a aposta

Point of View. - Lobão.

Eu estava dormindo tranquilamente, literalmente em meu décimo sono quando de repente meu rádio começou a apitar indicando que alguém estava tentando se comunicar comigo, me ergui em um sobressalto e logo o peguei, percebendo que era o Travis, chefe de Paraisópolis inteira, o dono da porra toda, o mesmo apenas queria me incomodar, apenas encheção de saco para me mandar ficar mais atento quando nossa mercadoria chegasse para não ocorrer nenhum problema com os tiras. Não demorei muito para ir me arrumar e ir em direção ao morro, e ao descer para minha cozinha acabei me deparando com uma foto de minha mãe pendurada na geladeira, no mesmo instante senti uma sensação ruim preencher meu peito e logo rasguei a imagem pendurada ali e a joguei no chão.

Bom, como acredito que vocês não sabem quem sou, seria educado de minha parte me apresentar para vocês, então vamos nessa, me chamo Cristian Santana e tenho vinte e cinco anos de idade, minha vida já não é fácil desde cedo, quando tinha quinze anos de idade minha mãe simplesmente foi embora de casa, desapareceu mundo a fora me deixando sozinho para cuidar de minha irmã, Raissa, que na época tinha apenas dez anos de idade, devo dizer que não foi a melhor experiência do mundo, mas logo após sua saída misteriosa eu conheci Thiago, vulgo Travis, que me fortaleceu nessa caminhada e me ajudou bastante no corre da vida, devo muita coisa a ele, acabou se tornando como um irmão para mim.

Eu sou considerado um pouco alto, tenho 1,80 de altura, gosto de trabalhar meu corpo e fiz isso desde cedo o que me rendeu um corpo bem definido, mas nada exagerado,nem eu sei direito minha cor e gosto de manter meu cabelo sempre cortado, sempre na régua como os cara do morro, mesmo estando no crime a vaidade também é importante, não? Me arrumei de forma rápida para tomar café, percebendo que minha irmã já havia cuidado disso mais cedo, a mesma se encontra sentada comendo enquanto se mantém concentrada em alguns livros acima da mesa, livros esse que julgo ser da faculdade em que ela estuda, a mesma está tão distraída ao ponto de dar um sobressalto quando seu olhar se encontrou com o meu o que me fez soltar uma risada ao me aproximar.

- Cacete…- Ela resmungou ao colocar uma das mãos no coração e tive que negar com a cabeça ao me aproximar. - Não sabia que estava aí filhote de cruz credo, bom dia pra você também. - Ela falou soltando uma risada descontraída, passei por de trás dela de forma rápida e depositei um tapa em sua cabeça, logo a ouvindo grunhir enquanto vou em direção a pia.

- Bom dia oferenda recusada ....- Desejei de forma divertida a ouvindo resmungar em seguida enquanto pego uma xícara. - Com dificuldades por ai? - Perguntei ao me virar e apontar na direção dos livros na mesa ao pegar a garrafa de café e depositar um pouco na xícara, pois eu não posso sair de casa sem tomar um pouco desse maravilhoso líquido, quem vive sem café hoje em dia? Acredito que é uma das únicas coisas que mantém o ser humano funcionando nos dias de hoje.

- Pois é…- Ela falou ao fazer uma expressão séria ao encarar o livro novamente. - Não to conseguindo entender essa m*****a matéria, é um saco. - Ela falou ao apontar para o livro, visivelmente estressada por não estar conseguindo acompanhar a matéria. Raissa sempre foi uma ótima garota desde muito nova, e recentemente ela decidiu começar na faculdade, me surpreendeu ao escolher cursar direito, algo que realmente me deixou impressionado, mas que eu dei meu total apoio para que ela siga em frente, torço para que ela consiga ser o que deseja, ela merece ter uma boa vida. Faço uma leve careta e rapidamente pego o livro da mesa, observando os enormes textos presentes e começo a ler com atenção, logo dizendo a ela o meu ponto de vista, o que eu entendi ao ler o conteúdo presente, torcendo para que isso a ajude de alguma forma, quer dizer, eu nunca fui muito fã de estudos e muito menos da escola, mas consegue sem dificuldades chegar no segundo ano do ensino médio, não era o melhor da turma, mas sempre fui inteligente da minha maneira, claro que não se compara a faculdade, mas me sinto na obrigação de ajudá-la.

