O outono já tinha começado na cidade D, o ar estava esfriando aos poucos.
Vanessa Fonseca estava encostada na porta do banheiro, com os olhos fixos na tela do celular, onde estava aberto o perfil de seu marido, Igor Ribeiro. Ao lado dele, o rosto de uma mulher estava coberto por um mosaico perfeito, mas dava para ver a tatuagem de rosa no ombro dela.
Nesse momento, ela ouviu o barulho da torneira sendo aberta e vozes baixas de fofoca de algumas funcionárias do lado de fora:
— Você viu que a Sra. Vanessa vive ocupada, nunca se arruma. Será que ela não tem medo de que o presidente faça coisa errada por aí?
— Pois é, eles já estão casados há quase três anos, mas nada de terem um filho.
— Ouvi dizer que a Sra. Vanessa não pode ter filhos...
As risadas se dissiparam e o ambiente ficou silencioso novamente.
Vanessa, com o rosto pálido, abriu a porta. No espelho em frente, ela viu sua própria imagem: um conjunto formal e antiquado, maquiagem discreta, cabelo longo preso em um coque, e um par de óculos de armação preta sobre o nariz fino, um visual muito sério e envelhecido.
Ela olhou para o espelho novamente e a imagem da foto voltou à sua mente. Como aquele homem poderia ser seu marido, Igor?
Quando descobriram que ela não podia ter filhos, ele não a abandonou. Estavam casados há três anos, ela ajudava a gerenciar a empresa, se dedicava ao trabalho, e ele sempre foi muito atencioso com ela.
— Vanessa. — Uma voz suave e melodiosa de repente soou por trás dela.
Vanessa voltou à realidade e tentou se acalmar.
— Vanessa, o que houve? Você está com uma cara péssima. — Rafaela Lopes se aproximou, olhando para ela com preocupação.
— Nada. — Vanessa respingou água fria no rosto e levantou a cabeça, só então notando que Rafaela estava usando um vestido branco de alças, com o cabelo cacheado preso em um coque alto, maquiagem impecável e um strass colado no canto do olho direito.
— Por que você está vestida assim? — Vanessa ficou surpresa e secou as mãos com uma toalha de papel.
Rafaela sorriu com os olhos, abraçando-a com carinho.
— Vanessa, você está meio perdida? Hoje é a festa de comemoração da empresa, nosso projeto com o Grupo Barbosa foi um sucesso.
Festa de comemoração?
Vanessa de repente se lembrou que tinha passado os últimos três meses trabalhando duro para fechar o contrato com o Grupo Barbosa, e que hoje era a festa de comemoração.
Quase tinha sido confundida pela mensagem no celular.
— Então, Rafaela, você pode esperar um pouco...
Vanessa parou de repente, seus olhos fixaram nas costas de Rafaela, onde a tatuagem de rosa era impossível de ignorar.
— Vanessa? O que foi? — Rafaela perguntou, como se não soubesse de nada, inclinando um pouco o ombro, destacando ainda mais a tatuagem.
O coração de Vanessa afundou pesadamente, caindo de repente num abismo.
Antes, ela ainda conseguia se convencer de que a foto era montagem, mas agora, com a dona da tatuagem bem na sua frente, como ela poderia enganar a si mesma?
Mas... Por que era Rafaela?
Rafaela tinha sido escolhida por ela logo após se formar na faculdade, e durante todos esses anos, Vanessa a tratou quase como uma irmã mais nova. Igor sempre brincava dizendo que Vanessa não estava sendo boa demais com Rafaela?
Quem diria...