Da água pro vinho
Da água pro vinho
Por: biah lhp
o começo de tudo.

Nunca gostei da prisão, obviamente não é o lugar que retrata o que desejo para meu futuro, mas ainda sim, aqui estou eu, olhando para o homem que pensei por um tempo sentir pelo menos uma atração por minha pessoa, posso não ser a mulher ideal para alguém como ele, isso eu sei muito bem, mas ainda sim, jamais esperaria algo tão baixo quanto o que acabei de ouvir, ou seria eu que tivesse sido iludida demais? De qualquer maneira, agora já não é mais relevante, afinal, o passado não pode ser mudado, mas posso mudar o rumo das coisas a partir de agora.

- Bianca…- Ele começou a dizer com a voz falha, eu poderia até dizer que o sentimento que sua voz transmite é real, mas agora já não acredito mais nesse homem, como poderia depois disso? - Por favor, eu estou lhe implorando…- Ele se desesperou e logo tratou de cair de joelhos em minha frente, tudo sobre meu olhar completamente gélido em sua direção, conseguindo sentir todos os sentimentos bons que eu nutria por ele se transformarem em algo maior e negativo, não conseguindo sentir nada além de uma enorme frieza. - Não me deixa aqui, não me deixa assim.- O desgraçado pateticamente implorou de joelhos na minha frente, como se isso fosse de alguma forma mudar o que ele fez.

- Bom…- Comecei a dizer ao abrir um sorriso frio em sua direção, tendo em mente o quão ridículo ele está sendo por achar que eu o perdoaria após tais palavras que podem muito bem serem da boca pra fora. - Pois deveria ter pensado nisso antes, não acha? - Perguntei ironicamente ao encarar o rosto do homem em lágrimas aos meus pés. - Antes de me humilhar na frente de todos sem pensar em meus sentimentos, agora não há razão para pensar nos seus, não é mesmo? - Complementei de forma fria, olhando pela última vez nos olhos do homem ajoelhado em minha frente, antes de respirar fundo, engolindo o enorme nó em minha garganta e me virar, caminhando em direção a saída sem olhar para trás, podendo ouvi-lo me chamar a plenos pulmões.

Não posso mudar o passado, mas garanto que isso jamais se repetirá.

Meses Antes.....

Puxei o ar com força pelo nariz, sentindo meus pulmões se preencherem para logo em seguida esvazia-los, deixando meu corpo lentamente acordar do sono profundo no qual me encontrava, dormir é de fato uma das melhores coisas na vida de uma adolescente, quer dizer, sabe-se lá quando vamos conseguir dormir na vida adulta, não é mesmo? A pior coisa que existe durante a adolescência é ser acordada enquanto está tendo um bom sono, sinceramente, não sei o que é pior.

- Babie…- Ouvi a voz de meu irmão seguida por algo gélido tocando em meu braço, soltei um leve resmungo e abri um de meus olhos para encarar sua mão me cutucando. - A mãe mandou você acordar. - Ele falou seriamente, mas eu apenas bufei e girei na cama, tentando ignorá-lo, mas novamente ele voltou a me cutucar, me fazendo soltar um suspiro e virar para encará-lo. “ Me deixe em paz Hugo, some. “ Falei irritada por ter atrapalhado meu sono, sinceramente, quem merece isso? Poderia ser considerado tortura. - Qual é Bibi, ela tá bem irritada…- Ele voltou a falar parecendo receoso, quer dizer, eu sei como nossa mãe é, mas qual é, dormir é um momento sagrado, ou pelo menos deveria ser. Hugo voltou a me cutucar, o que me fez soltar um resmungo antes de me levantar de vez na cama.

Melhor encarar a realidade em que vivo do que acabar explodindo com ele, não é mesmo? Levantei a contra gosto e segui em direção ao banheiro, me sentindo como um zumbi, completamente embriagada pelo sono ainda, definitivamente minha alma está em processo de d******d neste momento. Parei a frente da pia, mas não tive coragem de me encarar no espelho, apenas comecei a seguir minha rotina e passei a fazer minhas higienes matinais como de costume. Como já estou parcialmente acordada, não custa nada me apresentar de forma rápida para vocês, não é? Imagino que estejam curiosos, então deixe-me apresentar, me chamo Bianca, nome comum como percebem, e como a maioria das pessoas eu tenho um apelido, me chamam de Bibie, sintam-se a vontade para me chamar assim, eu tenho 17 longos anos e graças a deus estou no último ano da escola, então posso dizer que este é de fato o meu melhor ano lá, tenho 1,65 de altura, de fato não é grande coisa, mas é mediano dentre minha idade, no entanto, há um problema, pois minha médica insiste em dizer que estou acima do peso para a minha idade.

