Luke Anderson
Abro a cortina do quarto em que Brendan e eu estamos hospedados, observando as luzes de Nova York avivar a noite. Amo o Texas, mas ainda prefiro o barulho, as mulheres e o conforto da cidade grande. Mas graças ao Charles, meu querido pai, tudo isso acabará, já que está pretendendo me casar com Georgia, filha de Thomas Evans, prefeito de Brastop e seu amigo íntimo. E uma coisa que meus irmãos e eu aprendemos desde pequenos é que não existe meio termo para o todo poderoso Charles, mesmo ele sabendo que eu tenho sérios problemas com casamentos e compromissos.
— Não adianta chorar como se não tivesse amanhã, Luke. Você se casará até o fim do mês, então, acho bom aproveitar suas últimas noites e foder algumas bocetas. — Ele j**a uma almofada em mim e eu gargalho. Brendan e eu sempre fomos mais que irmãos, mesmo que diariamente estejamos sempre implicando um com o outro, enquanto Kyle preferiu a distância e suas amizades dentro de corridas clandestinas, as quais acha que estamos no escuro.
— Vincent disse em qual pub vai estar nos esperando? — Vincent é um amigo antigo da família. Nos conhecemos desde novos, mas já tivemos nossas desavenças por causa de uma garota. Em partes por minha culpa, mas ela escolheu a mim de qualquer forma.
— É perto daqui. — Ele veste o casaco e rouba as chaves do meu carro alugado.
— Babaca! — reclamo, pegando-as de volta. Brendan sabe o quanto odeio ser carona. Tenho um amor especial por poucas coisas no mundo, entre eles dirigir. Principalmente o meu Corvette, que me aguarda no Texas, e Major, o corcel negro que me acompanha desde quando eu era um moleque.
— Quero ver se será possessivo assim com a sua esposa — zomba.
Visto meu blazer, pronto para sairmos.
— Há de nascer a mulher que me domará… — replico ao vê-lo cruzar a porta de entrada.
— Nunca diga nunca, brother.
— Você sabe o que penso sobre casamentos. — Ele dá de ombros, ciente que refiro-me ao matrimônio falido dos nossos pais, mas estamos atrasados demais para discutirmos sobre esse assunto.
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Hell Hole é um pub voltado para um público mais interessado em prazeres carnais. Mulheres deslumbrantes se enroscando em barras de pole dance são o atrativo principal, juntamente com as garçonetes que caminham entre as pessoas usando microssaias, que não deixam nada para a imaginação, e máscaras com plumas e lantejoulas. Doug, o amigo de Vincent, explicou que escolhemos conhecer o local justamente na noite dos mascarados, onde o prazer oculto é o tema principal. Confesso não me sentir à vontade num lugar em que a grande maioria possui o rosto encoberto. Estou conversando há meia hora com uma mulher que se esconde atrás de uma máscara de um felino e não podia ser mais constrangedor, porque tento desvendá-la através dos seus olhos azuis, mas não vejo nada além. Deveria ser instigante, mas o raso se torna irritante.
O tédio parece cansá-la ao inventar uma desculpa para me deixar sozinho, enquanto Brendan está há algum tempo conversando com a sósia da viúva negra. Procuro Vincent pelo salão e vejo-o trocando algumas palavras com a barmaid. Pelo menos ela não está usando uma máscara.
Caminho a passos largos até os dois, louco para voltar ao conforto do hotel. Não me sinto animado para nada. Não sei se devido à noite irritante ou ao casamento arranjado por meu pai.
— Poxa, que merda! — Vincent j**a conversa fora, enquanto me sento ao seu lado.
— Uma caneca de chopp! — peço à barmaid, conforme checo as mensagens em meu celular. Como sempre, meu pai parece irritado por termos viajado às pressas. Aparentemente, Geórgia apareceu no rancho à minha procura e agora está servindo como companhia para um Charles irritado.
Ele não mora mais conosco, mas continua a atormentar-nos com suas visitas impertinentes.
— Você se lembra de Luke? Luke Anderson? — Vince diz meu nome como se de fato conhecesse a mulher e tem a minha atenção. A garota do outro lado do balcão não me parece estranha. Mechas negras e onduladas caem sobre os seios fartos. Seus olhos estão esbugalhados como se tivessem visto um fantasma.
— Lembra-se da Evie, Luke? — Encaro-o, atordoado, tentando entender do que está falando. — A pirralha… — Deixo minha cabeça tombar para o lado.
