Tom O cheiro da prisão é sempre o mesmo. Mofo, desespero e um toque azedo de suor impregnado nas paredes cinzentas. Caminho pelos corredores com o uniforme de um policial da solitária, as botas pesadas ecoando em cada passo que dou. Os outros guardas mal olham para mim, apenas um aceno breve, como se eu fosse apenas mais um deles. Amber está ali. Trancafiada como um animal selvagem, exatamente onde deveria estar. Mas isso não me traz satisfação. Não ainda. Eu seguro a bandeja de café da manhã ,um pedaço seco de pão e um copo de café morno, e paro diante da cela dela. O ranger da porta ao ser aberta expõe no silêncio sufocante. Amber está sentada no canto, as pernas cruzadas, a cabeça jogada para trás, encarando o teto como se tudo fosse um grande tédio para ela. O cabelo desgrenhado cai sobre o rosto, mas quando me vê, seus lábios se curvam em um sorriso lento, venenoso. — Finalmente um rosto novo. — A voz dela é rouca, sarcástica. — O que houve? Meus pedidos de café com
Camila Duarte O sol da tarde entrava pelas janelas do meu quarto, pintando as paredes com tons dourados enquanto eu dobrava um biquíni azul-claro e o colocava dentro da mala aberta sobre a cama. O cheiro de maresia já parecia impregnar minha mente só de pensar na casa de praia. Fazia tempo… tempo demais desde que eu tinha estado em uma praia, a última lembrança que eu tinha era de quando era criança e fui a praia, com pais adotivos que tive no Brasil, o calor, as ondas, o cheiro da areia. Ester estava sentada no tapete felpudo, com uma pilha de roupas ao seu lado, dobrando cada peça com uma calma invejável. Entre uma dobradura e outra, ela me olhava de lado, um sorriso brincando nos lábios como se estivesse à beira de dizer algo, mas segurando as palavras. — O que foi? — perguntei, arqueando uma sobrancelha. Ela riu baixinho. — Só estava pensando… a última vez que você esteve naquela casa de praia foi com o Lorenzo. Minhas mãos congelaram no zíper da mala. O nome dele sem
Camila Duarte Ricci A noite já tinha caído sobre a mansão quando a campainha soou, ecoando pelos corredores silenciosos. Eu estava na sala de estar, ajeitando uma manta sobre o sofá, quando me virei para Lorenzo, que estava ao lado da lareira, girando um copo de uísque nas mãos. — Você convidou alguém? — perguntei, franzindo a testa. Ele sorriu de lado, aquele sorriso misterioso que sempre me deixava em alerta e um pouco fascinada, antes de dar um gole na bebida. — Você vai ver. Antes que eu pudesse insistir, a porta se abriu e, para minha surpresa, Theo surgiu ali, com um sorriso largo. — Tom! — O abracei sem pensar duas vezes. O calor familiar daquele abraço trouxe uma sensação reconfortante, como se uma parte esquecida de mim ainda soubesse exatamente quem ele era. — É tão bom ver você. — Igualmente, Camila. — Ele me soltou, mas seus olhos me estudaram, como se tentassem decifrar o que eu lembrava e o que eu não lembrava. Anny e Miguel, os pais de Lorenzo, vie
Camila Duarte Ricci O beijo aconteceu sem aviso, como uma onda inesperada que arrebenta na areia. Lorenzo me puxou para mais perto, e nossos lábios se encontraram em um toque suave, mas carregado de algo intenso, quase desesperado. Não era só desejo, era saudade de estarmos juntos e felizes sem todo aquele ambiente hospital e em um lugar diferente do nosso lar. O gosto do mar se misturou ao calor do beijo, e, por um momento, me perdi completamente. Como se meu corpo lembrasse de algo que minha mente ainda não conseguia alcançar. Quando nos afastamos, eu estava ofegante. — Isso… — sussurrei, com a testa encostada na dele. — Eu não lembro… mas senti. Lorenzo fechou os olhos por um segundo, como se estivesse tentando conter a emoção, mas eu vi quando sua mandíbula ficou tensa. — Eu te amo, Camila. — Sua voz era rouca, quase um sussurro perdido no vento. — Com ou sem suas memórias… eu nunca parei de te amar. Meu peito se apertou, e antes que eu pudesse responder, uma