Como se peso fosse sinônimo de saúde ruim.

As características não são muito diferentes das de muitas adolescentes, meus cabelos são cacheados, comum para brasileiras, infelizmente eu uso aparelho mas não é como se isso fosse ruim, apenas indica que me preocupo com minha saúde bucal, diferente de muitas adolescentes afora, mas não é exatamente assim que meus colegas de escola pensam. Diferente das jovens no qual sou obrigada a conviver naquele lugar, não curto rosa ou roupas muito chamativas, quer dizer, preto é muito melhor e mais básico para o dia a dia, sem contar que roupas largas te deixam muito mais confortáveis em qualquer situação, então eu não tenho vergonha em dizer que prefiro me vestir dessa forma.

Não tardei muito para terminar meu banho, já que consigo ouvir os gritos de minha mãe pela casa, então logo tratei de me retirar do banheiro tendo em mente que ela está uma fera, e como uma filha caseira eu obviamente faço tudo o que essa mulher manda. Após vestir minhas roupas e me arrumar devidamente para mais um dia da rotina escolar, arrumo minha mochila para a escola, já que está quase dando um hora da tarde e com certeza acabarei me atrasando se demorar mais e isso não seria nada bom para mim, principalmente para meu currículo. Desci para o andar de baixo e me despedi de todos de forma rápida antes de sair de casa rumo ao colégio.

Como em toda escola, a minha também segue a regra da pirâmide, quer dizer que os mais populares quem mandam por lá, e eu como podem imaginar, não sou uma deles, muito pelo contrário, qualquer pessoa que se aproximar de mim já é motivo de desconfiança, já que todos apenas me dirigem ofensas ou algo similar, não é grande coisa, é engraçado como pessoas como eu são ovelhas na escola, mas somos nós quem acabam se tornando lobos no mercado de trabalho. Para não dizer que não tenho ninguém ao meu lado, Olivia existe, ela é tudo que eu poderia querer como amiga, no caso, melhor amiga e também a única pessoa que me defende com unhas e dentes, de fato a melhor amiga que eu poderia ter e querer, não preciso de mais ninguém daquele lugar.

- Olha só quem temos aqui ! - Olivia gritou pelo corredor e logo correu em minha direção. - Fala aí Vaca velha. - Ela falou de forma divertida ao me abraçar pelos ombros, me fazendo soltar uma leve risada com sua fala. “ Você é meio doida, sabia? “ Perguntei de forma divertida ao abraçá-la de volta, encarando a feição alegre da mesma que revirou os olhos com minha fala. “ Mas as melhores pessoas são assim, relaxa. “ Comentei piscando para ela que soltou uma risada escandalosa. - Também te adoro bibi. - Ela rebateu de forma convencida e foi minha vez de revirar os olhos. - Temos aula de matemática, você vai ajudar sua amiga aqui né? - Ela perguntou ao ousadamente erguer a mão e apertar minha bochecha.

- Odeio quando faz isso, você sabe. - Comentei ao jogar o rosto para o lado, a fazendo soltar minha bochecha e soltar uma risada. “ É exatamente por isso que faço. “ Ela rebateu soltando uma risada que me fez negar com a cabeça. - E sabe que sempre te ajudo. - Complementei abrindo um sorriso para ela que também abriu um e soltou um suspiro satisfeita, sabendo que não vai repitir em matemática graças a mim,afinal, matemática e português são as matérias mais importantes da grade escolar, sem elas, você não vai a lugar nenhum.

E não é querendo soar convencida ou me gabar, mas sou a aluna mais inteligente de minha turma, claro que isso não é um dom mágico que caiu dos seus, sempre fui muito dedicada nos estudos e isso me fez ser quem sou hoje, e graças a deus estou garantindo meu futuro e dando uma força pra Olivia conquistar o dela também, a mesma apesar de não ser tão boa nos estudos, merece coisas boas em sua vida, então a ajudarei com certeza já que tenho certo nível de inteligência. Afinal, já bastava ser feia, agora burra? Jamais. Passamos pela porta da sala momentos depois, e logo fui surpreendida quando um dos populares da sala colocou o pé a frente da porta para que eu caísse, e foi exatamente o que acabou acontecendo, sem nem conseguir raciocinar direito, senti meu corpo colidir com o chão, me fazendo resmungar pela leve dor, podendo ouvir risadas vindo de todos os cantos da sala.

