CAPÍTULO 7.
Um Refúgio na Estrada do Desespero. A poeira da estrada no Brasil, na cidade de Santa Clara, subia sob os passos cansados da família de Joaquim. Ele caminhava à frente, a expressão dura, mas determinada, enquanto segurava a mão de sua filha mais velha, Calysta, de 10 anos. Rosa, com o ventre pesado pela gravidez, caminhava lentamente ao lado deles, com Helena, de 8 anos, segurando sua mão. A pequena família havia deixado tudo para trás, fugindo de um massacre que ainda lhes assombrava os sonhos. O sol abrasador parecia zombar de sua fraqueza, e o único som era o farfalhar do vento e o choro contido de Helena, que mal compreendia o motivo de tanto sofrimento. — Papai, estamos chegando? — perguntou Calysta, tentando esconder o cansaço em sua voz. Joaquim olhou para a filha e sorriu com dificuldade. — Logo, minha estrela. Vamos encontrar um lugar. Prometo. Foi então que o som de rodas e cascos chamou a atenção da família. Um carroça carregada de feno se aproximava pela estrada. O homem que a conduzia era robusto, com um chapéu de palha e roupas gastas pelo trabalho. Ele parou ao ver a família, a compaixão iluminando seu rosto. — O que fazem aqui sozinhos? — perguntou o fazendeiro, olhando especialmente para Rosa, que parecia prestes a desabar. — Estamos procurando trabalho e um lugar para ficar, senhor, — respondeu Joaquim, sua voz carregada de cansaço, mas também de dignidade. O fazendeiro coçou a barba, ponderando. — Bom, tenho uma fazenda a poucos quilômetros daqui. Não é muito, mas posso oferecer um teto e comida em troca de trabalho. Você parece ser um homem forte. Rosa, sem conseguir segurar as lágrimas, agradeceu baixinho. — Deus abençoe você, senhor. — Meu nome é Antônio, — disse o fazendeiro, descendo da carroça para ajudar Rosa a subir. — Vamos, não posso deixá-los aqui. Parece que a senhora está prestes a dar à luz. A fazenda de Antônio era simples, mas vibrante. Galinhas ciscavam pelo terreiro, e os campos se estendiam até onde a vista alcançava. Antônio mostrou-lhes uma pequena casa de madeira ao lado do celeiro, onde poderiam ficar. — Não é muito, mas é seco e seguro, — disse ele, entregando a Joaquim algumas ferramentas. — Comece amanhã no campo. Minha esposa pode ajudar sua mulher com o bebê que está para chegar. Nos dias que se seguiram, Joaquim começou a trabalhar nas plantações de milho e feijão. Seu corpo doía, mas ele nunca reclamava, determinado a recomeçar por sua família. Rosa, mesmo com o cansaço da gravidez, ajudava como podia na organização da casa. Calysta e Helena exploravam o novo ambiente, tentando encontrar alguma normalidade no meio do caos. — Papai, por que estamos aqui? Por que tivemos que sair? — perguntou Helena certa noite, enquanto ajudava a mãe a preparar a mesa. Joaquim se agachou ao lado da filha e a puxou para um abraço. — Porque às vezes precisamos recomeçar, pequena. Aqui, temos uma chance de viver em paz. Calysta minha estrela venha cá, sente-se aqui. Filha, a partir de hoje você vai se chamar Ariadne significa "santíssima", "muito pura" ou "extremamente casta". -Bonito nome pai, mas porquê vai mudar meu nome? -Se aqueles homens maus estiverem nos procurando, seu nome será fácil de achar. -Entendi papai! Ela respondeu com lágrimas nos olhos. -O houve filha? Por quê está chorando? -Então eles estão me procurando, pai? Calysta perguntou abraçando o pai. -Espero que não filha, por isso melhor trocar seu nome, pois ele é muito diferente. -Tá bom pai. Ariadne, ouvindo a conversa, ficou em silêncio. Embora não dissesse nada, sentia o peso do que havia e a responsabilidade de ajudar sua família a superar aquele momento. Exatamente uma semana após chegarem à fazenda, Rosa entrou em trabalho de parto. A noite estava silenciosa, exceto pelos gritos abafados que vinham da pequena casa. Ariadne e Helena ficaram sentadas no canto, abraçadas, enquanto a esposa de Antônio ajudava Rosa. Horas depois, o choro de um bebê ecoou na casa. Joaquim entrou no quarto e sorriu ao ver Rosa segurando o pequeno João nos braços, as lágrimas escorrendo por seu rosto. — Ele é lindo, meu amor — disse Joaquim, beijando a testa da esposa. Ariadne e Helena entraram, curiosas, e se aproximaram da mãe. — Esse é o seu irmãozinho, meninas, — disse Rosa com um sorriso cansado. Ariadne tocou a mãozinha do bebê, sentindo uma mistura de amor e responsabilidade. — Eu vou ajudá-lo a crescer, mamãe. Prometo. Com o nascimento de João, a vida na fazenda tornou-se ainda mais desafiadora. Rosa, apesar de estar se recuperando, começou a ajudar na costura para contribuir com a renda. Antônio, reconhecendo sua inteligência, sugeriu que ela fosse até a escola local para trabalhar como professora. — Você tem jeito com crianças, dona Rosa, e a escola precisa de alguém assim. Vai ajudar sua família a se estabilizar. Com relutância, Rosa aceitou. Durante as manhãs, enquanto Joaquim trabalhava no campo, ela ia até a escola e ensinava as crianças da comunidade. Ariadne e Helena começaram a frequentar as aulas, mas não foi fácil. Algumas crianças zombavam de suas roupas simples e do jeito reservado de Ariadne. — Por que vocês são tão estranhas? — perguntou uma menina, rindo com outras ao redor. Ariadne segurou as lágrimas, mas não respondeu. Helena, porém, não teve a mesma paciência. — Somos diferentes porque somos melhores! — retrucou, puxando a irmã para longe. Mais tarde, em casa, Rosa as repreendeu. — Não deixem que a raiva tome conta. Vocês são fortes, e o importante é que estamos juntos. Mesmo com os pequenos progressos, a vida continuava difícil. A comida era simples, as noites eram frias, e o trabalho era exaustivo. Joaquim e Rosa guardavam suas tradições ciganas no coração, mas sabiam que precisavam se adaptar àquela nova realidade para proteger os filhos. Ariadne, apesar de sua timidez, começou a se destacar na escola. Sua inteligência chamou a atenção da professora, que elogiava suas redações e habilidades com números. — Você é especial, Ariadne, — disse a professora certa vez. — Nunca deixe que ninguém diga o contrário. A menina sorriu timidamente, mas guardou aquelas palavras no coração. Helena, por outro lado, continuava sendo a faísca da família, sempre pronta para defender a irmã ou arrancar um sorriso de Rosa nos momentos difíceis. Joaquim e Rosa, embora exaustos, começaram a ver uma luz no horizonte. A pequena fazenda oferecia não apenas um abrigo, mas a possibilidade de recomeçar. — Estamos longe de casa, — disse Joaquim certa noite, enquanto olhava para Rosa segurando o bebê. — Mas estamos vivos, e isso é o que importa. Rosa concordou, olhando para Ariadne e Helena dormindo juntas no canto da sala. — Enquanto estivermos juntos, encontraremos uma maneira de vencer. Ariadne, deitada com os olhos semicerrados, ouviu as palavras da mãe e sentiu um calor em seu coração. Ela sabia que o caminho seria longo, mas acreditava que, um dia, tudo faria sentido.