ninguém. — Cristina sugere me tirando dos meus devaneios e eu logo volto a minha atenção a eles.

É… talvez eu realmente estava o encarando demais.

Limpo a garganta refletindo se é uma boa ideia eu ir para a piscina uma hora dessa.

— Eu não sei… — Respondo não me sentindo animada para isso, quando Cristina revira os olhos e Benjamin me interrompe.

— Eu posso te acompanhar; — Benjamin se vira para Pietra, que tem seu olhar curioso sobre a gente. — Cosa ne pensate del bagno in piscina?

— Sì! Una grande idea.

— Isso! Vamos pôr nossos biquínis. — Cristina murmura animada, se levantando da mesa e estendendo a mão para Pietra, que a segura e as duas saem dali como duas amigas íntimas. Bem, o que eu não consegui em anos Pietra conseguiu em apenas minutos, confirmando o fato de que eu sou péssima em socializar.

— Eu vou pegar uma bebida mais leve. Algum de vocês dois querem? — Tadeu pergunta já se levantando da mesa.

— Não, estou tranquilo. — Benjamin responde e eu somente balanço minha cabeça para os lados, negando com um sorriso fraco no rosto.

Tadeu se afasta, me deixando sozinha com Benjamin, onde eu logo me arrependo de não ter aceitado dar um mergulho na piscina. Sinto o seu olhar sobre mim mas eu não me atrevo a olhar na sua direção, de repente me sentindo chateada, e é quando eu volto a olhar para o mesmo garoto, que dessa vez tem a sua atenção em um celular e parece extremamente entediado.

Cristina e Pietra voltam rapidamente com seus corpos deslumbrantes cobertos somente por aquela peça de roupa tão minúscula, e confesso sentir inveja do quanto elas poderiam vestir qualquer coisa e ainda assim continuariam deslumbrantes. Sinto uma pontada no peito quando Benjamin se levanta e vai até as duas, que estão na borda da piscina conversando sobre algo engraçado. Benjamin chega por trás de Pietra, se agachando onde ela está sentada, agarrando a mesma pela cintura com um sorriso. Eu observo essa cena um pouco atordoada, não entendendo o porquê de eu estar sentindo esse desconforto em meu peito.

Me levanto subitamente, disposta a parar de observa-los e fazer algo que distraia a minha mente, por isso vou direto para a mesa de aperitivos, onde eu pego alguns docinhos para experimentar, e quando estou com o que parece ser biscoito de goiaba, eu sinto alguém se aproximar.

— Mi stavi fissando.

Olho para o lado, curiosa e me perguntando se falaram comigo, quando eu vejo o mesmo garoto que eu estava olhando a poucos minutos, me encarando com curiosidade.

— Ah! Ai meu Deus, como eu posso explicar? — Exclamo sem conseguir falar em italiano para que ele possa entender, e ele somente me lança um sorriso divertido. — No… hablo italiano. — Murmuro pausadamente e seu sorriso se alarga.

— Então você é brasileira. Me desculpe, é que você seria facilmente confundida com uma italiana. — Ele comenta e eu abro os meus olhos de surpresa por ele saber falar português.

Mas o que ele quis dizer comigo ser facilmente confundida com uma italiana.

— É que você segue o mesmo padrão das italianas. Pele mais branca que o normal, olhos claros e magra. Isso é muito comum aqui. — Ele suspira olhando ao redor e eu sigo o seu olhar, percebendo que realmente a maioria das mulheres segue este mesmo padrão.

— Verdade, mas elas são altas. — Comento pondo um doce em minha boca, ele sorri assentindo.

— Por isso achei estranho; — Ele responde também pegando um doce da mesa enquanto eu o observo curiosa. — Aliás, eu me chamo Alan. Você deve estar se perguntando porque estou te incomodando. Bom, eu posso tentar resumir, mas jamais vou conseguir explicar o que se passa na cabeça dos meus pais. Mas eles insistiram que tinha uma bela moça me encarando e que eu devia aproveitar essa oportunidade. Não me leva a mal, mas estar com uma desconhecida é melhor do que fazer companhia a "família feliz".

— Ah, desculpe, eu só estava pensando; — Murmuro enchendo minhas mãos com vários daqueles doces e me volto para Alan, que sorri achando a situação engraçada. — Eu me chamo Mel, e na verdade eu acho que fui abandonada pelos meus amigos. — Digo me voltando para mesa, me sentindo uma pessoa super nova por estar sendo simpática com um estranho e até mesmo mantendo uma conversa com ele.

