O carro seguia suavemente pela estrada. Nem eu nem Bruno parecíamos dispostos a quebrar o silêncio.
Foi apenas quando o semáforo obrigou o carro a parar que algo quebrou a monotonia. Uma garotinha se desvencilhou da mão da mãe e atravessou a rua aos pulos, sozinha. Pela primeira vez, vi uma expressão mais amena no rosto rígido de Bruno, um leve calor suavizando sua feição.
— Sua filha, ela é obediente? — Ele perguntou de repente.
"Sua filha..."
Ele disse "sua filha"...
Minha filha. Ela não tinha nada a ver com ele.
Minha filha herdou o autismo por causa dele, mas esse homem, como se nada tivesse acontecido, ousava perguntar se ela era obediente.
Dayane era obediente, sim, obediente ao ponto de passar a maior parte do tempo em silêncio.
Se um dia Bruno soubesse da real condição de Dayane, ele ainda teria a ousadia de perguntar, tão casualmente, se ela era obediente?
Apertei as mãos em punho, minhas unhas pressionando a palma para conter a onda de mágoa que ameaçava me co