Narrado por Victor
Eu sempre achei que a dor tinha um som. Um estalo. Um vidro quebrando. Ultimamente, ela tem sido mais silenciosa: um zumbido atrás dos olhos, uma interrupção de respiração no meio da frase, um atraso — como se eu chegasse depois do meu próprio corpo nas cenas que vivo. As manchetes me olham com dentes brancos demais. “Victor, o rosto do Cicatrizes Visíveis.” Às vezes penso que virei um retrato pendurado em parede de prédio público: um rosto, uma legenda, e nada por trás. Mas quando estou sozinho, a legenda some e eu ainda escuto a minha própria respiração tropeçar. Ainda sou o menino no corredor de hospital, contando passos porque era a única coisa que dava para controlar.A casa ficou mais silenciosa depois do documentário. O silêncio de antes era medo do que poderia surgir; o de agora é medo do que já está à vista. As pessoas sabem meu nome, minha história, minha voz. E meu pai, o homem que sempre me pediu silêncio, agora escreve cartas abertas