Ao voltar para a Rua de Francisco Antônio, Karina correu até seu quarto, abriu uma caixa e retirou um grande fichário. Toda a documentação referente à sua dissertação estava ali, cuidadosamente organizada, cada papel arrumado com precisão. Era o fruto de seu esforço, de noites em claro e pesquisas intermináveis. Karina jamais seria capaz de jogá-los fora ou deixá-los desorganizados.Com esses documentos em mãos, ela tinha provas suficientes para defender sua inocência.Mas, ainda assim, uma sensação de desconforto não a deixava em paz...Na manhã seguinte, Karina entregou todos os documentos a Felipe.— Dr. Felipe, está tudo aqui. — Ela disse, tentando disfarçar sua apreensão.— Ótimo. — Felipe olhou cuidadosamente para os papéis, com um semblante aliviado. — Com isso, vamos ver o que aquela Sílvia vai dizer agora! Denunciar é fácil, mas precisa ter fundamento, não dá para espalhar palavras ao vento sem provas, não é?— É... — Karina respondeu, mas a ansiedade não a abandonava.Agora
— Ainda não chegamos a esse ponto, ainda há os professores. Eu vou dar um jeito nisso para você. — Obrigada, Dr. Felipe. Mas Karina sabia que, sem apresentar novas provas, nem mesmo a posição de Felipe seria suficiente para sustentá-la por muito tempo. E, de fato, no dia seguinte, Karina recebeu a notificação de suspensão de suas funções. — