Capítulo 7

Ministério da Defesa dos Estados Aliados do Sul 15º 47' 43'' S 47º 52' 17'' W

Tempo transcorrido após o primeiro contato: 55h

Gerald Rohns, o Secretário de Defesa dos Estados Aliados do Sul permanece imóvel em sua cadeira. Sentado de frente para seu monitor, com os cotovelos apoiados sobre a mesa e as mãos com dedos entrelaçados sobre o queixo, ele não tirou os olhos da imagem nem por um segundo. Após analisar pela centésima vez a situação, finalmente sua cabeça desliza para a esquerda. Uma luz branca se acende em meio a tanta outras em um pequeno painel eletrônico instalado em baixo relevo na tampa superior de sua mesa. Ao pressionar o botão correspondente, um leve ruído estático é ouvido.

- Senhor Secretário, ele chegou. – A voz claramente pertence a uma mulher com uma idade um pouco mais avançada. Sua dicção perfeita e elegância sugerem que a pessoa em questão possui uma já vasta experiência na função de secretariado.

- Obrigado, Debbie. – Ao retirar o dedo do botão, a ligação é concluída.

A sala do Secretário de Defesa está bem escura, com todas as luzes apagadas. A única fonte de luz são alguns tímidos raios de sol que permeiam o ambiente através das frestas das blackouts instaladas nas janelas. Num formato retangular, o aposento é grande, medindo por volta de quatro metros de largura por seis de comprimento. Sua mesa, posicionada de costas e entre as duas únicas janelas fica de frente para um jogo de sofás de couro italiano, alocados de forma que todos os seus ocupantes fiquem virados para o centro. No meio dos acentos, uma mesa quadrada com não mais de meio metro de altura, decorada com alguns livros de obras fotográficas sobre o seu tampo de vidro temperado. Uma lareira na parede oposta à sua mesa, juntamente com estantes acomodando várias coleções de livros completam a decoração.

Da porta de folhas duplas, à esquerda da mesa surge um homem de meia idade. Seus cabelos começam a se tornar grisalhos e marcas em seu rosto denunciam o forte stress de sua função. Seu terno cinza com caimento perfeito sobre o corpo e seu perfume francês, juntamente de sua personalidade, quebram a atmosfera lúgubre do aposento.

- Meu deus, Gerald! Não vai me dizer que virou um vampiro agora! – Acostumado a se pronunciar diante milhares de pessoas, a figura entona uma voz alta e firme. Ele se dirige ao Secretário e após um aperto de mãos protocolar o puxa em direção à um caloroso abraço. – Vejo que parou de se exercitar...

- Oh, vai mesmo querer trilhar por esse caminho, Sr. Presidente? – Rohns retribui o abraço, mas não consegue deixar sua feição séria de lado.

Francis Peruzzo Cavalieri, o presidente em ofício. Líder máximo dos Estados Aliados do Sul. Sem demonstrar nenhum pudor, levanta as cortinas blackouts de ambas as janelas, permeando a sala com os raios vespertinos do final de tarde.

- Presumo que já esteja a par dos últimos acontecimentos. – o Secretário, com o braço estendido oferece um lugar nos sofás, no centro da sala.

- Sim, Gerald. – O presidente desabotoa seu terno e se senta de forma bem informal, com as pernas cruzadas e um de seus braços apoiado sobre o encosto do sofá. – Recebi o seu relatório a caminho daqui.

- E então?

- Bem, não posso dizer que estou surpreso com o surgimento de um alienígena no nosso quintal. O que me assusta é a velocidade com que isso aconteceu.

- Sim, Senhor Presidente.

- Gerald, por favor. Você sabe que pode me chamar de Francis. Estamos sozinhos afinal de contas.

- Está bem, Francis. – O Secretário faz questão de enfatizar o uso da linguagem coloquial. - Em menos de 20 anos, esse é o segundo evento que registramos. E com certeza eles estão interligados.

- Você acha que ele está aqui por causa do meteoro? – O tom descontraído do presidente muda.

