Capítulo 20
Mariana Bazzi
A sacolinha estava no meu colo, como um amuleto. Eu a segurava com tanto cuidado que parecia feita de vidro, enquanto a caixa bonita deixei no chão. Dentro dela, um pedaço do que eu nunca tive direito de viver. Nunca usei o vestido, e na agenda haviam sonhos que talvez nunca conseguisse realizar.
Ezequiel me olhava com seus olhos pacientes, protetores, e ao mesmo tempo... tão intensos. Era confuso. Era tudo muito confuso.
Ele disse que conhecia o Papai Noel. Meu coração deu um salto. Parte de mim queria acreditar que era só uma coincidência — que o homem gentil de olhar calmo e abraço acolhedor existia mesmo. Que ele poderia aparecer diante de mim e me dar mais um presente. Um olhar. Um afeto. A figura de um pai. De um herói.
O jeito como Ezequiel me tocava, como me olhava, como dizia meu nome... não era nada paterno. Era diferente. E por mais que meu corpo começasse a reconhecer isso — a desejar isso —, minha mente ainda gritava de medo.