Isabella Duarte Ricci Eu aceitei namorar com o Dimitri, mas naquele momento eu sabia que teria que esconder algo dele sobre aquele dia no hotel, também não estava pronta para dizer que eu estava grávida, minha mente estava tão confusa, quanto toda situação que estaria por vir com eu e minha irmã grávida. Cheguei em casa sentindo uma leveza que há muito tempo não experimentava. Meu coração ainda batia acelerado com o pedido de Dimitri. Parte de mim queria se entregar por completo a ele, esquecer todo o resto e simplesmente ser feliz ao seu lado. Mas havia outra parte, uma que eu tentava ignorar,que me lembrava de algo que poderia mudar tudo, a minha irmã Aurora. Minha irmã.Que por muito tempo foi minha melhor amiga. A mulher que estava esperando um filho… e eu sabia que aquele bebê havia sido concebido naquele hotel, mas eu não tinha tanta certeza, já que para ela, o bebê era do Theo. Subi as escadas em silêncio, sentindo meu peito apertar. O que eu faria se Dimitri descobrisse?
Isabella Duarte Ricci Após receber alta do hospital, eu quis fugir e fui para onde eu poderia me punir. Arrumei a mala e no dia seguinte eu viajei para o Brasil, onde a Aurora estava morando atualmente. Desde que deixei a Itália, me escondi nos braços da minha irmã, fingindo que estava ali para ajudá-la, quando, na verdade, estava fugindo. Fugindo da dor. Fugindo da culpa. Fugindo da verdade que poderia mudar tudo. Dimitri me ligava todos os dias. Sua voz rouca e cheia de saudade sempre me fazia fechar os olhos e me segurar para não ceder, para não contar tudo, para não deixar escapar o peso que eu carregava. Ele achava que eu estava no Brasil para apoiar Aurora, e em partes, isso era verdade. Mas a maior verdade era que eu não conseguia olhar para ele sem lembrar do bebê que nunca conheceríamos. Aurora estava no sexto mês de gestação. Seu corpo já carregava as marcas da maternidade, sua barriga arredondada e os olhos brilhantes cheios de expectativas para o futuro. Ela não
Aurora Duarte Ricci A felicidade da minha irmã deveria ser a minha felicidade. Mas, enquanto eu observava Isabella nos braços de Dimitri, a emoção brilhando em seus olhos, algo dentro de mim doía. O pedido de casamento foi lindo. Dimitri se ajoelhando, declarando seu amor para ela na frente de toda a nossa família… Era como um conto de fadas. Isabella dizia “sim”, e todos ao redor aplaudiam, celebravam. E eu? Eu sorria. Mas, por dentro, sentia um vazio crescente. Por que eu não poderia ter o mesmo? Por que o homem que eu amava nunca olharia para mim dessa forma? Fechei os olhos por um instante, tentando controlar o aperto no peito. Minha mente me levou para o passado, para os dias que mudaram minha vida para sempre. Theo. O nome dele ecoava em minha mente como uma lembrança doce e dolorosa ao mesmo tempo. Eu era apenas uma garota quando o conheci no Brasil. Theo era diferente dos outros garotos. Ele tinha um brilho nos olhos, uma sede de vencer, mas, acima de tudo
Três anos depois... Theo Lima O aroma de café fresco e pão recém-assado preencheu o ar assim que entramos na confeitaria de Lívia. O espaço era aconchegante, com luzes suaves e uma vitrine cheia de doces artesanais que pareciam tão delicados quanto ela. Lívia amarrou o cabelo, parecendo mais à vontade naquele ambiente que era seu refúgio. — Vou preparar algo especial para nós — disse ela, oferecendo um sorriso tímido, ainda processando tudo, Lívia era a mulher que eu estava procurando por anos, a minha melhor amiga. Sentei-me a uma das mesas próximas à janela, observando-a se movimentar com graça atrás do balcão. Ela era tão linda e natural naquele espaço que senti meu peito apertar novamente. Era ali, ao lado dela, que eu queria estar. Eu estava prestes a contar a verdade. A abrir meu coração completamente. Dizer para ela que eu era o seu primeiro amor. Mas, antes que pudesse começar, uma voz feminina interrompeu meus pensamentos. — Theo? Que surpresa te ver por aqui! — A
Aurora Duarte Ricci Saí da sala do Theo com o coração apertado. As palavras dele ainda ecoavam na minha mente, mas eu precisava manter o foco. Caminhei até o estacionamento, onde o carro me esperava. Através do vidro, vi Aline, a babá, sentada no banco de trás com meu filho. — Senhora, aconteceu algo? — perguntou Aline, preocupada. — Estou bem, Aline. Vou deixar vocês no hotel e depois preciso resolver uma coisa. O motorista dirigiu em silêncio. Assim que chegamos ao hotel, Aline desceu com meu filho. Dei um beijo em sua testa antes de vê-los entrar no saguão. Meu coração apertou mais uma vez, mas eu precisava seguir. O carro seguiu para o presídio. Meu estômago revirava só de pensar no que estava prestes a fazer. Quando entrei na sala de visitas, lá estava ele, o pai do Theo. — Você!—exclamou ele, me reconhecendo imediatamente. — Me reconhece? — perguntei, firme. — Reconheço. Não consigo esquecer, já que estou aqui por sua causa. Revirei os olhos, mantendo a calma.
