Kiara
Eu respirava devagar, tentando não chorar.
O cheiro de antisséptico da ala médica misturava com o gosto metálico do sangue seco no meu lábio.
Minha cabeça doía. Meu corpo tremia ainda. Mas não era só por causa do gás ou do tapa.
Era por ele. Meu companheiro.
Eu tinha visto o olhar dele antes de sair. Não de orgulho por me salvar. Mas de ódio por si mesmo. De vergonha.
Ele não me olhou nos olhos.
E isso doía mais do que qualquer machucado.
A porta se abriu com um estrondo.
Virei o rosto a tempo de ver minha mãe.
Os olhos úmidos. O peito arfando.
Ela veio até mim quase tropeçando nos próprios passos.
"Minha menina..."
Senti o abraço antes de ver o rosto dela direito.
"O que fizeram com você? Como você está?"