Capítulo 5
Foi como ser atingida por um raio. Fiquei paralisada.

O tempo parecia esticado. Cada segundo era uma lâmina cravada nos meus olhos, nos ossos, na alma.

Assisti, sem poder desviar o olhar, enquanto Kellan se curvava. Vi sua boca tocar o peito da Josia. Vi ele sugar, uma, duas, três vezes...

Josia soltou um suspiro de alívio e prazer, passando os dedos pelos cabelos dele.

— Ah... aqui também... — Murmurou.

Kellan franziu levemente a testa.

— Mas esse lado não está bloqueado...

Josia não respondeu. Apenas passou os braços pelo pescoço dele, puxando sua cabeça de volta.

Kellan hesitou, depois se calou. E abaixou a cabeça mais uma vez.

Não suportei. Virei as costas e corri para a tempestade.

A chuva caiu sobre mim com força, mas eu não sentia frio. Na minha cabeça só havia imagens do nosso primeiro momento juntos...

De como ele foi cuidadoso, como me tratou como algo precioso, como murmurou com voz rouca:

— Iris, você é a primeira mulher da minha vida e será a última.

Agora, os lábios dele estavam em outra mulher.

Doía. Mais do que qualquer chicote.

Abaixei o corpo e me encolhi na chuva. Fiquei ali, até as pernas adormecerem, até as luzes da casa se apagarem. Voltei para dentro como um fantasma sem rumo. Encontrei um quarto vazio e me joguei na cama.

A febre chegou no meio da noite. Rápida, violenta.

Em meio ao delírio, ouvi a voz de Kellan vinda do quarto principal. Baixa, doce. Ele cantava uma canção antiga, em língua ancestral dos lobos. Uma canção de ninar, usada para acalmar a filhota ainda no ventre.

Como ele prometeu para mim, um dia...

— Quando tivermos nosso filhote, todas as noites vou cantar as canções dos nossos antepassados para ele...

Em algum momento, ouvi alguém me chamando.

— Iris? Iris?

Abri os olhos com dificuldade. Kellan estava ao meu lado, sentado na beira da cama, segurando uma tigela de remédio.

— Como chegou a esse estado? — Ele tocou minha testa, preocupado. A mão dele estava quente e suave, como antes.

Mas, quando ele se aproximou, a imagem da cena que vi no quarto dele explodiu na minha mente.

Desviei o rosto. Não deixei ele me tocar.

— Iris, o remédio e a água estão aqui. — Ele fez uma pausa. O tom ficou pesado. — A Josia está doente, grávida, e ainda precisa cuidar da filhota. Então ela vai ficar aqui, no nosso quarto. Por enquanto.

Respirou fundo antes de continuar:

— Você vai ficar neste quarto por alguns dias. Melhor não sair... para não pegar nada. Eu vou trancar a porta por fora. O mordomo vai trazer sua comida e o remédio.

Sem esperar que eu respondesse, ele se levantou depressa e saiu, como se fugisse de mim. Foi cuidar da Josia e da criança deles.

A fechadura fez um clique. Naquele instante, as lágrimas simplesmente caíram.

Que ironia.

Eu já fui o tesouro que ele segurava com todo cuidado. Agora, virei algo que precisava ser trancado... Um perigo.

...

Talvez por ordem da Josia, ninguém trouxe comida ou água nos dias que se seguiram.

A febre não cedia. A visão ficava turva. E, do lado de fora, o riso corria solto.

Kellan e Josia assistiam a um filme antigo de humanos. Aquele que ele tinha visto comigo tantas vezes.

Jantavam à luz de velas na sala. Ele costumava cozinhar assim para mim, uma vez por mês.

Falavam sobre o nome da futura criança. Como ele fazia comigo, quando me abraçava e dizia ao meu ouvido:

— Iris, quando tivermos nosso filhote, se for menino, chamaremos Logan. Se for menina, Konna. Tudo bem?

Mas agora ouvi ele dizer:

— Se for macho, vai se chamar Fenrir. Se for fêmea, Seraphina.

Me encolhi na cama, mordendo o lençol para não deixar escapar nenhum som.
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