ARTHUR CASTELLANI
O consultório estava silencioso, exceto pelo som ritmado que preenchia o ar como se fosse o próprio universo pulsando . O batimento do coração do meu filho. Todas as vezes que escutava me deixava vibrando.
Eu nunca tinha ouvido algo assim . Não daquele jeito . Tinha algo de sagrado ali , algo que me desmontou por dentro.
Maitê estava deitada na cama , com o rosto virado para a tela. O médico apontava as pequenas estruturas com naturalidade clínica - cabeça , braços , coluna – mas eu mal conseguia me concentrar . Meus olhos ardiam. Minha garganta apertava . Eu estava , pela primeira vez em muito tempo , vulnerável.
-Está tudo bem com ele? - perguntei , tentando soar firme , mas a voz saiu mais baixa do que eu esperava.
-Muito bem . Crescendo no ritmo certo , forte. É um bebê saudável , senhor Castellani.
O som dos batimentos ecoava na sala , grave , contínuo . Um tambor primitivo que me ancorava. Aquilo era real . Um filho , meu filho . Com Maitê.
Olhei para ela