Lucy
Claro que me assustei quando o vi. Até porque pensei que ele realmente havia "fugido para as montanhas" depois de ouvir tudo o que eu disse. Mas espera, estou olhando para suas mãos, e o que vejo sim me assusta e me faz querer correr. E é isso que faço sem a menor vergonhade parecer que estou o ignorando tamanho o medo que estou sentindo, mas não dá muito certo pois quando viro em direção ao lado oposto ele me chama. _ Lucy, Lucy - finjo que não ouvi e continuo andando - Lucy! Ele me alcança e estou realmente tentando fugir e falhando miseravelmente. _ Ei, calma, esperei porque gostaria que entregasse algo para a sua pequena. Você disse que tem uma filha de 4 anos e achei que ela iria gostar de um desses e de alguns chocolates. Ele me deixa sem ação. Tudo o que pensei que o afastaria o trouxe até mim. O que eu faço? Pensa Lucy, pensa. Quando eu ia arrumar uma desculpa para recusar ele atropela meus pensamentos. _ Olha, sei que você está achando estranho eu insistir em falar com você. Eu também na verdade... - ele divaga - mas é que eu fiquei impressionado com sua história, sua força e a forma com que fala de sua filha me emociona e me surpreende em muitos aspectos... Enfim Lucy, eu só gostaria que você me desse uma chance de ser seu amigo. É claro que você pode dizer não quando quiser, mas já lhe adianto que não sou de desistir fácil. E você não vai recusar um presente que comprei para a sua princesa não é? Por favor Lucy, me dá uma chance? Eu sou um cara legal, juro! Ele fala tudo isso me olhando nos olhos e a sensação que tenho é que sou uma bruxa. Sorrio e estendo a mão para pegar os presentes da minha filha. _ O nome dela é Alice, e sendo justa, ela vai amar os presentes, obrigada. - falo e vejo um sorriso enorme em seu rosto, e Deus, porque um sorriso assim? _ Então amiga, - ele fala dando ênfase no "amiga", - posso lhe oferecer uma carona? Está tarde, você deve estar cansada... É claro que não aceito e nesse meio tempo já chamei o Uber e inclusive está chegando. _ Agradeço mas minha carona já chegou. - Ele me olha de um jeito desolado. _ Ok senhorita independente, pode me emprestar seu telefone? Sem entender nada entrego o aparelho para ele, que rapidamente digita algo e ouço um barulho de celular tocando. É o dele. Ele pega rapidamente seu celular do bolso e também digita algo e me entrega o meu. _ Prontinho Lucy, todo seu. Posso te ligar qualquer hora dessas para tomar um café? Pergunta tão vagamente que duvido que vá ligar. Dou de ombros e respondo que sim. Claro que não acredito que ele vá ligar. Ele então se aproxima, abre a porta do carro do aplicativo e quando vou entrar ele me dá um beijo do lado direito e fala no meu ouvido. _ Vou te ligar Lucy. Pode esperar. Eu sorrio e trato logo de entrar no carro. Jesus, isso não é de Deus não! Dou boa noite ao motorista do aplicativo e ele rapidamente me deixa na porta da casa da Carol. Chegando na porta ela logo se abre com uma Carol toda sorridente me esperando com o celular na mão me mostrando imagens do vuco vuco de mais cedo na frente da lanchonete em que trabalho. Ai meu Deus me ajuda a sair dessa. Ela olha para minhas mãos, vê os presentes da Alice e como se fosse vidente olha dentro dos meus olhos e fala. _ Conta tudo, e não me esconda absolutamente nada. MATT CORTEZ Tudo bem, tudo bem... Ok, consegui ao menos o número dela. Claro que adoraria ter deixado ela em casa, mas ela é rápida e astuta. Amanhã é outro dia. Acho que ela entendeu que não vou embora porque ela tem um passado. O que ela pensa? Todos temos uma história, e o nosso passado nos transforma no que somos hoje. E de mais a mais, o passado é passado e é lá que ele deve ficar, no passado. Volto para o carro e não preciso olhar para o Falco para saber que ele me olha com cara de bobo. Ele sabe que não sou disso. _ Vai cara, pode falar, já sei que vai me dar sermão. Ele me olha e apenas dá de ombros. Mas sei que não vai aguentar muito tempo. E... _ Meu, você só pode estar ficando louco! - não falei? - mas que ela é muito gata, isso ela é. Dou um tapa em sua cabeça e já aviso. _ Aí, nunca mais repita isso. Ela é muito importante para mim. É linda sim, mas pra você, é um homem de bigode. É assim que quero que a veja, entendeu? Ele me olha com ar de riso, e só posso ficar ainda mais assustado com minha reação. _ Me responda uma coisa Matheus, é ela? Ele me chamar de Matheus me deixa no mínimo atento. Eu penso em todos os momentos que vivi até o dia de hoje. Lembro das mulheres que já me envolvi, e do vazio que sempre senti. Sei que é cedo para ter certezas, mas tudo me faz acreditar que é ela. Falco me conhece desde que entrei nesse mundo artístico, desde a época de modelo. E ele sabe como me sinto sobre esse trabalho. Para alguns é tudo o que sempre sonharam. Mas pra mim é apenas trabalho. Um modo de ganhar meu dinheiro e conquistar o que eu quero. Mas isso não me resume, e sempre disse que o dia que eu encontrasse ela, eu largaria essa vida louca de ator e formaria uma família. Pois não consigo imaginar minha privacidade e de minha família sendo invadida por repórteres querendo saber onde vamos, o que fazemos. Pra mim não dá. Por isso essa pergunta do meu amigo. E depois de pensar em tudo isso, respondo _ É ela, Falco. E pronto, é o suficiente para fazer meu amigo compreender como me sinto. Chego em meu apartamento já de madrugada. Tomo um banho, faço um sanduíche. Falco hoje dorme aqui, e vejo que também come algo. Lhe desejo boa noite, Deixo as coisas por lá , escovo meus dentes e deito em minha cama olhando como tudo aqui é grande e vazio. Moro na Barra em um apartamento grande, mobiliado por uma decoradora famosa, tudo muito bonito e de bom gosto, mas impessoal e frio. Falta ela para transformar minha residência em um lar. Pensando nisso pego o telefone e mando uma mensagem. Espero que tenha chegado bem, e que a Alice goste dos presentes. Boa noite Lucy. Sonhe comigo. E sorrindo imaginando a reação dela ao ler pego no sono torcendo para sonhar com ela.