Vicenzo
O jantar foi um inferno disfarçado de normalidade.
Minha mãe conversava como sempre, impecável e altiva, enquanto eu me esforçava para fingir que nada havia mudado. Mas a cada vez que Aurora passava pela mesa, servindo vinho, trazendo pratos, recolhendo talheres, eu me lembrava do mar. Do gosto dos seus lábios, do arrepio em sua pele quando a chamei de tesoro mio.
Eu a observava em silêncio, sem permitir que minha mãe percebesse. Mas dentro de mim, cada movimento dela era uma provocação. Os dedos finos tocando as taças, o andar cuidadoso, a forma como desviava o olhar de mim e ainda assim, eu sabia. Ela sentia. A tensão entre nós era um fio prestes a se romper.
Meu nome ecoava em sua cabeça tanto quanto o dela ecoava na minha.
Sorri para minha mãe, respondi às perguntas com calma, mas a verdade era que estava contando os minutos. A cada segundo, a fome aumentava. A lembrança da inexperiência dela sob minhas mãos me incendiava. Aurora era doce, mas também selvagem, escondida