Pelo menos preciso tentar, é o mínimo que posso fazer por ela.

A mesma agradeceu e voltou a ler novamente em seguida, e eu não a peturbei mais, sabendo que ela precisa de espaço para estudar, então não tardei a terminar meu café e me despedir dela, sai de casa e logo subi em direção a casa de Travis que me esperava, logo o encontrei na sala, o mesmo está sorrindo alegremente, e não é pra menos, já que ele vai se casar em breve, sinceramente eu já conheci muito bandido e já assisti muitas coisas sobre a favela, mas onde já se viu bandido apaixonado? Sinceramente, é de matar mesmo, se bem que a mulher dele é gente boa, bem educada e gentil com todos, além de respeitar nosso corre como muitas não fazem por aí, é um bom partido pra ele e por esse e outros motivos eu não comento nada sobre.

- Fala ai meu pit…- Ele falou animado ao me encarar com um sorriso. - Como vai garoto? - Ele perguntou ao se aproximar de mim, dando um tapa amigável em meu ombro antes de me abraçar pelos ombros. “ Estou bem cachorro, e você? “ Perguntei ao dar um leve tapa em suas costas, abrindo um sorriso ao perceber que o mesmo está realmente contente com o casamento, devo admitir que é bom vê-lo tão contente. - Estou de boas, tranquilo..- Ele respondeu ao soltar um suspiro que me fez soltar uma leve risada. - Só estou esperando o Buiu pra gente ir lá no bar tomar uma cerveja, lá na Tia Val, vai com a gente né? - Ele perguntou ao virar o rosto para mim, erguendo uma sobrancelha, obviamente não aceitará um não como resposta, conheço ele bem, além do mais, não há motivos para negar uma cerveja geladinha, não é?

- Pode pá então…- Respondi dando de ombros e ele acenou com a cabeça. - Vou só adiantando umas coisinhas enquanto isso, beleza? - Perguntei ao dar outro tapa em suas costas ao me afastar minimamente dele, o mesmo sorriu satisfeito e acenou para mim antes que eu saísse em direção ao outro cômodo para checar algumas coisas importantes para os negócios. Logo tratei de pegar o livro de contabilidade e bati com os acontecimentos do mês, percebendo que estava tudo nos conformes, gosto de checar sempre que possível para garantir que nenhum filho da puta estrague nosso corre. Após fazer a checagem, desci para o asfalto para cobrar os drogados que estão nos devendo a algum tempo, não tardei muito para resolver o problema, coisas simples assim são básico por aqui, então voltei a tempo, bem no horário do almoço e me encontrei com os caras no bar da tia Val, rimos e nos divertimos enquanto jogamos dominó e bebemos uma breja bem gelada, um início de tarde calmo para nossa sorte.

Soltei um suspiro e neguei com a cabeça observando o jogo, os meninos sempre acabam por escolher dominó para passar o tempo pois sabem que eu sou péssimo no jogo, já eles são profissionais, até sabem que peças você pega apenas por observar o jogo, é impressionante, então como o esperado eu acabei perdendo pela terceira vez na tarde, e como dito ao iniciarmos as três rodadas, eles escolheram um “ Castigo “ para mim por ter perdido, justo? Com certeza não, mas como eu aceitei, vou ter que seguir com as consequências de qualquer maneira, só espero que não seja nada muito pesado. De repente, logo após eu ter perdido o jogo, adentrou uma garota um pouco acima do peso no bar, dá para perceber o quão desajeitada ela é. Dei de ombros e voltei a encarar os garotos sem dar muita importância, mas ao ver o sorriso malicioso que eles abriram para mim, eu soube que isso vai dar merda em algum momento, ao olhar novamente para garota, pude vê-la melhor, e a reconheci como a filha da do Dona Ana.

