Isabella Duarte Ricci A Espanha tinha um cheiro próprio. Um misto de café forte, ruas antigas e aquela brisa que refrescava e ao mesmo tempo esquentava.Quando saí do avião particular, me vi envolta por um calor suave, o tipo de calor que não queima, mas acaricia. Luara e eu seguimos para o hotel, um lugar elegante, com paredes de vidro que refletiam a cidade vibrante ao nosso redor. Eu mal conseguia apreciar a beleza ao meu redor minha mente estava longe, perdida em um certo magnata frio e irritante. Por que eu estava pensando nele mais do que qualquer outra coisa? Afundei-me na cama macia do quarto, ainda vestida, olhando para o teto como se ele fosse me dar respostas. O ar-condicionado sussurrava baixinho, e, por um momento, o silêncio pareceu gritante. Será que ele notou minha ausência? A ideia me fez rir sozinha. Dimitri parecia o tipo de homem que ficaria feliz por alguém desistir dele, como se isso provasse o ponto que ele sempre tentava martelar: que era intocáv
Isabella Duarte Ricci Após tomar um banho e me vesti, depois sai, fui até o endereço que o detetive havia me passado. O beco estava escuro, úmido, e tinha um cheiro forte de álcool . Meu coração batia forte no peito, mas minha respiração era controlada. Eu já estive em situações perigosas antes, mas algo dentro de mim dizia que essa era diferente. Assim que virei a esquina, a cena diante dos meus olhos fez o sangue em minhas veias ferver. Havia um grupo de homens cercando alguém no chão. Um jovem. Ele estava coberto de sangue, os braços levantados em uma tentativa inútil de se proteger dos chutes que recebia. Um deles segurava um taco de madeira, pronto para dar mais um golpe. Eu não pensei duas vezes. Puxei a arma da minha bolsa e apontei para o grupo. — Eu no lugar de vocês pararia com isso. Minha voz cortou o ar como uma lâmina afiada. Os homens pararam e se viraram para mim. Primeiro, com surpresa. Depois, com desprezo. Um deles, um brutamontes careca e com uma ci
Isabella Duarte Ricci A sensação de que Derick me estudava, tentando me entender, como se tivesse me visto antes e não conseguisse lembrar de onde. — Você não vai perguntar o que aconteceu? — a voz dele saiu rouca, quebradiça, mas carregada de um tom provocativo. Meus dedos apertaram o volante, enquanto eu dirigia após sairmos do hospital. — Sei o suficiente — respondi sem tirar os olhos da estrada. Ele riu, um som seco que terminou em um gemido de dor. — Sei que foi espancado por um grupo de agiotas porque deve dinheiro. Sei que, se eu não tivesse aparecido, você estaria morto agora. E sei que Dimitri vai ficar feliz ao ver o irmão. Dessa vez, foi ele quem ficou em silêncio. O nome de Dimitri pairou entre nós como uma nuvem carregada, prestes a desabar. Olhei de relance para ele e vi sua expressão se fechar. Havia algo ali, algo profundo, um peso que ele carregava e que eu não conhecia, e isso era evidente. Eu não queria sentir pena. Mas senti. — Como você conh
Derick A luz do quarto de hotel era fraca, mas suficiente para que eu pudesse ver o teto. Não que isso importasse muito. Tudo o que eu via, de verdade, era o peso do passado pressionando meu peito. O colchão era macio demais para um corpo acostumado a dormir em lugares que variavam entre o chão sujo de galpões abandonados e os bancos de trás de carros velhos. Eu inspirei fundo. O ar gelado queimou minha garganta. E, antes que eu pudesse impedir, as lágrimas vieram. Silenciosas, amargas. Não era só a dor física que ardia em cada músculo do meu corpo mas a dor que se aninhava em algum lugar mais profundo. Fechei os olhos e apertei os punhos, como se isso pudesse conter o peso no meu peito. Eu não sabia quanto tempo fiquei assim, imóvel, tentando conter as lágrimas. Mas, de repente, senti algo quente envolver a minha mão. Abri os olhos e me deparei com ela. Isabella. — Está sentindo dor, não é? — A voz dela veio baixa, quase um sussurro. — Toma esses remédios. Pisquei alguma
