Capítulo 33 Mariana Bazzi O carro parecia um touro nervoso nas mãos da doutora Samira. A cada curva errada, a cada freada brusca, eu me agarrava ao painel como se ele fosse me salvar da morte. E ainda assim, nada disso era mais assustador do que o que nos esperava no final da estrada. — Eu nunca dirigi à noite nessa estrada — murmurou ela, estreitando os olhos para o asfalto irregular. — E, honestamente, esse farol está meio... oblíquo? — Você não devia dizer isso em voz alta — respondi entre os dentes. — E, por favor, se alguém olhar demais, diminui. Vai devagar, discreta. Lembra? — Eu sou clínica e terapeuta Mariana, não agente secreta — rebateu, mas logo soltou um suspiro tenso. — Mas... certo. Vou tentar — sorriu pra mim. As mãos dela tremiam no volante, mas não tanto quanto as minhas. Eu mantinha os olhos grudados no retrovisor, como se fosse capaz de detectar a ameaça antes que ela surgisse. O carro escorregava sutilmente na lama à beira da estrada, mas o farol,
Capítulo 34 Mariana Bazzi A sala caiu em um silêncio pesado. Até a música lá fora parecia abafada, como se o mundo esperasse a resposta dele tanto quanto eu. Ezequiel não se moveu. Não afastou as mulheres. Não soltou o copo. Nem se deu ao trabalho de se levantar. Apenas me encarou, olhos semicerrados, o tom arrastado de quem tinha bebido mais do que devia — ou fingia muito bem. — Você não tinha autorização pra sair — disse ele, a voz cortante, fria como gelo recém tirado do balde de uísque — É minha prisioneira, porra! Eu estremeci, mas não retrocedi. — Você tá falando sério? — Prefere voltar pra casa... — ele continuou, passando a mão distraidamente no braço da garota sentada à esquerda, que sorriu como uma idiota — ...ou quer que um dos meus homens te carregue de volta e te tranque no quarto até eu chegar? Meu coração desceu até o estômago. — Tenta — desafiei, sem nem saber de onde tirei força. — Mas vai precisar de mais que um deles pra conseguir. Minha
Capítulo 35 Ezequiel Costa Júnior Meu sangue fervia nas veias. Isso não pode ser possível... — Porque veio até aqui? Por que veio, porra!? — perguntei furioso enquanto arrastava Mariana até o portão de saída. — Me solta! Eu vou onde quiser! — ousou me provocar. A puxei e vi a porra da mulher que se diz "doutora" dela, atrás. Quando chegamos no estacionamento, eu fiquei enlouquecido. — Vá pra puta que pariu, Samira! No meu carro você não entra! — Mas e a Mariana? Como... — Volte como veio. Desaparece! — dei as costas a ela, bati com a porta e entrei no carro, pisando fundo, cantando pneu. Enquanto a imagem da tal médica sumia das minhas vistas e os malditos filhos da puta, paravam de olhar pra Mariana. O carro rugia enquanto eu pisava fundo no acelerador, como se a velocidade pudesse calar o caos que tomava conta da minha cabeça. Mariana sentada ao meu lado, tensa, respirando rápido, mas sem dizer uma palavra. Eu queria gritar. Queria explodir. Queria que
Capítulo 36 Ezequiel Costa Júnior Aquele sorrisinho maroto no canto da boca dela... foi como uma vitória. Mas uma vitória diferente. A porra da confiança que essa mulher me exige de um jeito que ninguém jamais ousou, me enlouquece. Encostei meu corpo de leve no dela, só pra sentir se ela recuava. Não recuou. A pele quente, os olhos desafiadores. Mariana é um misto de força e fragilidade que me desmonta por dentro. E ela sabe disso. — Isso parece interessante. O que quer, bonequinha? — perguntei de novo, com a voz mais baixa, quase num sussurro, como se nossas respirações tivessem criado uma bolha onde só nós dois existíamos. Ela me olhou firme, sem medo, sem hesitação. — Quero que pare de ouvir o Consigliere. Quero que me dê um voto de confiança. Você me quer, Ezequiel? Então cada vez que me ouvir, que confiar em mim... eu vou deixar você se aproximar. Vou me esforçar. Aquilo me pegou de surpresa. — E isso inclui o quê exatamente? — aproximei meu rosto do dela, a b
