Capítulo 1

Ilya Surkov

Tomsk

3 anos e 10 meses antes

—Dyadya Ilya, você veio me ver? Papa me deu um novo transformer e ele até vira o robô e depois o carro, vem ver, vem.

Meu sobrinho Andrey, de três anos, me puxou pela mão assim que nós entramos em sua casa, eu, Anton e Ivan sempre viemos visitar Zoya e sua família, ela escolheu viver nessa vila em Tomsk, pra segurança de sua família.

—Sim, mostre-me o seu novo transformer. -Segui com ele até a sala de brinquedos que meu cunhado Arseny fez pra ele, Andrey é um menino alegre e sempre gosta de ter companhia em casa. —Cadê a mama e o papa? -Eu perguntei.

— MAMA, PAPA, dyadya Ilya está aqui. -Ele gritou. Meu sobrinho está cada dia mais esperto e falante, as vezes eu não consigo acreditar nas coisas que ouço dele.

—Ilya, que bom que está aqui, fique para o jantar, nós fomos à cidade hoje em busca de um médico e temos que comemorar muito.

Minha irmã Zoya desceu a escada e vinha radiante, Arseny vinha logo atrás.

—Estou grávida novamente. —Ela abriu os braços e correu em minha direção, eu a abracei e beijei sua bochecha.

_Parabéns, irmã. Já que não terei filhos, quero o máximo de sobrinhos que puderem me dar.—gargalhei e fui cumprimentar meu cunhado, Arseny fez sinal de que queria conversar comigo e eu acenei, já curioso. —E sim, Zoya, eu fico para o jantar.

Andrey pulou de alegria e correu até o quarto de brinquedos para buscar seus itens mais novos, ele amava essas coisas de carros que viram robôs gigantes. Zoya foi a cozinha e Arseny sentou comigo no sofá da sala.

—Quero te entregar isso, Ilya, confio em você e seus irmãos. Alguns informantes me disseram que o alto escalão do governo está atrás de mim, sob acusação de atos terroristas contra a Rússia. Você sabe que não é verdade. Todas as informações a meu respeito e a respeito dessa acusação estão aí nesse HD, guarde contigo. Se algo acontecer comigo, proteja Zoya e meus filhos, e sim, se algo me acontecer, sabe que foi meu pai. Eu juntei muitas provas sobre ele e quero divulgar o mais breve possível, por favor, Ilya, cuide de Zoya e meus filhos —ele falou o mais baixo que pôde, olhando para a cozinha para se certificar de que Zoya não estava ouvindo.

—Vocês estão em segurança, aqui. Não se preocupem, papai está com planos de entrar na política, tudo vai ficar mais fácil para vocês dois, prometo. E nada, nada vai acontecer com vocês. —eu garanti, Zoya é nossa única irmã mulher, e somos completamente protetores com ela e Andrey.

Na hora do jantar, Andrey ainda estava eufórico com minha visita, passou o tempo inteiro falando sobre seus carrinhos, em breve ele iria começar a ter aulas em casa, ele é uma criança espera e inteligente.

—Eu venho em dois dias, prometo. —dei um beijo na bochecha de meu sobrinho. Ele fazia biquinho pedindo para que eu ficasse. —Eu trarei presentes, transformers, prometo que volto. -ele passou os bracinhos ao redor do meu pescoço e me abraçou.

—Volte mesmo, traga Anton e Ivan para jantar conosco. —minha irmã estranhamente me deu um abraço muito apertado e demorado. Me beijou na bochecha e disse -Eu amo você.

Eu a abracei de volta e fui embora. A viagem de Tomsk até Moscow durava em média uuns 40 minutos, de avião. De carro era muito longe e demorava um dia e meio de viagem. Eu desci a vila de carro e fui ao Aeroporto. Embarquei no avião e viajei de volta pra casa.

*********************

Quando entrei pela porta, tudo estava um caos, gritos, xingamentos, mama chorava muito, Papa estava ao telefone, Anton e Ivan estavam sentados no sofá em silêncio, quando papa me viu, perguntou irritado.

—Onde estava, porra? Nós te ligamos e você não atendeu. —ele tirou o telefone do ouvido. Anton e Ivan levantaram e vieram até mim.

—Estava em Tomsk, fui visitar Zoya, ela tem uma novidade incrível, está aguardando para contar a vocês quando forem até lá. —mamãe gritou e caiu no chão, Ivan correu para ajudá-la e eu comecei a ficar nervoso —O que houve? Papa, por que estão todos assim?

Papa afrouxou a gravata e ligou a TV. No canal mostrava um local todo destruído, algumas casas pegando fogo, eu não entendi nada, mas quando desci os olhos para a chamada. Meus joelhos cederam e eu caí no chão, tremendo e ofegando como em um ataque cardíaco.

“Um pequeno vilarejo em Zonal'naya Stantsiya, Tomsk, foi refém de um atentado terrorista, Algumas pessoas foram mortas e outras estão feridas...”

Como assim? Eu acabei de chegar de lá, tudo estava bem, eu jantei com Zoya e Andrey... -Papa, isso não é possível, eu acabei de chegar de lá. Zoya e Andrey...

—Enviei homens até lá, Arseny e Zoya estão mortos, o ataque aconteceu a mais ou menos 20 minutos, não durou nem 7 minutos inteiros, a primeira casa a ser invadida foi a de Zoya, segundo relatos de sobreviventes. Não sei o que aconteceu para que atacassem algumas outras casas. Não encontramos o corpo de Andrey ainda.

Meu sobrinho, não, não, não. Por favor, ele precisa estar vivo, Andrey não pode estar morto. Eu nunca chorei, nunca, em toda a minha vida, 26 anos de idade e nenhuma lágrima derramada. Mas neste dia, não apenas meus olhos choraram, minha alma chorou também.

Mais tarde, Andrey ainda estava sumido, papa voou para Tomsk, para buscar os corpos e nós ficamos para resolver os assuntos burocráticos, nossa família era tradicional e muito rica, papa é dono de empresas, mas o nosso dinheiro vem de uma organização que fornece armas para países aliados da Rússia e para a própria Rússia.

-Ivan, Anton. Preciso mostrar uma coisa. —eu chamei meus irmãos e fomos até a sala de reuniões, retirei o HD da bolsa e coloquei na mesa. —Arseny me entregou isso, ele disse que se algo acontecesse, esse HD resolveria tudo.

Nós passamos a noite avaliando todos os documentos, quando era cedo no outro dia, papa chegou. Trazendo consigo o corpo de Zoya e

Arseny. Papa não quis dar um show aos abutres da tv, o enterro de Zoya foi fechado e discreto, apenas os homens e mulheres de confiança da família. Mama precisou ser sedada e levada ao quarto.

Entregamos o HD ao nosso Papa assim que tudo foi finalizado, todos os nomes, endereços e ocupações estavam lá. Tudo, todos os motivos e porra, a coisa era feia. Naquele mesmo dia nós traçamos o plano, passamos meses recrutando novos homens, ao final de 10 meses, a organização tinha o triplo de homens e o dobro de armas. Começamos com o primeiro nome da lista, e um dos envolvidos direto do ataque.

Higor Morozov

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