BOX LAÇOS DO DESTINO
BOX LAÇOS DO DESTINO
Por: Anny Shwan
01

UMA MÃE PARA O FILHO DO CEO: Pequeno cupido

Fernando Mendonça

Nuvens negras tomavam conta do céu, este só era clareado pelos raios que o cortavam constantemente e assustadoramente. As trovoadas tão intensas, quanto às águas torrenciais da chuva que cai forte e impiedosa sobre nós. Estou há quase duas horas preso num engarrafamento e o percurso está intransitável. Como se não fosse o suficiente, o barulho das buzinas se sobressaem ao som alto causado pelos trovões. A rajada de água que escorre pelo asfalto é tão forte, que os pedestres não conseguem atravessar de um lado para o outro.

Minutos se passaram e finalmente a fila gigante de veículos começou a se mover e quase meia hora depois, chego ao desvio, me livrando daquele tormento. Meus olhos continuavam fixos na estrada e o limpador do para-brisa do veículo, estava quase impotente, dificultando minha visão. Respiro aliviado quando cinco minutos depois, já estava em frente ao portão que dava acesso a minha casa, uma mansão com um portão alto e imponente que logo foi aberto e o carro novamente entrou em movimento, instantes depois, o quando finalmente o automóvel chegou ao seu destino, a porta ao meu lado esquerdo foi destravada, puxei o capuz do meu sobretudo e com passadas largas, me movi em direção a porta principal, porém, antes de abri-la, olhei para o alto e a noite estava escura que nem as asas da graúna, já que os raios não surgiam mais com tanta frequência. Desvio o olhar para a maçaneta e levo uma das mãos até ela e no momento que a porta é aberta por mim, ao adentrar o ambiente, meu olhar recaiu sobre a mulher de expressão cansada descendo os últimos degraus da escada, segurando a babá eletrônica em uma das mãos. Antes que qualquer pensamento se fizesse presente em minha cabeça, o som da sua voz repercutiu no ar.

— Filho tire logo esse casaco — sua voz soou cheia de preocupação. Fiz exatamente como ela havia ordenado, pois Samanta era muito mais que uma simples funcionaria. A mulher que agora tem os seus 55 anos de idade, sempre foi como uma segunda mãe, já que cuidou de mim desde o meu nascimento, acompanhou cada etapa da minha vida e esteve comigo quando recebi o maior golpe do destino, o qual passei a descrever como a pior tragédia da minha vida, ao perder naquele acidente terrível, as duas pessoas que tanto amava. Eu cheguei ao fundo do poço, mas foi com sua ajuda que me levantei e me dediquei nos últimos 18 anos, a dar continuidade aos negócios do meu pai, me tornando assim, um dos maiores empresários do nordeste.

Deixo os devaneios de lado quando novamente ouço sua voz.

— Davi acabou de dormir. Vou providenciar o seu jantar.

Dei alguns passos reduzindo a distância entre nós dois e assim que parei em sua frente, disse.

— Eu me viro mais tarde, você parece tão cansada, é melhor ir dormir.

— Boa noite filho — fala me entregando o aparelho que tinha na mão direita.

— Boa noite Sam e obrigado por tudo — digo e dou um beijo em seu rosto, ela antes de sumir da mina vista, ainda proferiu algumas palavras.

— Você e o nosso pequeno anjo são os dois amores da minha vida, então não tem porque agradecer.

Com passos largos, ela seguiu pelo corredor que dava acesso ao seu quarto. A minha vida não seria nada sem a sua existência e com sua ajuda, eu novamente consegui me manter firme, pois a morte me roubou aqueles que eu tanto amava, entretanto, a vida me deu o maior presente que eu poderia receber: o meu filho amado; o meu maior tesouro, "Davi". Afasto os pensamentos e com passos firmes, subo os degraus, precisava tomar um banho antes de ir até o quarto dele.

Minutos depois...

De banho tomado e usando um roupão preto, meus pés se arrastam pelo chão indo rumo à porta, segundos depois, já estava no corredor e pelo barulho que ressoava abafado no ambiente, a chuva ainda caia torrencialmente lá fora. Com passadas largas cheguei até o quarto do meu filho, em seguida me aproximo do seu berço. Meus olhos ficaram satisfeitos ao ver o pequeno anjo que dormia profundamente e me vi questionando, como seria a minha vida se não fosse contra as escolhas feitas por aquela infeliz, o que fez as lembranças do passado tomarem posse da minha mente.