Theo Lima A noite caía suave sobre a cidade enquanto eu e Lívia chegávamos ao restaurante. As luzes amareladas criavam um clima aconchegante, mas minha mente estava em outro lugar. Tentei focar em Lívia, em sua risada, em seu olhar carinhoso, mas algo dentro de mim parecia inquieto, talvez pelo que Aurora havia me perguntado pela manhã, ou pelo que iria revelar a Lívia naquela noite. — Vou ao banheiro rapidinho — murmurei, me levantando. Caminhei pelos corredores silenciosos até encontrar o banheiro. Lavei o rosto com água fria, tentando me concentrar, mas meu reflexo parecia estranho, distante. Ao sair, quase esbarrei em alguém. Aurora. Ela segurava a mão de um menino pequeno, que aparentava ter uns dois anos ou um pouco mais. O garoto segurava um boneco robô com força, e seus olhos grandes me encaravam com curiosidade. Antes que eu pudesse dizer algo, uma mulher apareceu correndo. — Theo! — ela chamou, pegando o menino nos braços. Fiquei paralisado por um segundo. O me
Theo Lima O silêncio depois da pergunta de Lívia pesava sobre nós como uma nuvem carregada. Eu podia ver em seus olhos a esperança se dissolvendo pouco a pouco, como se ela já soubesse a resposta que eu relutava em dar. A pergunta ecoava na minha cabeça. A verdade? Eu não sabia. Ou talvez soubesse, mas não queria admitir nem para mim mesmo. Aurora tinha um jeito de entrar na minha vida como um furacão, bagunçando tudo, e mesmo quando eu achava que finalmente tinha seguido em frente, ela voltava, nem que fosse apenas nas minhas memórias. Mas eu não podia dizer isso a Lívia. — Não é nada, Lívi — respondi, forçando um sorriso que não alcançou meus olhos. — Só foi estranho… uma coincidência boba. Ela me observou por um longo momento, como se tentasse decifrar o que eu estava escondendo, mas acabou apenas assentindo. — Tudo bem — disse, com um tom que parecia mais conformado do que satisfeito. O jantar seguiu, mas a leveza de antes tinha desaparecido. Conversamos sobre amenid
Aurora Ricci A peça do jogo girava entre os pequenos dedos do meu filho, determinado a encaixá-la onde, claramente, não cabia. — Filho, não insiste, você pode acabar quebrando. A peça não vai encaixar. Ele olhou para a peça, teimoso, e me olhou com aquele brilho nos olhos que sempre me desarmava. — Mas, mamãe, não posso desistir. É o meu jogo favorito e eu gosto muito dele. Eu tenho que tentar, tentar e tentar. Ele precisa saber que um defeito não vai me fazer parar de brincar com ele. Meu peito apertou. Porque, naquele instante, eu vi muito mais do que um menino insistindo num jogo. Eu vi uma verdade que por tanto tempo ignorei. Por que eu desisti? Por que escondi a verdade de Theo? Eu sempre estive ao lado dele, fui a primeira a conhecê-lo, a primeira a segurar sua mão ensanguentada quando ele se machucou por minha causa. Mas agora, tudo o que restava para mim era vê-lo ao lado de outra pessoa, sem lembrar quem realmente esteve com ele desde o início. Fechei os olho