Lorenzo Ricci A noite estava densa, silenciosa, com apenas o som distante das ondas quebrando na areia. A casa de praia dormia, as crianças nos quartos, meus pais já recolhidos, e Tom… bom, Tom provavelmente ainda remoendo cada palavra que Ester disse. Mas, ali, entre as quatro paredes do nosso quarto, só existia ela.Camila. Ela estava de pé, de costas para mim, junto à grande janela de vidro que dava para o mar. A luz da lua recortava seu corpo, banhando-a em prata.O tecido leve da camisola grudava em sua pele, revelando mais do que escondendo. Meu peito apertou. Por meses, esperei, desejei, esse momento. Não por simples luxúria, mas porque cada pedaço dela me pertenceu um dia, e agora, eu queria que ela soubesse que ainda éramos nós… mesmo que sua memória teimasse em negar. — Está me observando de novo, Lorenzo? — A voz dela veio suave, mas carregada de algo novo… uma provocação, talvez? Dei um passo adiante, sem pressa, como se qualquer movimento brusco pudesse queb
Camila Duarte Ricci A brisa salgada da noite acariciava minha pele, trazendo consigo o cheiro do mar misturado com a fumaça da lareira acesa. A areia sob meus pés estava morna, e o som das ondas quebrando ao longe se misturava às risadas ao meu redor. Era nossa última noite na casa de praia, e tudo parecia tão perfeito… quase irreal. Os dias passaram rapidamente na casa de praia e estávamos aproveitando a noite antes de irmos de volta para casa, na manhã seguinte. Lorenzo estava ao meu lado, segurando minha mão, e sua presença era meu porto seguro. Tom e Ester estavam próximos, rindo de algo que as crianças haviam aprontado mais cedo. Meus sogros estavam sentados mais atrás, observando tudo com sorrisos tranquilos, como se estivessem gravando aquele momento na memória. . Eu me levantei devagar, chamando a atenção de todos. Meu coração batia acelerado, mas eu precisava dizer aquelas palavras. — Antes de essa noite acabar… eu só queria agradecer a vocês. O silêncio tomou c
Camila Duarte Ricci No dia seguinte, acordamos cedo e voltamos para mansão, quando finalmente chegamso o carro deslizou suavemente pelos portões da mansão, e eu senti um peso diferente no peito. A casa parecia a mesma de sempre, mas algo dentro de mim já havia mudado. Talvez fosse a lembrança daquela última noite na praia, das palavras ditas ao redor do fogo, ou talvez fosse apenas o cansaço depois de tudo que passamos. Lorenzo segurou minha mão enquanto descíamos do carro, e antes que eu pudesse entrar, Tom chamou meu nome. — Camila, podemos conversar? A sós? Assenti, trocando um olhar rápido com Lorenzo antes de segui-lo para uma das salas mais afastadas. Tom fechou a porta atrás de nós, seu rosto sério, os olhos carregados de uma determinação que me fez estremecer. — Hoje vou dar um fim na Amber — ele disse sem rodeios. — Ela não vai parar, e eu vou pará-la antes que algo aconteça com você. O impacto das palavras me atingiu como um golpe. — Eu não quero que a ma
Isabela Duarte RicciAurora e eu sempre fomos idênticas por fora, mas por dentro? Duas estranhas. Filhas de Lorenzo e Camila Ricci, nomes que carregavam peso, poder e medo pela Itália inteira. Nosso pai era aquele típico empresário intocável, dono de um império que ninguém ousava desafiar. Mas por trás das paredes de vidro dos escritórios e das manchetes, ele era o líder da máfia italiana. Crescemos cercadas de luxo, joias caras, festas grandiosas e... solidão. Meus pais sempre foram amorosos, mas nem sempre estavam por perto. Viajando a negócios, expandindo o império, fechando acordos que jamais seriam mencionados em público. Aurora era o orgulho da família. A prodígio. A garota perfeita. Estávamos prestes a fazer catorze anos, e ela já estava esperando uma carta de aprovação de Harvard. Sim, Harvard! Enquanto eu... tentando encontrar meu lugar na bagunça que chamávamos de vida. Aurora era doce, focada, sempre com um sorriso gentil. E todos a amavam por isso, sem contar em sua