Mas na verdade, como eu poderia explicar que eu não estou com medo de conversar com ele? Ou simplesmente tendo dificuldade de manter uma conversa? Por esses dois motivos sem respostas, eu deixei que ele se sentasse na mesa comigo.

— Você é ruiva natural de verdade?

— Sim, uma boa parte da família por parte da minha mãe tem o cabelo ou os olhos claros.

— Que genética boa, as dos meus pais não tem nada de diferente; — Ele comenta e eu olho para a mesa dos seus pais, onde todos estão olhando na nossa direção com um sorriso no rosto. — É só fingir que nada está acontecendo, eles acham que eu deveria namorar alguém.

Ergo a minha sobrancelha, comendo mais um dos biscoitos, me sentindo surpresa por seus pais pensarem dessa forma.

— O meu pai não aceita que eu sequer chegue perto de alguém do sexo oposto.

— Talvez ele seja somente um tremendo de um machista, daqueles que se tivessem um filho deixaria que fizessem o que bem lhe desse na telha com as garotas. — Ele murmura parecendo um pouco distraído em seus pensamentos.

A verdade é que eu duvido muito que esse seja o problema. Na verdade o meu pai é mais problemático que isso.

— Ah, toma isso. — Alan pega do seu bolso um pequeno livro amassado e eu ergo a minha sobrancelha, curiosa do porquê ele estar me entregando isso.

— O que é isso? — Questiono o pegando em minhas mãos, lendo o que deveria ser a capa, já que agora se encontra amassada.

"Como aprender a se comunicar facilmente na Itália"

— Eu fiquei lendo durante o voo, me ajudou muito. É claro que eu já tinha uma pequena noção, mas foi essencial para eu conseguir me comunicar. Só para você saber, "No hablo" é em espanhol.

Arregalo meus olhos me lembrando de quando falei com ele assim que ele apareceu ao meu lado.

— Meu Deus!

Ambos rimos e eu começo a ler o pequeno livro.

Ficamos conversando por um bom tempo, até seu pai o avisar que já estavam saindo para algum lugar e era necessário a presença dele. Durante a conversa eu descobri que ele tem vinte e um anos, e está no segundo ano da faculdade de astrologia, já que o mesmo ficou dois anos de férias após completar o ensino médio. A maioria das suas tatuagens tinha algo haver com astrologia, e isso só mostrava o quanto ele gostava do que fazia, ao contrário de mim, que estou me sentindo perdida. Ele foi uma boa companhia enquanto durou, já que o mesmo estava me distraindo sobre o que estava acontecendo debaixo do meu nariz. Na verdade, parecia que Benjamin estava tentando chamar a minha atenção, e eu estava refletindo, tentando entender o porquê eu estava me importando. Logo após eu avisar que ia subir para o meu quarto, todos saíram da piscina e Cristina avisou que iria logo atrás de mim para ficarmos conversando sobre alguns assuntos principalmente sobre a floricultura, e Cristina me pediu conselhos sobre uma futura reforma na loja, já que mesmo sendo requisitada, ela é bem pequena e simples, mas eu devo admitir que gosto dessa simplicidade. Ela também falou sobre o dinheiro, que não era um valor definido, já que poderia variar, mas que eu teria certeza de ter em mãos pelo menos 5 salários mínimos em mãos, e isso fez com que eu ficasse extremamente surpresa, já que eu não esperava que ela estivesse falando de um valor tão alto. Eu fiquei emocionada e ansiosa, torcendo para que a minha mãe aguentasse mais um pouco até eu ter esse dinheiro em mãos. Toda essa situação me deixava extremamente a flor da pele, desde essa situação da minha mãe, até às reações diferentes que Benjamin estava a me causar.

Durante toda a tarde eu sequer saí do meu quarto, ouvindo Cristina falar animadamente sobre os nossos planos para amanhã, o meu aniversário de dezoito anos, mas a sua animação não chegou a mim. Assim que ela saiu, eu me deitei e fiquei assistindo filmes que eu sempre quis assistir mas nunca pude, pensando em dar um jeito de passar o meu aniversário dessa forma, já que parecia muito mais animador do que ficar uma boa parte do meu dia fazendo coisas na qual eu não gosto de fazer. E ainda mais vendo ele com ela. Apesar de que isso seria definitivamente bom para eu entender de uma vez por todas que suas palavras não passaram de uma mentira. Aliás, eu vim para cá com um único objetivo, e eu não posso me distrair com coisas que eu acho extremamente erradas e iriam me desviar dos meus planos.

