Capítulo VII - Sophie

Ainda chorando eu levei os pratos de volta pra cozinha, não me importei se Holly me viu com o rosto coberto de lágrimas ou se John estava me encarando de forma estranha, não ligava para nada a minha volta, só queria sair daquela casa.

— John pode me levar até a cidade? Preciso fazer uma coisa e não quero que Patrick saiba. — ele olhou incerto para Holly, como se pedisse uma opinião. — Por favor, prometo não demorar.

— Porque Patrick não pode saber? Ele não vai gostar de saber que eu te levei sem pedir permissão...

— Patrick não tem que saber de tudo! — a última coisa que eu precisava agora era aquele monstro gritando que eu só sairia dali se fosse para voltar para a casa do meu tio. — Se você não puder eu vou sozinha.

Talvez John soubesse que aquilo era um blefe, eu não tinha ideia para qual direção ficava a cidade, mas mesmo assim ele se levantou e me deu um sorriso amigável.

— Vou pegar o carro, te espero no portão. — eu estava pronta para correr, mas ele me parou. — Tente não chamar a atenção, se Patrick nos ouvir não vamos a lugar nenhum.

Acenei rapidamente e me apressei subindo as escadas, peguei o casaco mais grosso que eu tinha e coloquei uma calça, sabia que não seria o suficiente para o frio do lado de fora, mas era o que eu tinha.

Quando estava no corredor olhei para a porta do escritório, ainda estava entre aberta e eu ouvia a conversa de Patrick alterada, provavelmente ainda tentando convencer seus pais a cancelarem o contrato.

Corri para fora e me apressei no caminho de cascalho até o portão na entrada da propriedade, onde John já me esperava no carro.

— Podemos ir! — exclamei entrando no carro olhando pela janela torcendo para que não tivéssemos chamado atenção.

— Pra onde quer ir? Shopping? Salão? — ele começou a dirigir enquanto eu continuava a olhar para trás.

— Um bar! — falei o interrompendo, John me encarou pelo retrovisor como se eu estivesse louca. — Não me julgue eu só preciso de uma distração.

Eu queria uma distração e também conseguir falar com Rosa, eu necessitava ouvir uma voz amiga, escutar os conselhos e desabafar, a mulher que me viu crescer era a única que eu podia confiar para isso.

John me levou sem reclamar, a estrada eu cruzava a montanha nos levando até a cidade estava vazia, mas bastou chegarmos no centro para a movimentação de pessoas e carros nos cercar.

Era uma cidade pequena, aconchegante e acolhedora, eu descobri quando John me deixou na frente de um bar, que ficava aberto vinte e quatro horas.

— Eu venho aqui às vezes, acho que vai gostar. — ele me informou quando descemos do carro e ele me guiou para dentro.

O lugar tinha uma áurea completamente masculina, não era mesmo um tipo de bar que eu gostaria de ir, mas o que eu sabia sobre bares? Nada, eu não tinha ido a nenhum.

Pedi uma marguerita antes mesmo que me sentasse na banqueta em frente ao bar, não me preocupei em pegar uma das mesas, não era necessário para ficar bêbada e ligar para contar meu fracasso a Rosa.

Bebi o coquetel de uma vez, o álcool desceu queimando a minha garganta, esquentando meu corpo por dentro e me fazendo esquecer um pouco do frio.

— É melhor ir com calma, você não almoçou. — ele me repreendeu, se soubesse que eu também não tinha tomado café hoje ficaria ainda mais nervoso.

Aquela era uma péssima ideia, mas eu não me importei.

— Pega outra bebida pra mim, vou usar o banheiro. — me levantei indo direto em busca de um telefone ali.

Não ter celular dificultava minha vida e eu não queria correr o risco que alguém da casa me ouvisse choramingando com Rosa.

Disquei o numero que eu sabia de cor e chamou até cair na caixa postal, pela hora ela com certeza estava ocupada, mas era urgente falar com ela antes de decidir qual decisão tomar. Por isso disquei mais uma vez e fiquei esperando.

— Não quero comprar nada...

— Rosa, sou eu! Não desliga, sou eu Sophie! — gritei antes que ela desligasse na minha cara.

— Sophie? Filha que bom ouvir sua voz. — ela não ia achar mesmo bom quando soubesse o motivo. — Como estão as coisas por ai? Seu marido lhe trata bem? Já está apaixonado? Aposto que está!

Senti o frio e a raiva se apoderar de mim quando as palavras dele voltaram a invadir minha mente.

— Rosa ele não me quer, não quer uma virgem! — o silêncio reinou do outro lado da linha, me dizendo o quanto ela estava chocada, então eu continuei. — Nós estávamos começando a nos entender, nós brigamos também, mas faz parte. Mas hoje eu o ouvi mandando os pais arrumarem outra mulher, pois ele nunca iria me tocar.

— Porque? O que esse homem tem na cabeça? Você é linda, doce, tem um corpo de dar inveja. — ela gritou com tanta indignação, que eu conseguia sentir. — Qual é o problema dele?

Respirei fundo me aprontando para falar o que me mataria de vergonha, apenas por saber que essa besteira estava no meu caminho, servindo de empecilho.

— Ele não quer uma virgem, Rosa. Quer uma mulher que saiba o que está fazendo e que não seja uma tonta que vá se apaixonar.