- Então…- Um dos garotos começou a dizer, chamando minha atenção para ele que abriu um sorriso divertido. - Já temos o seu castigo, preparado? - Ele perguntou ao soltar uma risada, sendo acompanhado pelos outros presentes. “ Lá vem vocês com suas ideias…” Falei ao soltar uma risada nervosa e negar com a cabeça antes de soltar um suspiro e me encostar na cadeira sabendo que nada de bom vai sair da boca deles. - Nós desafiamos você a ficar com a filha da Dona Ana. - Ele falou de forma direta e eu fechei os olhos por breves segundos, absorvendo a informação antes de soltar o ar com força. - Obviamente vai ter que nos dar alguma prova de que ficou com ela. - Ele falou e os outros rapazes concordaram e riram no mesmo momento como se isso fosse algo comum, algum tipo de piada, e talvez seja mesmo, imagina como minha reputação vai ficar depois disso?

- Ah cara, pelo amor de deus né? - Falei um pouco mais exaltado e virei a cabeça para encarar a garota de novo, a vendo comprando cigarro, a observei com atenção, definitivamente não é o tipo de garota com quem eu ficaria, jamais daria ideia nela. - A garota é horrível, vocês estão sendo crueis. - Falei apontando disfarçadamente para a garota e fazendo uma feição desgostosa ao me imaginar tendo que ficar com ela, sinceramente, não tenho nada contra a garota, mas eu tenho uma reputação legal entre as mulheres daqui e isso vai fuder tudo. “ Por isso o nome é castigo, não? “ Buiu comentou ao soltar uma gargalhada e eu revirei os olhos. “ Vai arregar? Não pode dar para trás hein, ou vai virar um cuzão. “ Travis falou apontando pra mim enquanto ri com os outros, me fazendo bufar frustrado ao passar a mão por meus cabelos. - Tá bom caralho, eu fico com a gordinha e mando foto para vocês. - Falei dando de ombros, afinal eu vou ter que fazer o que prometi, custe o que custar.

- Aee. - Eles gritaram satisfeitos enquanto eu apenas neguei com a cabeça. É impressionante que quando tudo está tranquilo alguma merda aparece, olha só no que eu acabei de me meter? Posso ser o que for, mas nunca gostei de brincar com os sentimentos das pessoas dessa maneira, ela pode ser feia, gorda e qualquer coisa, mas ainda é uma pessoa, todavia, não é como se eu tivesse escolha agora, ainda mais depois de aceitar sob pressão, agora não tem mais volta. Ainda no bar, comecei a procurar pelo i*******m, como conheço muita gente do lugar, não demorei a encontrá-la e enviei uma solicitação para segui-la, torcendo para que a mesma aceite, espero que ela veja logo também. A minha intenção era ficar mais tempo no bar com os garotos, porém a carga que estamos esperando chegou e tive que subir em direção ao galpão para organizar as coisas para a entrega.

Demorou um pouco pra conferir todos os produtos, já era quase de noite quando terminei de conferir tudo, cada produto para que não houvesse problemas depois, além de guardar cada produto entregue. Logo após isso eu passei na sala do Travis e deixei as anotações que fiz no dia lá para que ele confira tudo, principalmente o material em si, em seguida fui para casa após um dia exaustivo com as cargas, tomei um merecido banho e desci pra jantar, percebendo que Raissa não está em casa, provavelmente ainda está na faculdade ou na casa de algum garoto por ai, transando já que ela não sabe se segurar, por sorte eu já estou acostumado com isso, lembro-me de quando surtava. Ao terminar de jantar e finalmente descansar no sofá enquanto assisto Tv, adentrei o i***a para conferir e fiquei um pouco surpreso ao ver que Bianca aceitou minha solicitação para segui-la, claro que não estou e nem irei me sentir confortável com a situação no qual me meti, mas eu preciso fazer isso o quanto antes e finalmente acaba, então corajosamente eu mandei um Oi para ela no direct, e bloqueei o celular, e eu estava tão cansado que acabei dormindo antes de ver se ela respondeu.

Mesmo tendo certeza que ela responderia.

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