As palavras de Giuseppe ficaram suspensas no ar enquanto eu tentava manter a compostura. Minha mente corria freneticamente, buscando uma resposta apropriada que não soasse como uma mentira descarada nem revelasse a verdade dolorosa.— Espero que tenha tido uma boa viagem — comentei, optando por mudar de assunto. — Espero que tenha tido uma boa viagem.Giuseppe ofereceu seu braço, guiando-me em direção à sala de estar. Notei que seus passos eram mais vagarosos do que me lembrava, como se cada movimento exigisse um esforço calculado.— A viagem foi... produtiva — respondeu ele, sua voz carregando uma nuance que não consegui interpretar. — Por favor, sente-se. Vou pedir que nos tragam um pouco daquele chá que você gostou da última vez.Acomodei-me no sofá enquanto Giuseppe fazia um sinal discreto para uma das empregadas. A familiaridade com que me tratava, como se eu já fosse parte da família, apertava meu coração. Ele se lembrava do chá que eu havia gostado. Um detalhe tão pequeno, mas
A iluminação do hospital era implacável, aquele branco azulado que parecia extrair toda a vida e cor das pessoas. Caminhei pelo corredor estéril, carregando uma pequena sacola térmica com um sanduíche cuidadosamente embrulhado e uma garrafa térmica que pesava na minha mão.As horas que se seguiram à partida da ambulância haviam sido um borrão. Depois do choque inicial, minha mente entrou em modo automático. Liguei para a recepção do hospital, consegui confirmar que Giuseppe havia sido internado, e decidi que ficar na mansão sozinha, remoendo pensamentos, não ajudaria ninguém.Encontrei Christian exatamente onde a recepcionista havia indicado - na sala de espera do setor de cardiologia. Sentado sozinho em uma das cadeiras de plástico, os cotovelos apoiados nos joelhos, as mãos enterradas nos cabelos que agora estavam completamente desalinhados. Seu terno impecável estava amarrotado, a gravata ausente, os primeiros botões da camisa abertos.Ele parecia tão... humano.Aproximei-me silenc
— Senhor Bellucci — começou o Dr. Mendes, ajustando os óculos —, seu avô sofreu um episódio de angina, mas conseguimos estabilizá-lo. Os exames confirmaram o diagnóstico dos especialistas em Roma.Christian permaneceu imóvel, apenas sua mandíbula tensa denunciando a tempestade de emoções que o atravessava.— A obstrução coronariana do senhor Giuseppe requer intervenção cirúrgica — continuou o médico. — Entretanto, não há necessidade de agir com extrema urgência. Podemos programar a cirurgia dentro de seis meses, dando-nos tempo para fortalecer seu organismo e aumentar as chances de sucesso.— E os riscos permanecem os mesmos? — Christian perguntou, sua voz controlada, profissional, mas pude perceber a fragilidade sob a superfície.— São consideráveis, dada a idade e condição geral. — O médico fez uma pausa. — Mas com a preparação adequada nos próximos meses, podemos mitigar alguns desses riscos. O importante agora é mantê-lo calmo, sem estresse, seguindo um regime rigoroso de medicaçã
O carro deslizava silenciosamente pela estrada sinuosa que levava à mansão. Através da janela, observei os vinhedos banhados pela luz prateada da lua, sombrios e quase melancólicos. O motorista mantinha os olhos fixos na estrada, discretamente ignorando a tensão palpável entre nós no banco traseiro.Christian estava sentado com a cabeça recostada, os olhos fechados, mas não dormia. A exaustão física e emocional estava evidente em cada linha de seu rosto. Quando finalmente quebrou o silêncio, sua voz saiu rouca, baixa:— Você não precisava ter feito isso.Mantive meus olhos na paisagem que passava, como se os contornos escuros das vinhas pudessem oferecer algum conforto.— Não fiz por você — respondi, uma amargura que não consegui esconder colorindo minhas palavras. — Fiz pelo seu avô.— Mesmo assim — insistiu ele, e pelo canto do olho, percebi que havia aberto os olhos para me olhar. — Obrigado.Senti seu olhar sobre mim, mas recusei-me a encará-lo. Temia que se o fizesse, ele veria d