— Tonta? O único tonto na história é ele! E quem disse que você vai se apaixonar? Ele pode muito bem se apaixonar primeiro!

Mordi o lábio inferior e olhei em volta, tentando ver se John não havia ido atrás de mim, só sosseguei quando o avistei no bar falando com o garçom.

— Não sei o que fazer Rosa, se ele cancelar o contrato vou ter que voltar para aquele inferno por mais um ano, até que minha herança saia. — soltei o ar e deixei que meus ombros caíssem em derrota com esse pensamento. — E para não ser cancelado eu teria que ser outra Sophie, uma que não seja virgem e tola.

— Escuta aqui menina, você não é tola, nunca foi! — Rosa soltou uma torrente de palavrões, antes de se acalmar. — Você só precisa de um pouco mais de experiência, isso vai ajudar a mostrar a ele o quanto está errado. Ele só deve estar com medo, mostre que você é decidida, sexy, linda e que não vai se apaixonar caso ele não se apaixone primeiro!

Soltei uma risada nervosa, agradecida pela voz familiar me dar forças, mas nervosa porque não tinha ideia de como provaria isso a Patrick. Mas foi só meus olhos encontrarem John no bar sorrindo para uma mulher sozinha no bar, para que uma ideia cruzasse minha mente.

— Rosa, eu te amo sabia?

— Sabia sim, mas vou saber mais se me ligar mais vezes. Não suma menina, eu sinto sua falta. — o tom doce quase me fez querer fugir dali e ir até ela, mas eu sabia que não podia. — Agora vá até lá e conquiste seu homem.

Desliguei o telefone e voltei para o bar, me sentei ao lado de John decidida a fazê-lo resolver esse problema da virgindade para mim. Eu só precisava estar relaxada o suficiente para propor isso.

Enquanto conversávamos eu bebia cada vez mais, esperando que todo o álcool no meu sistema me ajudasse a criar coragem. Não me passava despercebido que John não me tocava, ele evitava a todo custo chegar muito perto de mim e não me saia da cabeça que era pela ameaça de Patrick.

— Já chega! Nós vamos embora agora, porque você já está bêbada de mais e logo Patrick vai sentir a nossa falta. — ele afirmou já se levantando e atirando algumas notas na mesa.

— Mas eu... — tentei protestar, mas bastou me levantar para que tudo em volta girasse.

— Mas nada, você não está nem se mantendo em pé! Deus me ajude que Patrick não a veja assim, ou vou perder bem mais que um dente.

John me levou de volta para o carro, me ajudou a sentar no bando da frente e atar o cinto, antes de dar a volta e sair de lá. O sol já havia se posto, a cidade estava escura de mais comparada ao momento em que chegamos.

Quanto mais longe ficamos da cidade, mais eu sabia que precisava fazer algum movimento sobre ele. Tinha que tentar antes que chegássemos perto de mais da casa, ou ele não faria nada comigo.

— John, você me acha bonita? Me acha atraente?

— Senhora, te disse hoje de manhã que seu marido me socaria se eu falasse qualquer coisa desse tipo sobre a senhora. — ele respondeu sorrindo e nem se dignou a me olhar.

Desatei o cinto tomada pela certeza de que não podia deixar essa oportunidade passar.

— Patrick não vai me tocar, ele... ele não quer uma esposa virgem e pura. — abri meu casaco e o joguei no chão do carro. — Preciso que me ajude John, preciso perder a virgindade... antes de voltar pra ca....casa ou ele vai me mandar embora. — abri o suéter que usava por baixo, ficando apenas com a blusa fina de mangas longas.

— O que está fazendo? Sophie, coloque suas roupas ou vai congelar!

— Preciso que transe comigo John... que tire esse empecilho do meu caminho! — levei as mãos ao botão da calça e finalmente eu tinha sua atenção.

Ele parou o carro e se virou para mim, suas mãos me impediram de continuar a tentar tirar a calça e ele atirou o casaco de volta em minhas mãos.

— Eu não vou fazer isso com você! Enlouqueceu? — ele praticamente gritou me sacudindo pelos ombros, antes de tentar empurrar o casaco em meus ombros. — Vamos voltar pra casa e tenho certeza que amanhã, quando estiver sóbria, vai conseguir conversar sobre isso com Patrick.

Aquele idiota não entendia nada, ninguém entendia, eles não sabiam nada sobre a minha vida.

John se virou para o volante e eu aproveitei o momento para abrir a porta e correr para fora do carro. Abotoei o casaco em volta do meu corpo e continuei correndo para dentro da floresta, deixando a voz de John me chamando aos gritos, cada vez mais para trás.

Só não imaginei que iria me arrepender de não ter colocado o outro suéter e quando o efeito do álcool passou ainda mais, eu me arrependi por ter saído do carro e me enfiado em uma floresta no meio da noite.

Eu não tinha nada ali comigo e agora estava tremendo, meus pés dentro dos tênis pareciam ter congelado, assim como minhas mãos. Já havia cansado de andar tentando achar de volta a estrada, meu estômago roncava, meu corpo reclamava do frio e da fome.

Não sabia mais o que fazer, então só me encolhi contra uma árvore, pronta para congelar até a morte. Ninguém iria se importaria de qualquer forma.

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