— Vince… — ela deixa escapar uma risadinha cúmplice, enquanto vira um shot de tequila.
— Irmã de Loren. — Vince dispara com certa mágoa e finalmente encaro a mulher à frente, deixando um turbilhão de sentimentos me invadir. Loren... Ex-namorada de Vince, discussão entre amigos e uma virgindade roubada após semanas de cantadas baratas no lago e ao lado da garota que me encara com olhos arregalados agora. Engulo em seco.
Puta merda!
— Pirralha? — questiono, tentando enxergar a menina cheia de espinhas, com aparelho nos dentes e uma franja horrorosa. Os cabelos estão mais longos e, mesmo desordeiros, se tornou um selvagem bonito.
Se é que tem alguma coerência nisso!
E ainda que tenha olheiras profundas, vejo o quanto está fisicamente mais interessante. Seus lábios se abrem em um sorriso amarelo, nada amistoso, e não esqueço das vezes em que Loren e eu tivemos que suportá-la por perto por medo dos Clarkes mais velhos.
— Não sou mais uma pirralha… — soluça. Pela voz arrastada, parece tão embriagada quanto Vince, que ri de algo inexistente. Ela caminha para pegar mais chopp e noto que está usando o mesmo uniforme das garçonetes, sendo sua saia mais apertada devido às coxas avantajadas.
— E a Loren? — Olho em volta para ver se a vejo em algum lugar, com seus cabelos de fogo e olhos grandes. Seria uma boa foda para hoje.
— Ela se foi… — Evie revela baixinho e a observo, confuso. Se foi para onde? Viajou? Os olhos dela soam tristes. — A perdemos para a diabetes… — Pisco os olhos, sem acreditar.
Isso é sério?
— Era isso que estávamos conversando — Vince interrompe. Ele realmente era apaixonado por Loren, mas há males que vêm para o bem. Se tivesse continuado com ela, se prenderia de fato muito rápido e nunca seria o puta advogado que é hoje. Talvez até teriam filhos.
— Mas quando? — tento demonstrar compaixão. Estou surpreso, mas não posso mentir e dizer que mexeu profundamente comigo. Seria hipocrisia quando éramos pouco mais que amigos coloridos. — Como? — Seus olhos aparentam duas avelãs cansadas quando dá de ombros.
Ela se serve novamente e vira o chopp sem pestanejar. Levanto uma sobrancelha. A garota b**e com a caneca no balcão e desliza o polegar em volta dos lábios, a fim de limpar os vestígios da bebida.
— Sede? — solto um sorriso malicioso, pensando em seus lábios em torno do meu pau. Ela deixa escapar um sorriso de escárnio e me observa lentamente.
— Não me resta muito… — revela.
— Que tal um brinde à Loren? — Vince dispara ao se levantar e percebo que também está embriagado.
Que mórbido!
A gargalhada de Evie preenche o ambiente e a encaro, curioso.
— Mórbido? — questiona. Eu falei em voz alta? Ela estica uma caneca na direção de Vince e os dois brindam tristemente.
— Vocês estão bem altos, não deveriam misturar as coisas.
— Tá bom, papai! — caçoa. E deixa descer mais bebida goela abaixo. — Papai! Puta merda! — Ela cospe a bebida em mim e meu rosto se encharca com chopp.
Os dois caem na gargalhada, quando xingo todos os palavrões possíveis. Direciono-me até o banheiro e, puto da cara, lavo o rosto e retiro a camisa. Que garota mais irritante. Pelo visto, continua chata e impertinente.
Lembro-me das vezes em que eu tentava ficar um tempo a sós com sua irmã e lá estava ela: irritante, feia e com aqueles olhos grandes em cima de mim.
Assim que termino de vestir a camisa lavada e consequentemente molhada, penso em voltar para o hotel. A noite foi uma merda e estou louco para vê-la pelas minhas costas. Que ótimo! Vou voltar para Brastop com o saco cheio, pronto para vender a minha alma ao diabo, também conhecido por Charles.
— Preciso do carro! — Brendan surge do nada.
— Nem pensar! — Começo a andar, mas ele me intercepta.
— Sério, Luke. Ou vou usar os meus brinquedos no quarto em que você está dormindo. Você escolhe! — Encaro seus olhos verdes, a marca de quase todos os Andersons, já que Kyle é o único que puxou os olhos escuros de nossa mãe.
— Pensei que a despedida era sobre mim.
— Não fodeu porque não quis, tem muitas bocetas nesse lugar! — Ele estende a mão.