Fechei a porta do quarto de hóspedes e me joguei na cama, exausta física e emocionalmente. Precisava falar com alguém que entendesse minha situação, alguém que me conhecesse melhor do que eu mesma. Peguei o celular e disquei o número tão familiar.— Zoey! — A voz de Annelise explodiu do outro lado da linha após apenas dois toques. — O que significa essa mensagem maluca sobre casamento? Está bêbada? Drogada? Sequestrada?Não pude evitar um sorriso cansado, mesmo em meio ao turbilhão de emoções.— Nenhuma das alternativas. Estou perfeitamente sóbria e agindo por vontade própria.— Então você vai se casar com um homem que, segundo você mesma, não ama? — A voz incrédula de minha irmã me fez fechar os olhos por um momento.— Exatamente.— E você diz que eu sou a irmã confusa da família. — Pude praticamente visualizar Annelise revirando os olhos do outro lado da linha. — Zoey, você precisa se decidir. Ou você o ama e se casa, ou não o ama e segue sua vida. Pessoas normais não se casam com q
Os corredores de pedra pareciam infinitos enquanto Christian me guiava através de uma parte da propriedade que eu não conhecia. A cada passo, o ar ficava mais fresco, o silêncio mais denso. Minha respiração havia voltado ao normal, embora as lágrimas secas ainda deixassem marcas em meu rosto.— Onde estamos indo? — perguntei finalmente, minha voz ecoando levemente nas paredes de pedra.— Para o meu lugar favorito em toda a propriedade — respondeu ele, sem soltar minha mão.Descemos por uma escadaria circular de pedra até chegarmos a uma pesada porta de madeira. Christian digitou um código em um painel discreto e a porta se abriu com um suave clique.— Bem-vinda à adega principal da Bellucci.Entrei, e meu fôlego imediatamente se perdeu. O espaço era imenso, muito maior do que parecia possível, iluminado por luzes suaves que criavam sombras dançantes contra as paredes de pedra antiga. Fileiras e mais fileiras de barris de carvalho se estendiam pelo ambiente, alguns tão grandes que eu p
O último dia do evento chegou com uma energia frenética. Depois de um dia inteiro lidando com os preparativos do casamento e as exigências intermináveis de Vivian, o encerramento do evento intersetorial parecia quase um alívio – apesar da nova missão que tínhamos pela frente.— Lembre-se, vocês precisam parecer naturais — instruiu Marco enquanto caminhávamos em direção ao complexo. — Como um casal que superou uma crise e está mais forte do que nunca.— Nós sabemos — Christian respondeu, o tom ligeiramente irritado. — Não é a primeira vez que fingimos estar juntos.Marco ergueu as mãos em rendição.— Só estou dizendo que há muito em jogo. Os repórteres estarão por toda parte.Christian estendeu a mão para mim, seus dedos se entrelaçando aos meus com uma familiaridade que não deveríamos ter depois de três meses separados – se realmente tivéssemos estado separados.— Vamos ficar bem — assegurou ele, embora não estivesse claro se falava comigo ou com Marco.Enquanto caminhávamos pelo esta
A manhã de sexta-feira amanheceu com um céu azul perfeito, como se a própria natureza quisesse abençoar a chegada da família Aguilar à propriedade dos Bellucci. Observei da janela do quarto enquanto o carro subia a estrada sinuosa, meu coração batendo com uma mistura de nervosismo e alívio. Era reconfortante ver rostos familiares depois da semana caótica que tivera.Christian aguardava ao meu lado na entrada principal, elegante como sempre, mas com uma tensão sutil na maneira como ajustava repetidamente o relógio de pulso.— Relaxa — disse a ele. — Eles não mordem.— Seu pai pode não gostar muito de mim depois da última vez...Não tive tempo de responder, pois o carro parou e minha família desembarcou em uma explosão de energia. Annelise foi a primeira, praticamente saltando do veículo com um grito animado, seguida por meu irmão Matheus, que assoviou impressionado ao ver a mansão. Meus pais vieram por último, minha mãe ajeitando o cabelo nervosamente, meu pai com uma expressão que ten