A manhã passou depressa. Lyanna e Darian tomaram um café rápido, trocaram poucas palavras e, antes das oito, já estavam a caminho da escola. O clima entre eles estava estranho… leve e tenso ao mesmo tempo, como se palavras demais ou olhares longos demais fossem entregar segredos que ainda não sabiam nomear.
Assim que chegaram na escola, Lyanna se despediu de Darian na entrada, seus olhos se cruzando por um instante a mais do que deviam. E foi só então que Emma apareceu, saltando ao lado da amiga. — Bom dia, sumida! E então? Como foi a noite? Dormiu bem? — perguntou com aquele tom de amiga que já sabia que tinha fofoca no ar. Lyanna respirou fundo e deu um sorriso nervoso. — Mais ou menos… a casa ficou meio… esquisita ontem. — disse baixinho, se encostando no armário enquanto observava o movimento do corredor. Emma arqueou a sobrancelha. — Esquisita como? — Ah… as coisas ficaram fora do lugar, o abajur quebrou… e eu tive um pesadelo daqueles. E… — ela hesitou — Darian tava lá. Dormiu na poltrona do meu quarto. Emma arregalou os olhos. — O quê?! — abafou o grito, segurando o braço da amiga. — Ele passou a noite lá? Lyanna! Você precisa me contar essas coisas com detalhes! Lyanna riu, corando. — Calma, não foi nada assim. Ele apareceu depois da confusão com o Kyle, disse que tava preocupado e… acabou ficando. Não aconteceu nada, Emma. Sério. Mas… sei lá, foi estranho. Enquanto isso, do outro lado do corredor, Kyle — que vinha passando por ali — diminuiu o passo ao ouvir o nome Darian e "passou a noite lá". Foi só isso que ele pegou. Mas o suficiente para o sangue ferver. "Aquele bastardo…" Fechou os punhos e se afastou antes de ouvir o resto da conversa, a raiva subindo como ácido pela garganta. De volta às amigas, Emma sacudiu Lyanna pelos ombros. — Amiga, você tá ferrada. Esse cara tá na sua. Você já viu como ele te olha? E depois de passar a noite no seu quarto… nossa, isso vai render. Lyanna mordeu o lábio, olhando para o corredor e procurando Darian, que agora conversava com dois caras da turma, de costas para elas. — Emma… tem alguma coisa nele. Eu… não sei explicar. É como se ele fosse… familiar. Como se eu… conhecesse ele de algum lugar. Emma sorriu de lado. — Sei. Isso se chama: química, minha cara. E das fortes. O sinal tocou e as duas seguiram para a sala, sem perceber o olhar sombrio de Kyle as observando de longe, a mandíbula travada e o olhar decidido. Ele não ia deixar barato. A sala já estava quase cheia quando a professora Margaret entrou, como sempre com sua postura impecável, os cabelos castanhos presos no coque apertado, os óculos de aro tartaruga repousando na ponta do nariz. Seus olhos percorreram os alunos, analisando cada rosto com a precisão de quem enxergava além das aparências. E foi impossível não notar. Kyle. Sentado no canto, os braços cruzados, a expressão carregada de raiva, os olhos cravados em Lyanna e Darian, que haviam acabado de se sentar lado a lado. Margaret sorriu discretamente. Ali estava uma peça interessante. Ela sabia reconhecer sentimentos densos — inveja, ciúme, desejo de posse. Aquilo era combustível puro para seus planos. Aproximou-se da mesa, depositou o diário e olhou para a sala. — Antes de começarmos, quero lembrar a todos que o comportamento desta semana definirá quem poderá participar da excursão no próximo sábado. E como sempre, algumas atitudes… — lançou um olhar afiado para Lyanna e Darian — não serão toleradas. Kyle nem piscava. Margaret caminhou até a carteira dele, parando ao seu lado com naturalidade. Se inclinou como quem fosse pegar um papel qualquer, mas sussurrou com veneno doce: — Você vai deixar que ele fique com o que sempre foi seu, Kyle? O garoto olhou pra ela, surpreso, a mandíbula ainda cerrada. — Eu não ligo pra Lyanna. — rebateu, mas a voz saiu tensa, falha. Margaret riu baixo. — Claro que não. Só está fervendo de raiva encarando eles... — tocou levemente o ombro dele. — Sabe… às vezes, quem está próximo demais precisa ser… afastado. E ninguém melhor do que alguém como você pra fazer isso. Kyle franziu o cenho. — O que você quer? Ela endireitou a postura e se afastou, falando por cima do ombro: — Só vou te dar a oportunidade de ajustar as coisas ao seu modo, querido. Eu aviso quando for o momento certo. — e seguiu para a frente da sala, como se nada tivesse acontecido. Kyle ficou ali, a mente girando rápido. Se ela tinha um plano… talvez ele pudesse se aproveitar disso. Afinal, aquele maldito do Darian precisava sair do caminho. E na primeira chance, ele teria sua vingança. O sinal tocou, liberando os alunos para o intervalo. O barulho dos passos e risadas ecoava pelos corredores, mas dentro da sala, um silêncio tenso pairava no ar. Margaret caminhou lentamente até a carteira de Kyle, seu olhar frio e calculista. — “Kyle, pode me acompanhar um instante?” — disse ela baixinho, para que só ele ouvisse. Darian, que observava, percebeu a troca de olhares e o convite discreto. Seu coração acelerou, sentindo o perigo invisível se aproximar. Ele apertou o punho na carteira, tentando disfarçar, enquanto sua mente corria: “Margaret está tramando algo contra nós. Preciso proteger a Lyanna.” Kyle se levantou, lançando um olhar desconfiado a Darian, e seguiu Margaret para fora da sala. Lyanna, sentindo a tensão, olhou para Darian sem entender direito, mas confiava em sua presença protetora.