Sean
Nem eram oito da manhã e ele já estava lá: impecável, engomado, com aquele terno casual-de-sábado que só psicopata funcional usa.
Óculos escuros sobre a mesa, barba recém-feita, cheiro de autoridade e ruindade passiva-agressiva… prazer, meu pai.
Tirei o casaco do moletom, sentei-me à frente daquele monumento de gelo humano.
— Bom dia, pai. Hoje é sábado. Não estamos no escritório.
Ele nem piscou.
— Sean, em que momento eu te dei liberdade para falar assim comigo? Você é cheio de atitude para algumas coisas… e zero para outras.
Ah, ótimo. Já começamos.
— E o senhor está insinuando o quê, exatamente?
— Não insinuação. Constatação lógica. Enfim, eu detesto conversas banais. Esta já está se tornando uma.
— Isso temos em comum — respondi, cruzando os braços. — O cinismo também, né, papai.
Ele me encarou daquele jeito de quem te mede da cabeça aos pés e sempre encontra defeito.
— Nunca me envolvi na sua vida pessoal. A não ser quando atinge a família. E agora atingiu. Imagine se aquilo