Era 15 de agosto de 2020, minha cabeça ainda estava a mil após ter acordado três dias atrás numa cama de um hotel e me deparado com a mulher que dormia profundamente ao meu lado. Os cabelos vermelhos e longos cobriam o seu rosto, mas não precisou tirá-los de sua face para descobrir que era Susan, a minha secretaria, naquele momento, o choque da realidade pairou sobre mim, eu me negava a acreditar em como um homem que sempre controlou, não somente os seus negócios, como sua vida, minuciosamente, tinha se deixado levar por alguns copos de bebidas, tendo como consequência dormir com uma mulher, que embora bonita e inteligente, não era alguém com quem queria manter uma relação além do trabalho. Quando saí do transe que me encontrava, minha cabeça parecia pesar uns duzentos quilos e não parava de latejar. Antes que eu me levantasse, ela acordou e um silêncio pesado pairou sobre nós, deixando o ambiente estranho. Porém, quando meus olhos desviaram do seu corpo nu para o meu, começou o verdadeiro desespero, ao ter a confirmação que não havia me prevenido. Trocamos algumas palavras e nos despedimos, contudo, eu jamais esperava que uma noite em que todos comemoravam a inauguração de mais um supermercado na região norte, pudesse mudar completamente a minha vida.

Eu ia descobrir que sim alguns dias depois...

— Precisamos conversar — Susan falou de pé em frente a minha mesa, no meu escritório, perdido em pensamentos, não a tinha visto entrar, voltei à realidade quando meu olhar caiu sobre o envelope em suas mãos, depois de alguns passos, ela estendeu em minha direção.

Peguei imediatamente com minha respiração acelerada, meus batimentos ficaram descontrolados ao ler as palavras contidas no documento. Ainda desorientado, fiquei estarrecido com as palavras ditas dentro da minha sala.

— Não posso criar essa criança sozinha, não tenho condições, aliás, eu não quero estragar o meu corpo e muito menos assumir uma responsabilidade tão grande agora...

— O que você quer dizer com isso? — perguntei mesmo estando aterrorizado com o pensamento que se passou pela minha cabeça.

— Eu irei fazer um aborto e preciso de dinheiro — disse como se fosse a coisa mais natural do mundo, o que fez o sangue em minhas veias ferver, fechei uma das mãos em punho e precisando extravasar a raiva que estava sentindo, o golpe foi desferido com violência contra a minha mesa. Assustada, ela deu um pulo para trás.

— Não estava em meus planos ter um filho agora, muito menos da forma como foi e ainda mais com você, porém, eu jamais irei concordar com tamanha atrocidade — falei ríspido, sentindo a raiva me consumir por completo, enquanto ela recobrou a compostura e tentava se manter inabalável.

— Já que você quer tanto manter esse filho vivo, podemos negociar. Eu irei abrir mão dele assim que vier ao mundo e em troca, você me dará uma boa quantia para eu viver como sempre sonhei — eu ainda estava perplexo ao ver como pude manter por todos aqueles anos, alguém sem escrúpulos dentro da minha empresa, um verdadeiro monstro.

A fúria iluminou os meus olhos, era o momento de deixar o homem frio e implacável assumir o controle da situação, não foi atoa que cheguei ao topo e construí um grande império. O olhar lançado por ela era semelhante ao de um abutre, igual aos que sempre tentavam me passar a pena.

Respirando fundo, disse o que era o melhor a ser feito naquele momento.

— Você terá o que tanto deseja, pois acredito que sempre foi isso que buscou ou não teria engravidado, porém, será feito do meu jeito e sumira para sempre das nossas vidas, pois, caso contrário, você vai se arrepender por ter cruzado o meu caminho.

Um sorriso largo tomou conta do seu rosto e assim que ela saiu do ambiente, embora possuído pela raiva, procurei manter na mente que aquela desgraçada, dentro de alguns meses iria desaparecer das nossas vidas para sempre e eu teria o meu filho.

Deixo as lembranças no passado e aqui estou eu com a maior razão pela qual respiro, a minha fortaleza, o meu pequeno Davi, que há quatro dias completou seis meses. Foram dias difíceis e também tem sido os melhores da minha existência, embora tendo a ajuda da Sam, eu fiz questão de aprender tudo que deveria para quando estivesse em casa, cuidar pessoalmente dele, no momento que peguei em minhas mãos o pequeno pacotinho, dentro da sala daquele hospital, um amor imensurável tomou conta do meu coração, um sentimento que palavras não são capazes de descrever. Davi, meu pequeno rei é e sempre será amado e foi uma grande bênção em minha vida. Levo uma de minhas mãos até o seu rostinho, passando um dos dedos em sua pele macia, em seguida puxo o cobertor para cima, mantendo assim, o seu corpinho aquecido. Com a babá eletrônica em mãos, caminho para fora do ambiente, amanhã será um novo dia e terei que acordar cedo, já que será o dia de mais uma consulta de rotina do meu pequeno. Contudo, chegando ao corredor, senti um vento frio passar pelo meu corpo e um tremor violento me atingiu, fazendo o meu coração bater fortemente.

— Que diabos está acontecendo comigo?

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