O ônibus balançava na estrada esburacada enquanto Camila segurava a mochila no colo como se segurasse o pouco de vida que ainda restava. As contas atrasadas, o aluguel quase vencendo e a geladeira vazia martelavam em sua mente.
Ela precisava de um trabalho. De qualquer coisa.
Quando o veículo finalmente parou diante dos portões enormes da mansão Verdan, ela sentiu as mãos suarem.
Aquilo não era uma casa…
Era um reino.
E ela era a intrusa prestes a bater à porta.
Camila respirou fundo e caminhou até a entrada. O interfone tocou apenas uma vez antes de uma voz masculina soar:
— Quem é?
— Camila Andrade. Vim para a entrevista de babá… enquanto a senhora Helena não volta do hospital.
O portão abriu com um clique seco, como se a mansão tivesse decidido engoli-la.
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Ela foi conduzida até a sala principal — gigantesca, silenciosa e fria. Quadros caros, mármore reluzente e o cheiro discreto de perfume masculino caro pairando no ar.
Então ela o viu.
Adrian Verdan.
Alto, impecavelmente vestido, expressão inquebrável. Ele a fitou como quem avalia uma ameaça ou uma peça quebrada.
Camila engoliu seco.
— Você é… a candidata? — ele perguntou, franzindo o cenho.
— Sim, senhor — respondeu ela, tentando parecer firme.
Os olhos dele percorreram Camila de cima a baixo, não de forma indecorosa, mas analítica — como quem mede utilidade, perigo, fraquezas.
— Não tem experiência com crianças. — Ele afirmou, não perguntou.
— Tenho com meus irmãos. — Sua voz saiu suave, mas firme o suficiente. — E aprendo rápido.
Ele não respondeu de imediato. Caminhou até a janela, mãos nos bolsos. Silencioso, poderoso, perigoso em sua quietude.
Então a porta atrás deles se abriu e um garotinho surgiu correndo.
— Papai!
O menino parou ao ver Camila. Seus olhos grandes e curiosos a examinaram. Depois sorriu — um sorriso tímido, sincero, que derreteu algo dentro dela.
— Ele parece gostar de você — Adrian disse, de costas, mas atento a cada respiração.
Camila abaixou-se para ficar à altura do menino:
— Oi, Lucas.
Ele se aproximou e tocou seu rosto com a ponta dos dedos, como se ela fosse algo raro.
Adrian observava como se gravasse cada segundo. E, por um instante, seus olhos escureceram com algo que Camila não soube decifrar.
Desejo?
Interesse?
Ou apenas controle?
— Ótimo — Adrian finalmente disse. — Começa hoje.
Ela piscou, surpresa:
— Hoje?
— Meu filho não espera. — Ele se aproximou mais, a menos de um metro. — E eu também não.
A proximidade dele era desconcertante. O cheiro, a presença, a força contida… como se tudo nele gritasse que Camila estava entrando num lugar do qual não sairia igual.
— Há regras — ele continuou, a voz baixa. — E você vai segui-las sem questionar.
Camila sentiu o coração acelerar, mas manteve o olhar firme.
— Quais regras?
Um canto da boca dele se ergueu — um sorriso mínimo, perigoso.
— A primeira é simples:
Nunca minta para mim.
Nunca.
E naquele instante, sem perceber, Camila assinava mentalmente um contrato que mudaria sua vida para sempre.