Capítulo 37 Ezequiel Costa Júnior Peguei o celular antes de entrar no carro. Mandei uma mensagem rápida para um dos meus homens mais afastados de Yulssef. Um cara de confiança, que eu sabia que não tinha rabo preso nem medo de contrariar ordens. "Preciso das imagens do bordel. Agora. Sem comentar com ninguém." Olhei de soslaio para Mariana, que já se ajeitava no banco do passageiro. Dei a partida. A estrada vazia se estendia na frente e no meio do caminho, não resisti. Estiquei a mão até a coxa dela, de leve, querendo senti-la. Mariana respirou fundo, meio trêmula. Quase imperceptível... mas eu percebi. Tirei a mão de lá pra depois não surtar, também não queria invadir o espaço dela, ainda mais depois do que ela me contou. Mas, pra minha surpresa, ela mesma pegou minha mão no ar, devagar, e colocou de volta sobre a dela, na coxa. Segurou firme. Como se dissesse que estava tudo bem. Caralho! Só se for pra ela. Como uma mulher não sabe que sentir a coxa é o início para
Capítulo 38 Mariana Bazzi Eu respirei fundo, tentando me acalmar, enquanto o barulho da água preenchia o banheiro. Ele estava ali, tão perto... e agora, sem camisa... sem nada. Minhas mãos tremiam levemente quando entreguei o kit de higiene para Ezequiel. Queria desviar o olhar, mas parecia impossível. O corpo dele era absurdo. Ombros largos, peito definido, aquele abdômen com linhas fundas, como se tivesse sido esculpido em pedra. Nem parecia real. Fiquei ali, parada, até que ele apontou para a poltrona no canto do banheiro com a voz rouca, sem tirar os olhos de mim, para que eu sentasse. Sentei, rígida, sem saber direito onde enfiar as mãos ou como controlar a batida acelerada do meu coração. Quase desejei que ele pedisse outra coisa. Qualquer coisa. Porque isso... isso parecia tortura. Acompanhei sem querer, cada movimento dele. O jeito que passava o sabonete sobre o próprio corpo, os músculos contraindo, os respingos de água deslizando por ele... Foi ficando cad
Capítulo 39 Mariana Bazzi Acordei no meio da madrugada, o quarto bem claro, a luz acesa. Meu coração ainda batia acelerado, como se eu tivesse sonhado com algo proibido — ou como se o próprio quarto estivesse impregnado daquele calor sufocante que eu tentei ignorar antes de dormir. Virei o rosto devagar sobre o travesseiro... e o vi. Ezequiel estava deitado de costas, o lençol enrolado apenas na metade das pernas, deixando o resto do corpo totalmente exposto. A toalha? Tinha sumido. Meu peito apertou. Ele dormia com uma expressão tranquila, quase inocente, o que parecia uma contradição absurda com aquele corpo esculpido que agora eu podia ver sem nenhuma barreira. O peito subia e descia devagar, e a linha do abdômen — aquele "V" hipnótico que sumia para onde eu não devia olhar — parecia ainda mais definida sob a luz suave. Senti meu corpo inteiro reagir. A pele formigando, o pijama leve roçando no lugar errado, despertando sensações que eu mal sabia nomear, mas
Capítulo 40 Ezequiel Costa Júnior Ela era o próprio pecado enrolado nos meus braços. E eu estava perdendo o juízo. Cada tremor do corpo da Mariana, cada suspiro rouco que escapava da garganta dela, era como uma corrente elétrica me atravessando. Eu sentia meu autocontrole sendo esmagado a cada segundo, mas sabia que não podia — não devia — ultrapassar o que ela estava disposta a dar. A palma da minha mão deslizava devagar pela pele quente dela, respeitando cada limite invisível. Não toquei seus seios, mesmo com o desejo pulsando ferozmente dentro de mim. Sabia que podia ser perigoso, sabia do que ela já enfrentou. E eu preferia morrer a quebrar a confiança que ela, mesmo tremendo, estava me oferecendo. Me concentrei em acariciar seus cabelos macios, em deslizar meus dedos pela nuca dela, sentindo os pequenos arrepios que eu provocava sem forçar nada. Mantive meu corpo ali, firme, como uma âncora segura onde ela podia se apoiar. E ela se ancorava — oh, se ancorava. D