Caminhava para meu quarto quando fui derrubada no chão e gritei. Porém, assim que Cassie saiu de cima de mim, comecei a rir.
— Por que diabos você não me avisou que estava vindo? — Ela me deu um soco no ombro enquanto eu me levantava.
— Eu só soube hoje de manhã. — A abracei de lado. — Estava com saudades.
— Eu também estava com saudades. — Ela se afastou e me jogou uma caixinha. — Feliz aniversário.
Voltei a rir.
— Com tudo o que aconteceu, eu praticamente me esqueci de que hoje é meu aniversário.
— E é de dezoito anos! Você já se transformou? — Cassie pulava de empolgação.
Mas eu balancei a cabeça de um lado para o outro.
— Eu não me transformo. Você sabe disso. — Meu rosto se entristeceu e ouvi um resmungo dentro da minha mente.
— Acho que você está bloqueando a transformação. Você tem uma loba. Todos nós a sentimos. — Ela encostou o quadril no meu. — Eu sinto que ela quer vir à tona.
Minha loba resmungou em concordância. “Cassie é mais esperta que você.” A voz da minha loba ecoou na minha mente, e eu apenas sorri. “Mas existem coisas que não posso te contar, pelo menos por enquanto, mas se tivermos sorte, você vai descobrir as respostas.” Revirei os olhos. Mais uma não-resposta da Nix, minha loba. Ela bufou de volta e recuou para o fundo da minha mente.
— A Nix ainda não te responde?
— Ela responde, mas só com aquele tipo de resposta vaga, que não diz nada. — Peguei minha mochila e a abri, mudando de assunto. — Você nunca vai adivinhar o que aconteceu hoje.
Cassie se jogou na minha cama.
— Me conta tudo!
Abri a boca para contar sobre a outra vida que experimentei, mas a voz do meu pai soou na minha mente:
“Filha, eu sei que você talvez queira contar à Cassie o que aconteceu na sua primeira vida, e entendo essa vontade, mas não conte a ninguém ainda. Você não pode selar a língua dela e a nossa herança é perigosa.”
“Tudo bem, pai. Eu não vou contar.”
“Eu te amo.”
E então sua voz desapareceu, e eu precisei reorganizar meus pensamentos.
— Conta logo. — Cassie me jogou um travesseiro e eu balancei a cabeça.
— Acho que o filho do Alfa é meu companheiro, e a Shannon também acha. Ela surtou completamente e estava roubando minhas roupas pra chamar a atenção dele. — Balancei a cabeça, indignada.
— Ela estava tentando roubar seu companheiro? — Os olhos de Cassie brilharam.
— Ela pode ficar com ele. Eu não quero nem preciso de sobra dos outros. Mesmo que ela não tivesse dormido com ele, o que tenho certeza que já fez, eu não iria querer. Ele é maldoso e vingativo. E simplesmente... pequeno.
— Pequeno tipo... pequeno mesmo? — Cassie aproximou o polegar do indicador e olhou para a região entre minhas pernas. Me dobrei de tanto rir, com lágrimas nos olhos, enquanto ela também caía na risada.
— Eu não faço ideia. — Enxuguei os olhos depois que me acalmei. — E nem quero saber. “Pequeno” tipo homem com energia de homem pequeno mesmo. Mesmo sendo alfa, ele emana aquela energia de homem pequeno, sabe? Nem sei explicar direito. Só sei que, mesmo quando ele impõe sua aura de alfa, eu não sinto nada. Nem um pouquinho. Nem um décimo do que sinto com meu pai.
Sentei-me na cama.
— E você não quer um companheiro mais fraco que você?
— Não é isso. — Balancei a cabeça. Eu não conseguia explicar direito. — Sei que, se ele tiver uma desculpa, vai me trair. A devoção dele seria fraca, assim como a aura.
— Ah, agora entendi. — Cassie se virou de costas e suspirou. — Isso seria a pior coisa possível. Não sei como seu pai aguenta a dor. — Ela olhou para mim e fez uma careta.
— Todo mundo aqui sabe a verdade?
Cassie balançou a cabeça.
— Não, mas depois que vocês foram embora e o Alfa nunca mais ficou com a tal loba... nem com loba nenhuma, aliás. Assim, a gente percebeu que tinha algo errado. E aí nasceu o filhote da tal loba e todo mundo sentiu o cheiro do companheiro dela no bebê. Foi assim que soubemos que tudo foi uma mentira. Só não sabíamos o motivo. — Cassie virou de lado. — Você sabe?
Assenti.
— Meu pai me contou a verdade hoje, quando eu disse que queria rejeitar meu companheiro.
— Ah, que clima mais deprê. Vamos sair pra fazer alguma coisa? — Cassie se sentou e eu só balancei a cabeça negando. — Vamos, vai... Nunca te pedi nada...
— Tenho treino amanhã de manhã e meu pai disse que vai ser brutal.
— Então você não pode sair hoje? Mas que bobagem. Levanta, vai! Vamos fazer compras e depois vou te exibir para todo mundo, e deixar todos morrendo de inveja porque minha melhor amiga é filha do Alfa.
Me animei.
— Alguém tem te incomodado por aqui? — Cassie balançou a cabeça, dizendo que não, mas eu percebi que era mentira. — Cass?
Ela bufou e então assentiu levemente.
— Só umas lobas metidas, que acham que são superiores mesmo não tendo um posto. — Amanda e o grupinho dela, imaginei.
— Elas te incomodam muito?
— Só um pouco. — Em seguida, Cass agarrou meu braço e me puxou em direção à porta. — Chega de falar disso, eu não me importo com elas. Só senti sua falta e agora quero desfilar por aí com minha melhor amiga.
— Negócio fechado. — Eu não podia dizer ‘não’, ainda mais sabendo que ela estava sendo intimidada. Cassie era mais fraca do que eu. Na verdade, todo mundo era. Mas ela era doce e estava ao meu lado desde que nasci. A mãe dela e a minha eram melhores amigas. — Mas você vai me mostrar quem está te intimidando.
— De jeito nenhum. Eu dou conta disso.
— Eu sei que você dá, mas não deveria ter que lidar com isso sozinha. — Eu podia sentir Nix se aproximando da superfície. Minha raiva já estava subindo.
— Você não estará sempre por aqui. — O sussurro dela me fez parar. — Não quero te fazer sentir mal, mas você não está aqui o bastante pra arrumar briga com elas por mim. Porque depois que você for embora de novo, as coisas só vão piorar. — Ela olhou para mim com olhos tristes. — Então, podemos simplesmente deixar isso pra lá?
Assenti, mas jurei para mim mesma que resolveria essa situação.
— Tudo bem, vamos nos divertir. Pode me exibir o quanto quiser. Estarei aqui o verão inteiro. – Sorri e empurrei toda aquela merda envolvendo Amanda para o fundo da minha mente. Eu lidaria com ela assim que pudesse.