Resolvo tomar um banho, e logo após me jogo na cama usando um vestido justo de lã cinza, prestes a me dedicar a ler o livro que Alan me entregou, para quem sabe eu conseguir ao menos entender o que as pessoas dizem para mim. Após alguns minutos, já entediada, eu sinto que realmente estava aprendendo alguma coisa, já conseguindo falar o mínimo, e por isso agradeço mentalmente por Alan ter sido tão simpático comigo e ter resolvido me ajudar.

Algumas batidas na porta me distraem da leitura, e eu logo fico em modo alerta, me perguntando quem estaria aqui já a noite, Cristina já me falou tudo o que tinha a me falar. Talvez tenha vindo me chamar para jantar, mas usando esse vestido curto, eu sequer tenho coragem de pôr os meus pés para fora.

— Mel… sou eu, Benjamin!

Congelo quando ouço a sua voz, de repente me sentindo ainda mais nervosa que o normal, me perguntando o que ele quer comigo uma hora dessa. Me levanto da cama, caminhando em passos lentos até a sala, ouvindo-o ainda bater na porta.

A verdade é que eu não quero vê-lo agora. Não nos falamos o dia inteiro para ele vir me procurar? Mas com qual intenção?

— Eu sei que você está aí. Não se esqueça que eu posso abrir a porta a qualquer momento se eu quiser; — Ele comenta me fazendo suspirar aborrecida. — Eu só quero conversar com você.

Ergo a minha sobrancelha, mesmo que relutante, me sentindo intrigada. Abraço o meu próprio corpo caminhando até a porta, sabendo que se eu continuar a demorar ele vai abrir de um jeito ou de outro, e isso só poderá ser ainda mais constrangedor para mim, já que eu não quero que ele perceba que de alguma forma está conseguindo me afetar.

Coloco a palma da minha mão direita sobre a marcação da porta, e rapidamente a mesma se abre, me dando uma visão completa de Benjamin, que está encostado no batente da porta, segurando uma garrafa de vinho e uma bandeja de papelão. Seu olhar passa pelo meu corpo, observando atentamente o vestido que eu uso, que eu já tinha me esquecido o quanto curto ele estava em meu corpo, mas então seu olhar se encontra com o meu, e ele sorri.

— Você está bonita; — Ele comenta ainda com seu sorriso, e eu desvio o meu olhar dando espaço para ele passar, não querendo que ele perceba que eu estou corada. — Boa noite para você também, ruiva.

Ele entra e vai direto para a cozinha.

— Você disse que tinha algo para conversar, estou ouvindo. — Digo vendo-o pegar duas taças de dentro do armário e pôr a bandeja de papelão na ilha da cozinha.

— Uhum… — Ele murmura concentrado em servir as duas taças enquanto eu me aproximo da cozinha.

Não falo nada, esperando que ele enfim fale o que veio fazer aqui. Ele pega as duas taças e vem na minha direção, estendendo uma para mim. Ergo a minha sobrancelha achando graça de que ele acha mesmo que eu irei beber isso.

— Só pega; — Ele pede e eu me seguro para não revirar os olhos, pegando somente para que ele fale logo o que quer. — Vem comigo.

Sua mão aperta a minha e ele me puxa com ele para a área da piscina, o mesmo local que divide os nossos quartos.

Ele põe a garrafa e a bandeja de papelão na beira da piscina e eu me pergunto o que ele está planejando. Ele se senta ao lado da garrafa e estende sua mão na minha direção para que eu possa me sentar ao seu lado. Respiro fundo e me sento ao seu lado, com os meus pés dentro da água e somente com a garrafa e bandeja nos separando.

— Você prometeu tomar uma taça de vinho comigo; — Ele lembra com um sorriso em seu rosto, me encarando. — Imaginei que estaria sozinha, já que Cristina está acompanhada por Tadeu, e eu aproveitei para vir comemorar a véspera do seu aniversário e contar que Cristina está preparando um luau para amanhã.

Assinto lembrando que ela comentou algo assim comigo.

— Então se eu cumprir a minha promessa, você irá embora? — Pergunto estendendo a minha taça no ar e ele sorri, erguendo uma sobrancelha.

— Quer tanto assim se livrar de mim? — Ele pergunta com um sorriso, encostando sua taça na minha para um brinde.

Dou de ombros levando a bebida ao meus lábios, mesmo que receosa por saber que isso é errado, eu deixo que a bebida deslize por minha garganta, torcendo para que após isso eu não precise lidar mais com Benjamin, somente com a minha consciência. Faço uma careta sentindo o álcool deslizar por minha garganta, somente pelo fato de eu nunca sequer ter tomado algo assim. Ele abre a bandeja de papelão revelando vários salgados de variados tipos e leva um a sua boca, enquanto eu repouso a taça na beira da piscina.

