O terror e a traição se misturavam no coração de Isabella. A imagem de Liam se transformando, e a confirmação de que Kaelen era um lobisomem, haviam estilhaçado sua realidade. Ela fugiu da floresta, as palavras de Kaelen ecoando em sua mente, mas o medo era mais forte do que qualquer outra emoção. Ela correu sem rumo, tropeçando nas raízes e galhos, o pânico acelerando seu coração. A floresta, antes um refúgio, agora parecia um labirinto de sombras e ameaças. Ela não sabia para onde ir, apenas que precisava se afastar daquele mundo que havia invadido sua vida de forma tão brutal.
De repente, um vulto escuro surgiu das sombras, rápido demais para ela reagir. Era um lobo, mas não um lobo comum. Seus olhos brilhavam com uma ferocidade antinatural, e um rosnado gutural escapou de sua garganta. Antes que Bella pudesse sequer gritar, sentiu uma dor lancinante em seu ombro. Os dentes afiados do lobo cravaram em sua carne, rasgando a pele e os músculos. Um grito de dor escapou de seus lábios, misturado com o cheiro metálico de seu próprio sangue. O lobo se afastou tão rapidamente quanto surgiu, deixando Bella caída no chão, a dor latejando em seu ombro e o medo paralisando seu corpo. Ela não sabia o que havia acontecido, apenas que algo terrível havia acabado de acontecer. Kaelen, por sua vez, sentiu a mordida. O mate bond que os unia vibrou com uma intensidade dolorosa, uma mistura de medo, dor e uma força crescente. Ele sabia o que havia acontecido. Um lobo renegado, talvez um dos seguidores de Thorne, havia atacado Bella. A fúria o dominou. Ele havia falhado em protegê-la. Ele precisava encontrá-la, protegê-la, antes que fosse tarde demais. A notícia se espalhou rapidamente pela alcateia, e a reação foi mista. Alguns estavam chocados, outros furiosos, e alguns, como Elara, a Xamã da alcateia, sentiam uma mistura de apreensão e esperança. Kaelen sabia que precisava agir. Ele precisava encontrá-la, guiá-la, protegê-la. Ela era sua Luna, sua companheira, e ele não a abandonaria. O destino havia selado o caminho deles, e agora, mais do que nunca, eles estavam ligados. Bella conseguiu se arrastar para casa, a dor em seu ombro insuportável. Ela tentou limpar a ferida, mas o sangramento não parava. A febre começou a subir, e seu corpo tremia incontrolavelmente. Ela desabou em sua cama, as lágrimas escorrendo pelo rosto, a dor e o medo a consumindo. O mundo que ela conhecia havia desmoronado, e ela se sentia perdida em um pesadelo. Ela não sabia o que estava acontecendo com ela, apenas que algo terrível estava acontecendo. … Nos dias que se seguiram, Bella tentou voltar à sua rotina, mas era impossível. O cheiro de papel envelhecido na biblioteca, antes seu refúgio, agora parecia sufocá-la. Ela via lobos em cada sombra, ouvia uivos no vento. Sua mente estava em constante alerta, e seu corpo, antes tão familiar, começou a apresentar mudanças sutis. Seus sentidos estavam aguçados. Ela podia ouvir conversas distantes, sentir o cheiro de chuva antes mesmo que as nuvens se formassem, e seus olhos pareciam enxergar no escuro com uma clareza assustadora. Pequenos arranhões e cortes em sua pele cicatrizavam em questão de horas, e sua força física parecia ter aumentado. Ela tentava ignorar, atribuir a sua imaginação, ao estresse, mas a verdade era inegável. Algo estava acontecendo com ela. Uma noite, enquanto tentava dormir, uma dor aguda a atingiu. Era como se seus ossos estivessem se quebrando e se realinhando, seus músculos se contorcendo. Ela se contorceu na cama, suando frio, tentando abafar os gemidos. A dor era insuportável, mas ela não conseguia entender o que estava acontecendo. Ela se levantou, cambaleando até o espelho, e o que viu a fez gritar. Seus olhos, antes castanhos, agora brilhavam com um tom dourado, e seus dentes pareciam mais afiados. Pequenos pelos escuros começavam a surgir em seus braços e pernas. Ela estava se transformando. A mordida do lobo renegado, o mate bond, a intensidade da conexão, tudo havia desencadeado a transformação. Ela estava se tornando aquilo que mais temia. O pânico a dominou. Ela não queria isso. Ela não queria ser um monstro. Ela tentou lutar contra a transformação, mas era inútil. A dor aumentava, e a forma humana de seu corpo começava a ceder à forma lupina. Ela se sentia presa em seu próprio corpo, uma prisioneira de uma maldição que ela nunca pediu. As lágrimas escorriam pelo rosto, misturadas com o suor e o medo. Ela estava sozinha, assustada, e se transformando em algo que ela não reconhecia.