— Todas mascaradas. Não me excito com o mistério como você, irmão… — Entrego-lhe o molho de chaves.
— Você que não sabe aproveitar os prazeres da vida… — zomba, enquanto se afasta lentamente. Filho da puta!
Retorno para o lugar onde havia deixado Vince e percebo que Evie está sozinha, com a caneca de chopp como companhia. Tem alguma coisa acontecendo com ela, pois a pirralha era chata, mas vivia falando sobre Nova York, sua faculdade e seu emprego dos sonhos. Só não lembro qual.
Nunca fui um bom ouvinte…
— Onde está o Vince? — questiono, assim que volto a sentar em frente ao seu balcão.
— Nossa! — Ela senta-se desleixada à minha frente. — Muito fraaaaaaco para bebida… — Vejo que nesse meio tempo ela parece pior.
— Me faz um sexy on the beath, por favor. — Uma mulher pede e noto que, pelo andar de Evie, está longe de conseguir fazer alguma coisa que preste.
Evie deixa uma laranja rolar pelo chão e quase cai junto ao tentar pegá-la de volta. Seguro o riso, mas paro quando a moça ao meu lado me olha de cara feia. Doug bufa de onde está.
Aaaah, pirralha…
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Terminei a noite dentro do bar servindo várias pessoas, enquanto Evie reclamava que faltavam ingredientes em todos os drinques que preparei. Tive vontade de mandá-la para a merda, mas seria injustiça com uma poça de bosta! Era para eu ter voltado para o hotel há tempos, já que descobri que Vince havia ido embora, mas fiquei com pena da pirralha, uma vez que não tinha nem condições para beber mais. Agora, ela está contando as bolhas que possui na garrafinha d’água que Doug e eu lhe demos, em algum momento da noite, para que conseguisse ir para casa, assim que seu turno terminasse.
Expliquei ao segurança que conhecia a pirralha desde que ela era uma fedelha chata e falante.
— Leva ela para casa, amigo. — ele pede. — O Macfie vai comê-la viva se a encontrar assim. Ele é o dono desse inferno e ela precisa desse cascalho!
— Eu naaaaaaaão prexiso que eche Luke me leve. — Crava as unhas no meu peito. — Noshaaaa, vochê é fortinhooooo… — e ri. Faço uma careta feia para ele, e Doug responde:
— Ela precisa, cara. São poucas quadras daqui. Só não a levo porque não vim de carro. — E é nesse momento que penso na merda do Brendan, sua foda da noite e no meu automóvel emprestado.
Você me paga, Brendan!
— Ok. Vou levá-la! — Puxo-a pelo braço, mas ela volta a cair sentada na poltrona em que a colocamos desde que a danceteria fechou. Sim! A merda já fechou e eu continuo aqui dentro, com uma pirralha bêbada, um segurança carrancudo e a garrafinha de água com gás e suas bolhas engraçadas, como Evie disse um pouco mais de mil vezes.
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Evie dorme durante os dez minutos de trajeto que o taxista faz para o prédio onde mora. Doug me passou seu endereço e fui obrigado a fazer essa boa ação da noite. Olho para seu rosto sereno e penso em Loren. Acho que fui insensível quando falei o quanto seria mórbido brindarmos a ela, apesar de não ter mentido.
O motorista para diante de um prédio antigo que precisa de várias reformas. Olho para a pirralha e mais uma vez seus sonhos me vem à mente. Sacudo-a com as mãos e ela demora a despertar, fazendo-o segundos depois.
— Se quiser, te levo lá em cima.
— Não! — Dá um grito estrangulado, assustando a mim e ao motorista, que me olha como se dissesse: garota doida, moço!
É, amigo, bem-vindo ao clube.
Percebo que parece mais sóbria agora. Nitidamente envergonhada por sua atitude e, prontamente, faz que não com a cabeça ao encarar a estrutura quase caindo aos pedaços.
Vejo-a piscar os olhos diversas vezes, parecendo atordoada. Franzo a testa, percebendo alguma coisa a incomodando.
— Você está com algum problema, Evie? — pergunto com sinceridade. — Se estiver, posso tentar ajudar de alguma forma. Um empréstimo talvez. — Porque, com certeza, o mal dela é dinheiro.
Ela ri com escárnio, saindo do carro.
— Agora é tarde, Luke Anderson. Não há mais o que você e seu belo dinheiro possam fazer por nós. — E cambaleia até a entrada do seu prédio, deixando-me confuso.
Ela disse nós?