— Não vai se livrar de mim tão cedo; — Ele diz provando um dos salgados me olhando seriamente e eu desvio o meu olhar, frustrada por ele ainda continuar aqui. — Gosto quando você faz isso.

— E o que seria "isso"?

— Quando você não age o tempo inteiro como uma santa e faz coisas que qualquer pessoa normal faria, mas na sua cabeça são erradas; — Ele responde e eu faço menção de dar uma resposta, explicando a ele que isso não é verdade, mas eu me interrompo quando eu percebo que sim, essa é a minha realidade. — Sabe, ruiva, o que eu quero dizer é que existem coisas que são realmente erradas, e são dessas coisas que você tem que ficar longe, mas tem que se permitir a fazer as suas vontades, escolhas e o que der na telha de vez em quando. Errado, é você se submeter a todas as vontades dos seus pais esquecendo que você também tem o direito de escolher qual caminho seguir.

— Temos duas visões de mundo diferentes Benjamin; — Desvio o meu olhar, mordendo o meu lábio não querendo admitir que eu sinto vontade de fazer muitas coisas, mas não me conheço o suficiente para me permitir fazer elas. — E eles não me obrigam a nada.

— Então você não sente vontade de fazer mais nada? Sei lá, conhecer novos lugares, novas pessoas. Sair com seus amigos de vez em quando. Comer e beber aquilo que sentir vontade, fazer somente as coisas nas quais você gosta. Até mesmo viajar, escutar música e assistir filmes? Pelo o que eu sei até agora você foi privada de boa parte disso; — Ele murmura e eu desvio o meu olhar do seu, encarando o meu reflexo pela água da piscina, me sentindo um pouco atordoada pelo peso das suas palavras. — Ruiva, o mundo é muito grande para você se limitar tanto. Você pode conquistar o mundo se quiser! — Ele exclama com um sorriso divertido e eu sinto as minhas bochechas esquentarem, me sentindo de repente uma sonhadora com todas essas possibilidades.

— Eu não sei… Eu não me conheço o suficiente para responder isso, mas… a forma de você enxergar o mundo é claramente diferente da minha.

— Ou talvez seja a mesma, e você só está usando uma venda em seus olhos que seus pais amarraram em você; — O encaro, sentindo seus olhos eletrizantes me encarando. — Sabe, ruiva, você teve uma puta criação errada, apesar de ter sido muito melhor que a minha, os meus pais eram incríveis, mas os seus são uns merdas. — Ele murmura amargamente e eu cerro os meus olhos, me sentindo ofendida por suas palavras.

— Eles não são uns merdas, só seguem o seus princípios. E só para você saber que a minha mãe não compactua com as atitudes do meu pai. Olha, de verdade isso nem é mesmo da sua conta, o meu jeito não tem nada a ver com você. Aliás, eu pensei que você já estava bem acompanhado! — Exclamo aborrecida sem conseguir conter as minhas palavras, e é quando Benjamin sorri, me encarando com uma sobrancelha erguida.

— Acompanhado? Eu deveria estar com alguém? — Ele questiona de forma cínica e eu reviro os meus olhos.

Encaro novamente o meu reflexo na água enquanto balanço os meus pés, pensando sobre o que está realmente acontecendo comigo.

— Ela é bonita. — Murmuro dando voz aos meus pensamentos, tentando soar o mais indiferente o possível.

— Sim, muito bonita. — Benjamin me observa com um sorriso no rosto, parecendo analisar a minha reação, mas a verdade é que eu estou tentando soar o mais indiferente possível.

A sua resposta faz que de alguma forma eu tenha a confirmação de que ele estava somente brincando comigo quando disse que eu era atraente para ele. Quer dizer, eu nem me comparo a aquela mulher, seria como me afundar no poço.

— Era tudo o que tinha para falar comigo? Eu já cumpri a minha promessa, agora você já pode ir embora.

Suas sobrancelhas se arqueiam, enquanto eu o encaro com certo atrevimento, querendo o mais rápido ficar sozinha e aproveitar o meu tempo para continuar a aprender a língua local.

— É, eu acho que falei tudo o que tinha para falar; — Suas mãos de repente pousam na minha coxa, se inclinando na minha direção. — Mas ainda há uma coisa que quero fazer.

Suas mãos vão para trás dos meus joelhos, me puxando de repente me fazendo cair deitada no chão, fazendo com que um gritinho de surpresa escape pela minha boca. Eu apoio o meu cotovelo no chão para evitar que a minha cabeça colida com o chão, e Benjamin fica entre as minhas pernas, me encarando com um sorriso divertido.

