Fazia dois dias que Giovanni havia retornado de Xangai. Dois dias de silêncio absoluto, de ausência calculada, de um vazio que ele fingia não sentir enquanto a cidade se movia do lado de fora das janelas de vidro.E, ainda assim, ele não havia ligado para Sophia.No escritório envidraçado, o relógio marcava 10h47 quando Antonella entrou. Usava um vestido cinza de alfaiataria, o coque no alto da cabeça impecável, e os saltos faziam um som contido sobre o piso de mármore, mas nada nela era tranquilo naquele instante.Giovanni estava recostado na poltrona de couro, com as pernas cruzadas, um copo de café ao lado e um relatório sobre a mesa. Lia sobre uma fusão bancária com tédio visível no rosto. O terno preto abraçava seu corpo como uma segunda pele, os punhos da camisa branca dobrados até os antebraços, o colarinho desabotoado.— Antonella. — murmurou, sem levantar os olhos. — Veio me convencer a doar mais dinheiro para uma de suas causas emocionais?— Não. — ela respondeu, e havia alg
Sophia dobrava roupas na lavanderia com movimentos lentos, distraídos, tentando afogar o que doía dentro do peito entre o vapor morno e o cheiro de sabão. O trabalho ajudava. Ou, pelo menos, fingia que ajudava. Dava à mente algo para focar além da ausência dele. Além do silêncio ensurdecedor que Giovanni deixara quando desapareceu sem olhar para trás.Mas nada preenchia o espaço que ele havia ocupado com tanto domínio.A dobra da blusa escapou das mãos dela. O tecido escorregou até o chão, e ela sentiu o coração apertar. A imagem dele lhe vinha à mente em fragmentos involuntários. O som da voz dele. A forma como dizia “boa menina” com aquela gravidade que arrepiava a alma. O modo como sua presença tomava o ar ao redor. Giovanni não era só um homem, era um evento. Uma força. Um abismo ao qual ela tinha se lançado com os olhos bem abertos.Foram quatro dias. Quatro dias desde a última vez que o viu. Ela engoliu em seco, sentindo o calor da lembrança subir do ventre até a garganta.Estav
O carro fez uma curva suave e parou diante do que parecia a entrada de um hotel luxuoso. A fachada era imponente, com colunas altas e luzes quentes iluminando a entrada. Dois seguranças de terno estavam posicionados junto às portas douradas de vidro. O motorista desceu e abriu a porta traseira.— Senhorita Romano. — ele disse, com um leve aceno de cabeça.Sophia desceu com elegância contida, os saltos ecoando discretamente no mármore da calçada. O vestido esvoaçou levemente ao vento. Alguns olhares já se voltavam para ela, mas nenhum importava, apenas um. Ao entrar no hotel, foi conduzida por uma funcionária até o elevador, e dali ao andar superior, onde um salão amplo e requintado se estendia à sua frente. O evento estava em pleno andamento , champanhe fluía, música clássica preenchia o ambiente, homens de terno e mulheres em vestidos caríssimos trocavam sorrisos ensaiados e apertos de mão calculados.Mas Sophia não viu nada disso, porque seus olhos só procuravam por ele, até que o
O salão do hotel cinco estrelas pulsava com sorrisos treinados, taças erguidas, vestidos caros e alianças de interesses velados. Música clássica tocava ao fundo, mas o que realmente preenchia o ambiente eram os olhares calculados, os elogios venenosos e o teatro da alta sociedade.Sophia caminhava ao lado de Giovanni, sentindo-se deslocada naquele mundo onde tudo era tão brilhante por fora… e tão sombrio por dentro. Seu vestido vermelho de cetim abraçava suas curvas como uma armadura sensual. Ela estava linda. Mas por dentro, o coração batia como se pedisse socorro.Giovanni, ao contrário, estava impecável como sempre. Terno escuro, camisa branca aberta no colarinho, abotoaduras discretas. Cada passo dele exalava poder, cada gesto carregava autoridade. A mão dele segurava a dela com firmeza. Era quase uma algema invisível que ela não sabia se queria tirar.Ao se afastarem do grupo de políticos e investidores que o cercavam, ele puxou Sophia com ele por um corredor lateral do salão, em