- Por causa de Armacell ? Tudo leva a crer que sim. Quero dizer, você viu sua armadura? Sua composição atômica? São idênticas ao do meteoro. A pureza do temblórium do alienígena é a mesma do meteoro. – Rohns se levanta e vai até sua mesa, pressionando outro botão, do mesmo painel de outrora. Algumas estantes da parede se movem revelando oito monitores escondidos. – Ativar comando por voz. Usuário PK034. Reproduzir Armazenamento Armacell.

Em instantes todos os oito monitores passam a exibir imagens do que parece ser um complexo industrial militar ultrassecreto. Em quatro monitores o foco é uma estrutura hemisférica, localizada bem ao centro do complexo. Com aproximadamente dez metros de raio, a estrutura possui quatro gigantescas mangueiras cobertas por uma crosta de gelo ao longo de todo o seu corpo, bombeando e drenando incessantemente algo para o interior da câmara. Cada monitor, interligado a uma câmera de segura transmite a imagem de uma posição diferente, dando ao espectador uma visão geral da construção e de todos os seus ângulos.

Uma das câmeras, estrategicamente posicionada em frente ao portão de acesso ao interior da câmara é o destino dos olhares do Presidente e Secretário de Defesa. Cada uma das duas portas de correr que compõe o portal deve pesar algumas dezenas de toneladas e medir, talvez, quase um metro de espessura.

- Desde a última extração de temblórium não detectamos nenhuma atividade no Armacell. Mas se pensarmos que esse novo alien disponha de uma tecnologia avançada de rastreamento, não seria impossível para ele rastreá-lo até aqui.

- Você tem razão, Gerald. Seríamos idiotas se achássemos que esse visitante veio até aqui por qualquer outro motivo.

- Senhor Presidente, - por um leve descuido, Rohns volta a tratar o seu amigo pelo título oficial -, como a Libra está tratando o assunto?

- Não sei. Em minutos teremos uma videoconferência, mas não podemos subestimá-la. Eles já devem estar começando a ligar os pontos. – Francis se levanta e se aproxima do monitor. – Se já não chegaram a essa mesma conclusão, com certeza chegarão em questão de horas.

- Eles ainda não sabem sobre o conteúdo interno de Armacell. Ainda pensam que aquilo que nos atingiu na Patagônia foi apenas um meteoro composto por uma material único. Talvez fosse melhor que eles soubessem toda a verdade.

- Ainda não é o momento, Gerald. Armacell é o nosso trunfo para liderarmos a humanidade em um futuro próximo.

Rohns franze a testa. Seu instinto diz que seu presidente está errado. Mas não há nada que ele possa fazer por enquanto. - Senhor, estamos com o CICLOPE orbitando na atmosfera lunar, aguardando instruções. O que faremos?

- Vamos aguardar, Rohns. – Francis se levanta e abotoa o paletó. Ele começa a caminhar em direção à mesma porta pela qual entrou. - Mantenha o satélite o mais afastado que puder, mas sem tirar os olhos do nosso visitante, pelo menos até saber se o alvo é hostil. Não queremos entrar para história como aqueles que iniciaram um confronto cósmico.

- Está bem, Senhor Presidente. Vou dar a ordem.

Com um novo aperto de mão, o Presidente Cavalieri se despede de Rohns. Antes de deixar a antessala, ele ainda dá uma piscada de olho para Debbie.

O Secretário de Defesa se vira para sua mesa e, antes de sentar-se, volta a baixar os blackouts das janelas, voltando a imergir sua sala na penumbra.

Após digitar sua senha, a tela de seu computador se ilumina. Com movimentos rápidos e precisos de seu mouse, em segundos Rohns já está em contato novamente com o C.O.D.A. e com CICLOPE.

- Atenção CICLOPE. Essas são as ordens diretas de nosso Presidente. Vocês devem permanecer em posição, com o sistema de armas ativado e acompanhando de longe as atividades. – Após uma curta pausa, Rohns segue sua intuição e completa as instruções. – Estou destacando um esquadrão de Starhawks para escoltá-los. Preparem-se para recebê-los.

- Entendido, senhor. Estaremos aguardando. – Quem responde é o Rádio Operador do satélite.

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