— Benjamin…! — Sussurro me sentindo nervosa e sem conseguir ter nenhuma reação diante da sua aproximação e toque.

Sem sair do meio das minhas pernas, ele leva a taça até a sua boca, bebericando um gole do vinho, sem os seus olhos deixarem os meus, e isso faz com que eu sinta a minha pele formigar.

Ele se inclina sobre o meu corpo, aproximando seus lábios da pele do meu pescoço, me causando arrepios pela espinha.

— Você pode me afastar a qualquer momento… — Ele sussurra ainda tocando seus lábios na pele do pescoço, depositando um beijo ali mesmo, o que faz com que eu sinta algo mexendo em meu estômago, mais como um friozinho na barriga. — É só você pedir que eu paro.

Fecho os meus olhos apreciando a sensação dos seus lábios, subindo pelo meu pescoço até alcançar a minha mandíbula, onde ele a mordisca. Eu não sei por que estava parada, nem porque não tive reação alguma, pois eu sabia que não devia deixar que ele fosse tão longe a ponto de me tocar e causar sensações tão novas em meu corpo. Mas eu estava lá, parada e submissa do seu toque, sem conseguir me mexer por conta das sensações que ele provocava em meu corpo. Eu tentei abrir a minha boca para avisá-lo para não continuar com aquilo, mas eu não conseguia pronunciar uma única palavra sem revelar o quanto delicioso era o que eu estava sentindo.

Abro os meus olhos quando seus lábios se afastam da minha pele e me deparo com seus íris escuras e eletrizantes me encarando, de forma que eu sinta o mesmo frio na barriga. Sua mão pousa em minha cintura, a apertando, e seus lábios se encontram com os meus, pedindo passagem com sua língua. Mesmo que eu não saiba o suficiente, eu me deixo levar, fechando os meus olhos e permitindo que assim ele faça, mesmo que em minha mente eu esteja protestando por isso. Eu acho que no fundo eu sabia que iria me arrepender de ter deixado isso acontecer, mas o arrependimento ainda não tinha chegado, e por este mesmo motivo eu deslizei minhas mãos por seus braços, sentindo-o pressionar o meu peito no seu. Eu senti todo o meu corpo arder enquanto sentia o meu coração acelerado em meu peito, e eu estava com medo de que ele estivesse sentindo isso, já que nossos corpos estão colados.

Seu corpo e seus lábios se afastam dos meus assim que eu ouço o som do que parece ser um alarme quase que silencioso. Benjamin somente se afastou por alguns centímetros, me encarando com um sorriso que eu não conseguiria desvendar.

— Meia noite; — Ele comenta pondo uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. — Feliz aniversário ruiva.

Sinto as minhas bochechas corarem percebendo que ele pôs um tipo de alarme somente para o meu aniversário, e eu não vou mentir que não fiquei eufórica por dentro ao saber disso. Ele se ajoelha entre minhas pernas e me puxa junto a ele, fazendo com que ambos fiquem sentados um em frente ao outro, perto demais do comum.

— Tenho uma coisa para você.

Ele retira uma pequena caixa azul do seu bolso, mais ou menos do tamanho de uma carteira. Olho para essa caixa sem conseguir disfarçar a minha curiosidade, e ele sorri. Observo ele abrir a caixa na minha direção, e dentro dele eu posso ver uma pulseira com vários pingentes bonitos e brilhantes. Benjamin segura a minha mãe e o põe em meu pulso enquanto eu o observo extasiada. Levanto a minha mão até a altura dos meus olhos, passando meus dedos delicadamente por cada um dos pingentes.

Olho para o pequeno floco de neve, me lembrando de quando estivemos no Alaska. Vejo uma colmeia e uma pequena abelha com traços vermelhos, ao invés de amarelo, e isso me faz sorrir, pois ele claramente quis fazer uma referência ao meu nome. Há também uma lareira, e eu lembro de quando dormimos juntos quando eu me perdi. Um travesseiro, e por último uma enorme pedra brilhante e transparente, mais como um diamante, mas eu não acredito que isso seja de verdade.

Após eu ver todos os pingentes, eu levanto o meu olhar para ele, sem saber o que dizer ou como agradecer dele ter pensado em coisas tão pequenas que representou esse pouco tempo de viagem. Antes que eu possa fazer qualquer coisa, ele encosta nossas testas, entrelaçando nossos dedos.

— Só para deixar claro que eu não vou aceitar nada menos que um obrigado.

Meu coração acelera em meu peito e eu suspiro, sentindo esse peso em meu peito se esvair, com algo muito melhor tomando o seu lugar. E eu não queria que essa sensação fosse embora tão cedo.

— Obrigada.

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