Liguei para o Círculo dos Anciãos.
— Eu aceito deixar o Kellan. — Me esforcei para manter a voz firme. — Mas tenho uma condição: quero que me levem para um lugar onde ele nunca possa me encontrar.
Do outro lado da linha, o Ancião Supremo, Lucien, soltou uma risada satisfeita.
— Se tivesse sido tão sensata antes. Bastou uma vez no freezer para aprender a lição? Uma humana achando que merece tocar no sangue nobre de um Alfa?
— Na noite de lua cheia, daqui a dez dias, cuidaremos de tudo para mandar você embora. — O tom dele pingava desprezo. — E quando for, nunca mais apareça na frente do Kellan.
A ligação foi cortada.
Encostei-me na parede gelada da casa, sem forças para me manter em pé.
Na sala principal, Kellan, em sua forma de lobo gigante, deixava que a filhota deles arranhasse carinhosamente sua densa pelagem.
Josia se apoiava no ventre quente dele, sorrindo com uma doçura plena de contentamento.
Uma família feliz. Três corpos entrelaçados pela paz.
Ao ver aquela cena, foi como levar um tiro silencioso direto no coração.
— A senhorita Iris voltou? — Josia foi a primeira a me notar. Se endireitou num salto, os olhos atentos, puxando a criança para trás do próprio corpo.
Reagindo por instinto, Kellan assumiu a forma humana e entregou a filhota ao criado que esperava atrás, instruindo-o com um aceno de cabeça para levá-la para o andar de cima.
Seus olhar intimidante e desconfiado se fixou em mim.
Aquele homem que um dia disse "só reconhecerei como filhote aquele que sair do seu ventre", agora me olhava como se eu fosse uma criminosa.
Só quando a filhota foi levada embora, ele se aproximou e estendeu a mão para examinar minhas possíveis feridas de frio.
— Você voltou. — A voz dele soou baixa, cautelosa. — Ficou muito machucada quando ficou no freezer?
Olhei para o homem que um dia enfrentou noventa e nove chicotadas por mim, e tudo dentro de mim pareceu murchar. Desviei o rosto, fugindo do toque.
Ele franziu a testa.
— Iris, do jeito que as coisas aconteceram ontem à noite, quanto mais eu tentar te proteger, mais severa será a punição dos anciãos. Você é humana. Eles poderiam até te executar...
Fez uma pausa, tentando manter o controle.
— E nós estamos prestes a ir embora. Não quero provocar mais problemas. Além disso, a filhota é inocente... por que você...
— Eu já disse que não fui eu! — As lágrimas surgiram nos meus olhos. — Espinho Lunar é um veneno mortal, como eu poderia usar algo assim para prejudicar alguém?
Kellan pareceu surpreso com a minha reação intensa. Ficou parado por um momento antes de suavizar a voz.
— Está bem, está bem, não é importante agora. A filhota já está bem.
Não é importante.
Essas palavras me magoaram profundamente.
Ele ainda não acreditava em mim.
Enquanto o ambiente ficava tenso, Josia se aproximou, acariciando a barriguinha ligeiramente arredondada, disse:
— Senhorita Iris, também quero me desculpar. Eu estava muito apressada. Você não é loba, talvez não entenda o instinto materno de proteger a filhota... — Ela levantou a mão e arrumou o cabelo, um delicado bracelete de jade brilhou suavemente no seu pulso.
Minhas pupilas se contraíram no momento em que vi aquele bracelete.
Eu agarrei o pulso dela com força.
— De onde você tirou esse bracelete?!
— Josia adora essas antiguidades, então eu a dei para ela. — Kellan afastou minha mão com um gesto brusco, com um tom de quem achava que era o natural. — Considera isso um pedido de desculpas, é só um bracelete.
— Esse é o único legado que minha mãe me deixou! — Minha voz tremia de raiva. — Como você pode dar isso a alguém? Você sabe o quanto isso é importante para mim!
Tentei agarrar o bracelete, mas antes que eu pudesse fazer isso, Josia de repente cambaleou para trás, colocando a mão sobre a barriga, gemendo de dor.
— Ah... Minha barriga...
— Iris! — Kellan me empurrou com força, seus olhos eram gelados e ferozes. — Ela está carregando a minha filhote! Você não está satisfeita?!
O golpe foi tão forte que meu corpo foi arremessado contra a estante atrás de mim. A nuca bateu com violência na quina da madeira, e o sangue quente escorreu imediatamente pela minha pele.
Kellan nem sequer olhou para trás. Simplesmente ergueu Josia nos braços e saiu correndo com ela no colo.
— Kellan... — Ela soluçava, fraca, apoiada no peito dele. — Será que o filhote vai ficar bem?
— Não tenha medo, eu estou aqui. — A voz dele estava mais suave. — Você e o filhote vão ficar bem.