Lúcia Mendes Donovan
Eu tinha passado o dia inteiro ensaiando a melhor forma de não parecer desesperada. O que, considerando que eu estava grávida, sensível e com a vontade gigante de enfiar todos num mesmo cômodo para “resolver” as coisas, era pedir muito ao universo.
Escolhi uma blusa confortável, prendi o cabelo de um jeito que fingia organização e respirei fundo três vezes antes de bater de leve na moldura da porta onde Olivia e Moira conversavam com a minha mãe, no jardim de inverno. A luz do final de tarde entrava filtrada pelas folhas das plantas e deixava tudo com cara de filme europeu.
“Posso roubar vocês duas por um instante?” perguntei, puxando um sorriso que queria ser elegante, mas saiu mais para “preciso muito que cooperem”.