Era fim de tarde de outono e as folhas estavam a cair das árvores, algumas caiam tão lentamente que pareciam dançar com vento até o chão.
Clara não queria voltar para casa após a alta do hospital, com olhos cansados, segurava sua bolsa enquanto observava Ruan do lado de fora do quarto do hospital, onde ele assinava alguns papéis. O médico, preocupado com as quedas frequentes de Clara, começou a questioná-la, mas foi rapidamente interrompido por Ruan seu esposo. -A senhora tem certeza que foi isso mesmo que aconteceu? É a terceira entrada no hospital da senhora como queda. Gostaríamos de saber como tem sido essas quedas? - Eu.... (clara logo é interrompida) -Ela nao está se alimentando direito já falei com o doutor, ela precisa se alimentar, mas pode deixar vou ficar de olho - respondeu Ruan duro e seco já pegando a mão de Clara para sair do quarto junto aos seus documentos. - A senhora tem algo a completar sobre as queda, como que machucou o tórax? E o ferimento da cabeça? Insistiu o médico. - O que o Doutor está insinuando? Que ela foi agredida? Sou um policial quer chamar a polícia? Clara observou a cena com uma expressão cansada, sentindo-se presa em um ciclo de preocupações e tensões que só pareciam se agravar ano após ano. As agressões eram algo constantes na vida de Clara, Ruan é um policial, agressivo, possessivo, ciumento e bêbado. Seu vício há alguns vem sendo a bebida, e a cada noite piora. Gosta de tocar violão e esta quase perdendo seu emprego na polícia por conta da bebida que toda noite o destruía pelos cantos dos bares. -Vamos meu amor ? Você está liberada, já assinei a sua alta e vamos a farmácia, vou comprar umas vitaminas para que você fique bem, vamos ... (Ruan a segurava pelo braço para leva-la embora). Em silêncio, Clara ponderava a proposta de Ana para fugir para longe e começar uma nova vida longe de todos. Contudo, surgiam preocupações sobre como ela poderia trabalhar e o que aconteceria com Carol, tão apegada ao pai. Clara sabia que Carol não aceitaria fugir e ficar longe de Ruan seu pai, e o medo de que ele a encontrasse apos fugir assombrava seus pensamentos. Com tantas perguntas sem respostas, Clara percebeu subitamente que estava novamente em frente à sua casa, confrontada com a realidade de uma situação da qual não sabia como escapar. -Venha meu amor, dessa vez farei tudo diferente você vai ver. Serei um novo homem, o marido que vc merece e precisa. Vem aqui amor me dá um abraço.! -Não! Clara recusou seus avanços com um leve passo para trás -estou cansada com dor, minha cabeça ainda dói, preciso me deitar, onde está meu celular ? -Ah o celular? Ruan, com um semblante de falsa ternura, e um riso no canto dos lábios mexeu em seu bolso da calça disfarçando Ruan respondeu com um sorriso cínico, sugerindo que ela não precisa mais dele, esta em segurança e ele sempre por perto para cuidar dela. Não tendo necessidade de um celular . Clara sentiu um arrepio de medo percorrer sua espinha, percebendo que estava cada vez mais isolada e controlada por Ruan, sem uma maneira fácil de escapar dessa prisão emocional. Na mesma noite ele bebeu, como de costume, suas promessas não tinham efeito algum. Clara logo fora surpreendida com ele na cama cheirando a álcool novamente mas decidiu não mais brigar ou lutar. Ficou em silêncio pensando sobre a conversa anterior com Ana que prometeu ajuda-la a sair de casa. E decidindo a não mais passar por isso em sua vida, a noite foi longa pensando nas formas e possibilidades de buscar sua liberdade e realizar uma vida como sempre sonhou e não pode viver ao lado de Ruan.