Apartamento de Giovanni O som da porta sendo trancada reverberou pelo apartamento como um selo. Um aviso, um rito silencioso que selava o destino de Sophia naquela noite. Ela engoliu em seco, os olhos presos nas costas largas do homem que acabara de fechar a porta atrás deles. Giovanni, seu mestre, sua perdição o homem que amava. Ele não disse uma única palavra.As chaves caíram sobre a bancada com um estalo metálico, seguido por um silêncio quase palpável. O ar parecia denso, carregado por algo invisível. O peso da expectativa, da tensão, do castigo iminente.Sophia deu um passo hesitante, mas não teve tempo de completar o movimento. Giovanni virou-se como uma tempestade, os olhos azuis completamente obscurecidos pela sombra do ciúmes. Um instante depois, ela já estava em seus braços, ou melhor, em seu domínio.Ele a puxou com brutalidade contida pela cintura, e sua boca colidiu com a dela em um beijo que não era afeição, mas posse. Seu domínio era incisivo, o beijo, violento. A lí
O silêncio que se instalou após o clímax era quase sagrado.O corpo de Sophia repousava sobre o peito de Giovanni, ainda desnuda, com as marcas do castigo impressas em sua pele como uma assinatura de pertencimento. As algemas haviam sido removidas, assim como o plug, os clipes e o cetim, mas ela ainda se sentia presa, por dentro.Presas estavam suas emoções. Seu coração acelerado, suas dúvidas.Giovanni a segurava com firmeza. Não havia carinho explícito, mas seu braço envolvia a cintura dela como uma corrente protetora. A outra mão acariciava lentamente seus cabelos, num gesto quase mecânico… e ainda assim, devastadoramente íntimo.— Fez bem em não implorar. — ele disse, com a voz baixa e firme, como quem elogia um bom cão de guarda. — Eu odeio súplicas que não sejam merecidas.Sophia apenas assentiu, ainda não conseguia falar. O corpo tremia, mas era um tremor de redenção. Ela havia sobrevivido à punição, mais do que isso, havia se sentido limpa, pertencente, possuída.Mas não enten
O caminho de volta para casa foi silencioso.O motorista do não tentou conversar. Talvez porque o olhar de Sophia dissesse mais do que qualquer palavra. Os olhos fixos na cidade que se desenrolava lá fora , indiferente à dor que queimava dentro dela.Ao chegar no prédio modesto onde morava com a mãe e a irmãzinha, subiu os degraus como se cada passo pesasse cem quilos. E quando abriu a porta do apartamento, foi recebida por um aroma familiar: café fresco e pão quentinho.Blanca estava na cozinha, com os cabelos presos em um coque alto e o avental florido. Virou-se ao ouvir o som da porta.— Sophia?Sophia forçou um sorriso.— Bom dia, mãe.Blanca saiu de trás do balcão. Não disse nada no início. Apenas olhou a filha de cima a baixo. O rosto abatido, os olhos vermelhos, a alma gritando em silêncio.— Quer conversar? — perguntou baixinho, aproximando-se.Sophia tentou responder, quis ser forte, mas ao encarar os olhos verdes da mãe… desabou.As lágrimas vieram com força, e ela caiu nos
Sophia terminava o chá quando o celular vibrou sobre a mesa da lanchonete. Era uma notificação direta.Giovanni Bianchi.O nome sozinho já bastava para fazer o sangue correr mais rápido.Ela hesitou por um segundo antes de desbloquear a tela.Hoje às 20h.Evento com empresários da Ásia. Você irá comigo.Vista algo adequado. Teremos fotógrafos e investidores.Prepare-se também para o fim de semana. Você dormirá na cobertura.Nada mais.Nenhuma saudação. Nenhuma explicação emocional. Nenhum “por favor”.Era ele. Seco, dominante, imperioso.E, pela primeira vez, aquilo a fez sorrir, mas não como antes.Agora, o sorriso de Sophia tinha algo diferente. Algo ardente e calmo ao mesmo tempo. Como uma tempestade que escolheu o próprio momento para cair.Ela virou o celular para Amélia, que leu a mensagem com as sobrancelhas erguidas.— Ele te chamou para sair?— Exatamente como você previu. — disse Sophia, erguendo a xícara. — Parece que a ausência começou a doer.Amélia sorriu, satisfeita.—