Como arruinar a vida do meu ex em 10 episódios
Como arruinar a vida do meu ex em 10 episódios
Por: Roseanaautora
Prólogo

PRÓLOGO

Cidade de Solidão, Noriah Sul, janeiro de 2000.

Desde que eu o vi pela primeira vez, meu coração batia como se fosse uma bomba-relógio, prestes a explodir. E achei que algum dia aquela sensação fosse mudar. Mas nunca mudou. O que eu sentia continuava intenso, como sempre. Aquele garoto era o ar que eu respirava e estar longe dele era como estar sentada numa varanda numa noite de tempestade, esperando pela morte.

O vento cortava como uma lâmina quando subimos a montanha íngreme e pedregosa, nossos dedos entrelaçados tão firmes que doíam. Eu sabia que se caísse, ele não me soltaria. Nunca. Mas não sabia que, no fim, seria ele quem me deixaria escorregar.

Assim que chegamos, gentil como sempre, ele estendeu o casaco com o emblema do colégio sobre as pedras, para que eu pudesse sentar em cima. Respirei fundo e olhei para a cidade de Solidão, do alto do moro, e sorri quando senti seu braço gentilmente sobre meus ombros, puxando-me contra si. Seu coração batia rápido demais. Eu devia ter percebido.

- Nunca mais fui solitária em Solidão desde que você chegou. – Brinquei.

- La Solitudine é a mais bela cidade que já conheci. – A voz grave me brindou com as poucas palavras em italiano, que eu amava quando ele pronunciava – Falando nisto – Da mochila, tirou um objeto prateado: um Discman. Algo tão comum para ele, tão mágico para mim. Quando colocou os fones em nossos ouvidos e La Solitudine começou a tocar, eu ri. A música era triste, mas naquele momento, eu jurava que nunca seria como a letra.

- De onde é isto? – Perguntei maravilhada.

- Meu pai trouxe da Itália, na última viagem.

Fechei os olhos e fiquei apreciando a voz maravilhosa e a música melodramática que embalou muitas das nossas tardes no cume do morro. Quando a música encerrou, retirei o fone e disse:

- Acho que esta música inspirou o nome da minha cidade. – Suspirei, enlaçando meus dedos nos dele, ainda com a cabeça deitada em seu ombro – Porque é tão triste quanto...

Marco não disse nada. Mas senti sua respiração acelerar levemente e os dedos apertarem os meus.

- Sempre me senti sozinha e triste... Até você aparecer – confessei mais uma vez – Quando casarmos, a primeira coisa que faremos é passar a noite aqui. Veremos o pôr e o nascer do sol... E teremos uma bela história para contar aos nossos filhos. Claro que depois disto você me levará para conhecer as sete maravilhas do mundo! – Sonhei alto.

Ouvi um gemido e levantei a cabeça, virando-me na direção dele. Contemplei seus olhos castanhos grandes, de onde lágrimas grossas escorriam. Nunca, desde que o conheci, o vi triste.

- Eu... Fiz alguma coisa de errado? Falei algo que você não gostou? – Me preocupei.

Marco sorriu em meio às lágrimas e limpou-as, depois ajeitando os cabelos, pondo a franja que caía sobre a testa para trás. Em seguida pegou meu rosto entre suas mãos e disse com pesar:

- Eu vou ter que partir, minha garota dos cabelos de fogo.

- Partir? – minha voz mal saiu – Como assim? O Ensino Médio mal começou! Você não pode ir embora.

Ele me abraçou com força e senti seu aroma de perfume caro, misturado com o cheiro natural dos eucaliptos à nossa volta. Senti suas mornas lágrimas molharem minha blusa e fiquei tentando compreender o que estava acontecendo. Porque eu não havia me preparado para aquilo. O nosso plano era ficarmos juntos para sempre.

- Meus pais estão completando 25 anos de casados. E mamãe pediu uma viagem de presente.

- Mas... – sorri, fazendo-o me encarar – É só uma viagem!

Marco suspirou:

- Passei a vida pulando país em país, vivendo como um nômade, minha garota. Sei que não voltaremos para Solidão.

Engoli em seco e olhei para o céu azul, sem uma única nuvem e falei com toda minha certeza:

- Irei com você!

Marco sorriu e meneou a cabeça:

- Você sabe que isto é impossível, minha garota.

- Você... Não pode me deixar. Eu... Amo você.

Seus lábios encontraram os meus e senti o gosto salgado de nossas lágrimas em meio ao nosso beijo. O abracei com força e tudo que passava na minha cabeça era que eu nunca esqueceria aquele garoto, aquele momento e tudo que vivemos juntos.

- Escreverei cartas para você e postarei nos correios! – Marco prometeu.

- E... Se elas se extraviarem?

- Mando e-mails.

- Eu... Não tenho computador.

- Pode acessar pela escola.

- Só temos aula de computação uma vez na semana!

No entanto não tinham outras alternativas. Ou usávamos aquilo para nos comunicarmos ou jamais teríamos contato novamente.

- Não tenho sequer endereço para lhe dar. A vida inteira eu morei um pouco em cada país. E incrivelmente na cidade de Solidão foi onde me encontrei. E será a minha pior despedida.

Abaixei a cabeça, deixando as lágrimas escorrerem, sem saber o que dizer. Meu coração doía, o peito estava apertado e minhas pernas trêmulas. Era como se o mundo estivesse acabando naquele momento.

- Eu... Eu... Poderíamos fugir, garota dos cabelos de fogo! Só nós dois...

Levantei os olhos em sua direção:

- E eu destruiria o seu futuro – sorri – O amo demais para isto. Você tem uma vida inteira pela frente... E cheia de perspectivas. Eu... Sou só uma garota do interior – suspirei – Ao menos... Serei aquela que certamente você lembrará para sempre. Porque eu tenho certeza de que o que eu sinto é recíproco.

- Não vamos perder contato, minha garota dos cabelos de fogo. São só alguns milhares de quilômetros de distância que nos separarão... Não é nada para o amor que sentimos.

- E se um dia você me esquecer?

- Eu jamais a esquecerei. Nos falaremos por e-mail. Uma vez a cada semana você abrirá sua caixa de mensagens e terei escrito para você onde estou e o que faço.

- Não importa o que aconteça, acessarei a minha caixa de e-mails – garanti, limpando as lágrimas – E entrarei escondida na escola nas férias... E quando eu me formar... Roubarei um dos computadores.

Começamos a rir, em meio às lágrimas. Marco pegou uma mecha dos meus cabelos e ajeitou atrás de minha orelha:

- Vamos marcar um ponto de encontro.

- Um... Ponto de encontro?

- Sim.

Observei-o enquanto ele falava sem parar, empolgado, tentando encontrar alternativas para que nunca perdêssemos contato. Mas eu sabia que a probabilidade de aquilo dar certo era praticamente nula.

Os lábios grossos dele alternavam-se entre as palavras e os sorrisos empolgados cada vez que achava uma solução. Ele tinha uma covinha do lado direito da bochecha e aquilo me encantava ainda mais.

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
capítulo anteriorcapítulo siguiente
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP