Algumas noites se passaram, enquanto eu observava mais uma das minhas “cenas”, como eu gostava de chamar, em uma rua quase vazia, iluminada apenas por alguns postes, a sensação de ser observado estava mais forte do que nunca. Eu sentia os olhos sobre mim, como se uma presença estivesse me seguindo.
E então, eu a vi.
A loira, de pele pálida, cabelos dourados, parecia uma atriz de algum filme de cinema. Seus olhos vermelhos, profundos, brilhavam como se ela fosse uma criatura noturna de outro mundo.
Ela encarava-me diretamente. Sua aparência não passava despercebida, não havia como ignorar o poder que ela exalava, algo que eu não consegui entender de imediato.
Usando a velocidade que agora eu sabia controlar bem, fui até ela e, quando finalmente a alcancei, ela não hesitou. Olhou-me nos olhos com uma confiança que só alguém como ela poderia ter.
— Você demorou a me localizar. É um recém-criado. — Ela disse, a voz suave, mas carregada de um conhecimento sutil.
— Quem é você? — Perguntei, a voz firme, apesar do caos que estava tomando conta de mim. Não era medo, mas a sensação de estar diante de alguém que possuía mais conhecimento do que eu.
— Sou alguém que pode ajudá-lo. — Ela respondeu, com um sorriso enigmático. — Você está perdido, e mesmo que ainda não saiba o que exatamente está buscando, eu sei. Você tem questões, dúvidas, e eu posso guiá-lo. Não precisa mais seguir esse caminho sozinho.
Eu a observei, o instinto de desconfiança fervendo dentro de mim. Havia sido traído pelo meu próprio pai e nada naquilo parecia certo. Ela parecia saber demais, como se tivesse sido uma parte fundamental do meu destino desde o começo.
— Não preciso de sua ajuda. — Retruquei, tentando manter o controle da situação. Ela deu uma risada baixa, quase como se me compreendesse, mas sem julgamento.
— Precisa sim… você só não sabe ainda. A questão é… você vai se deixar ajudar ou continuar se afundando sozinho em busca de algo que talvez nunca descubra?
Eu respirei fundo, meu olhar fixo nela, tentando decifrar se eu poderia confiar nela ou se estava diante de algo ainda mais perigoso do que eu já estava afundado.
— Não preciso não. — Eu disse, a palavra saindo como uma afirmação mais para mim mesmo do que para ela. — Eu sei o que preciso fazer.
Mas algo dentro de mim, uma sensação estranha, me dizia que talvez ela estivesse mais certa do que eu queria admitir.
— Se você sabe o que fazer, vou ficar apenas aqui observando. — Ela me desafiava, e a maneira como me olhava, como se soubesse cada pensamento, cada dúvida, fazia com que algo dentro de mim se agitasse.
Ela não precisava dizer mais nada. O olhar dela, afiado como uma lâmina, dizia tudo. Ela queria ver se eu tinha controle sobre o que era agora. Não só sobre minhas ações, mas sobre o que eu realmente era. Uma parte de mim sabia que ela estava me testando, me provocando, para ver até onde eu iria para provar minha afirmação.
Mas a verdade era que, quanto mais eu observava, mais a linha entre o controle e a perda dele começava a desaparecer.
E foi quando ela apontou para o jovem, que passava distraído na calçada, que meu coração acelerou. Um ser humano. Uma vítima fácil, sem sequer perceber a presença de um predador.
— Se não tiver medo, você pode testar sua teoria com aquele jovem que vem ali. — Ela disse com uma calma perturbadora, quase desinteressada.
Não era uma sugestão, era uma ordem disfarçada de convite. A frase era clara… se eu não fosse capaz de lidar com isso, de manter o controle, ela saberia. Ela estava jogando um jogo, mas, ao mesmo tempo, estava me oferecendo a chance de provar a mim mesmo que ainda tinha controle dentro de mim.
Fiquei ali, observando o jovem se aproximar. Ele não sabia do perigo que corria, e eu sabia que poderia tomar o controle de sua mente, hipnotizá-lo, como tantos dos meus semelhantes faziam. A sede dentro de mim cresceu, a fome não apenas física, mas a fome de poder, de controlar.
Mas havia um medo que não sabia de onde vinha. Medo de me perder, de não conseguir voltar de onde eu estava me aproximando. Eu tinha o poder, sabia disso. Mas tinha medo de me tornar exatamente o monstro que eu temia.
— Você não é mais humano. — Ela disse, como se lesse meus pensamentos. — Você sabe disso, não sabe? Este é o momento. Faça a escolha.
Eu respirei fundo, mas o peso da sua presença parecia me sufocar. O jovem continuava vindo em minha direção, inconsciente do que estava prestes a acontecer. Uma decisão simples, mas com consequências profundas. Eu poderia controlar tudo e seguir em frente, ou… ou eu poderia parar. Mas, e se eu não conseguisse parar?
Minha mente estava dividida. Eu sabia o que ela queria ver. Ela queria ver até onde eu iria. Mas mais do que isso, ela queria me forçar a confrontar a verdade sobre quem eu realmente era.
Eu parei diante do jovem, mas quando ele olhou nos meus olhos, algo mudou. O impulso de agir, de tomar o controle, de fazer aquilo que era esperado de mim… tudo isso se esvaiu. Eu estava diante dele, tão próximo, e, no entanto, naquele instante, eu não sabia mais o que fazer.
Algo dentro de mim hesitou, um fio de humanidade que me fez questionar se realmente queria ser aquele monstro. O jovem me observava, sua expressão confusa, sem perceber o perigo iminente. Mas eu estava congelado, incapaz de dar o próximo passo.
E foi nesse exato momento que ela, a loira de olhos vermelhos, se adiantou. Seus movimentos eram tão rápidos e sutis que eu mal percebi. Com um simples gesto, ela fez o jovem olhar para ela, e assim que ele o fez, pude sentir a onda de poder que emanava dela, uma força que eu nunca havia experimentado antes. A voz dela, suave, mas carregada de autoridade, soou como uma ordem direta.
— Olhe para mim. — Ela disse, e eu senti a força da hipnose, algo tão intenso que não parecia humano.
A voz dela era como um comando, uma pressão direta sobre a mente do jovem. Ele se fixou nela, seus olhos se tornando vazios, desprovidos de qualquer vontade própria.
E então eu senti. O poder que ela tinha. O controle. O fluxo dela parecia ir além do simples controle da mente. Era como se ela fosse capaz de manipular algo mais profundo, algo que eu ainda não compreendia completamente. A sensação de controle absoluto, de poder sobre a vida de outra pessoa, foi esmagadora.
Eu fiquei parado, assistindo tudo, sentindo um misto de admiração e receio. Era uma demonstração clara de algo que eu ainda não havia alcançado, algo que parecia além da minha própria compreensão.
Ela não apenas controlava a mente do jovem… ela controlava a situação, a dinâmica, o próprio espaço ao nosso redor. E eu? Eu estava ali, sem saber o que fazer, sem entender como ela era capaz de fazer aquilo com tamanha facilidade.
— Agora, siga-me. — Ela ordenou, sua voz suave, mas firme.