Derick A comida estava quase toda devorada, e eu não sabia se estava mais impressionado com a fome da Isabella ou com a maneira que ela conseguia comer tanto e ainda parecer impecável. Eu, por outro lado, sentia cada músculo do meu corpo protestar a cada movimento. Cada garfada parecia um esforço, mas a fome venceu a dor. Isabella empurrou o prato vazio para o lado e suspirou, satisfeita. — Comida de hotel nunca decepciona quando você pede tudo do cardápio. Eu ri, mas me arrependi no mesmo instante. A dor no meu lado fez questão de me lembrar que eu estava longe de estar inteiro. — Você sempre resolve a vida com comida? Ela deu de ombros, limpando a boca com o guardanapo. — Normalmente sim. Comida resolve 80% dos meus problemas. Os outros 20%, eu resolvo sendo eu mesma. Fiz uma careta enquanto me ajeitava na cama, tentando encontrar uma posição que doesse menos. Ela percebeu e me lançou um olhar curioso. — Quer mais um remédio? — Não. Quero que meu corpo pare de par
Dimitri Carter A casa estava silenciosa. Silenciosa demais. O tipo de silêncio que me deixava irritado e eufórico. A única luz acesa era a do abajur ao lado do sofá. Eu estava ali há horas, com um copo de vinho na mão, girando o líquido de um lado para o outro sem realmente beber. A mente vagava, inquieta, sempre voltando para a mesma pessoa. Isabella. Onde ela estava? Cansou de joguinhos, ou estava jogando comigo com esse sumiço? Pisquei, forçando os olhos a focarem no copo. Ridículo. Eu não era do tipo que ficava remoendo coisas, principalmente por uma mulher. Mas, com Isabella, era diferente. Ela me desafiava. Me tirava do controle. E o pior de tudo? Eu gostava disso. Deixei o copo na mesa de centro e me afundei no sofá, passando a mão pelo rosto. Eu precisava dormir. Esquecer Isabella por algumas horas. Como se o universo estivesse rindo da minha cara, o celular vibrou no bolso da calça. Peguei o aparelho rapidamente e acabei o deixando cair embaixo do sofá, eu caí no c
Isabela Duarte Ricci A manhã em Sevilha estava morna, banhada por uma luz dourada que filtrava pelas cortinas do hotel. Eu estava acordada há algum tempo, mas me mantive deitada, encarando o teto, organizando mentalmente o plano do dia. Derick. Ele seria meu prisioneiro por mais alguns dias, até que eu o arrastasse de volta para a Itália. Depois de um longo suspiro, levantei-me, peguei uma camiseta larga e uma calça jeans, e logo tomei um banho e me arrumei, em seguida saí do meu quarto. Caminhei pelo corredor silencioso até a porta de Derick. Dei duas batidinhas leves. Nada. — Derick? — chamei, inclinando-me um pouco. Revirei os olhos e, sem paciência, girei a maçaneta. A porta estava destrancada. Homens, sendo homens Entrei sem cerimônias, já pronta para arrancá-lo da cama se fosse necessário, mas congelei ao vê-lo parado próximo à janela, de costas para mim, apenas de toalha. Gotas de água deslizavam por suas costas nuas, destacando músculos que, sinceramente, e
Isabella Duarte Ricci Dias depois, finalmente chegamos a Itália, até o ar era familiar, tinha muitas pendências no meu trabalho e eu sabia que ficar dias ausente das minhas obrigações, seria arriscado, mas também foi a vida que escolhi, o caos de ser parte da máfia, de comandar tudo, e por isso eu não abriria mão do amor, eu precisava de um homem que me desse amor e que fosse tão leal a mim, quanto eu era a máfia da minha família. O aeroporto estava movimentado, como sempre. Pessoas indo e vindo, malas sendo arrastadas, vozes misturadas em diversos idiomas. Mas, para mim, tudo isso parecia ruído de fundo. O único som que realmente importava era o da voz do Dimitri, e a única visão que importava era Dimitri, parado mais à frente, nos esperando. Ele estava ali. Alto, imponente, vestindo um terno impecável, como sempre. Mas, diferente das outras vezes, algo em seu semblante parecia diferente. Seus olhos, normalmente carregados de frieza e controle, estavam suavizados por uma emoção q