- Qual é seu problema? Vai se foder Vinicius - Olivia tomou minha frente em uma velocidade absurda, quando me ergui eu pude vê-la empurrando Vinicius completamente revoltada com o que ele acabará de fazer. - Não viu que ela estava entrando seu idiota? - Ela perguntou de forma retórica, já que obviamente ele sabia que eu estava entrando, não precisa ser muito inteligente para saber que isso foi algo arquitetado pelo mesmo e até pelas outras pessoas da sala, é apenas mais um dia comum sendo eu.

- Ai, droga, a gordinha caiu? - Ele perguntou de forma cinica ao virar os olhos para mim por breves instantes, enquanto seus amigos riem ao seu lado, me fazendo sentir uma enorme vergonha, apesar de saber que isso é culpa dele. - Até o Jpão deve ter sentido sua queda. - Ele comentou ao voltar a rir quando Olivia tocou gentilmente meu ombro, em uma pergunta silenciosa para saber se estou bem, mas ao ouvir o comentário ridículo do garoto, ela se voltou para ele no mesmo instante.

- Seu desgraçado, eu vou matar você ! - Ela praticamente voou na direção dele com sangue nos olhos, pronta para arrumar uma briga das feias por mim como sempre está disposta a fazer e eu reconheço isso é claro, mas também sei que no fim vai acabar sobrando para ela e como é nosso último ano, isso ficará bem registrado em nosso boletim escolar e não quero que ela tenha problemas para conseguir uma faculdade.

- Olivia ! - A chamei ao avançar em sua direção, a puxando pelo braço com força para impedi-la de atacar Vinicius, a mesma me encarou surpresa antes de voltar a olhar para o garoto com raiva. - Não faz isso, não vale a pena, só deixa isso pra lá. - Aconselhei de forma séria enquanto segurava o braço dela, sabendo muito bem que o temperamento de Olivia não é algo para se brincar, a mesma sempre foi muito explosiva e boa de briga.

- Isso mesmo Olivia…- Vinicius começou a dizer ao abrir um sorriso debochado em direção a minha amiga. - É melhor escutar o que a mini baleia está dizendo ou vai ser pior pra você, entendeu, Olivia palito? - Ele terminou ao começar a rir com seus amigos como se tivesse saído por cima, como se o que ele disse tivesse sido a coisa mais engraçada do mundo, mal sabe ele o quão ridículo soa tudo o que ele diz, me pergunto qual seria o futuro de Vinicius, com certeza não será nada bom, pessoas como ele nunca conseguem chegar muito longe na vida. Ignorando completamente o que ele disse, logo tratei de puxar Olivia dali antes que algo pior acontecesse.

Nos dirigimos em direção às nossas carteiras de sempre, enquanto escuto Olivia resmungar e proferir xingamentos que sei serem direcionados a Vinicius e seu grupinho de idiotas, o que me fez soltar uma risada discreta, mas logo ficar séria quando o professor adentrou a sala de aula e começou a passar a matéria. O restante do dia na escola se passou tranquilamente graças a deus, não aguentaria outro tipo de idiotice de outros alunos, sem contar que mandei bem nas aulas de hoje como de costume, me sinto radiante. Quando saímos da escola, Olívia começou a procurar por algo na bolsa, algo que provavelmente se trata de cigarro, até que a mesma se deu conta de que tinha acabado e ela não havia comprado mais antes o que a fez me encarar com um sorriso sem graça.

Olivia é fumante desde que tinha catorze anos de idade, todavia, os pais dela não fazem a minima ideia sobre isso, nem sequer imaginam que a mesma fuma, então sempre acaba sobrando para mim ir ao bar pra comprar pra ela, assim ninguém conta a mãe dela que a viu comprando cigarro, claro que é algo meio idiota, mas é algo que amigas fazem uma pela outra. Revirei os olhos e agradeci mentalmente por ter um bar próximo do colégio, então não demoraria tanto, Olivia ficou me aguardando enquanto eu adentrei o bar e logo quando adentrei reparei que tinha alguns garotos mal encarados na porta do mesmo, mas pouco me importei, adentrei o bar e comprei o cigarro sem muitos problemas como imaginei, já que hoje em dia ninguém se importa de fato com o que as pessoas fazem, então adentrei o lugar e saí rapidamente.

Mal sabendo que neste dia minha vida tomaria um rumo diferente do que eu imaginava.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >
capítulo anteriorpróximo capítulo

Capítulos relacionados

Último capítulo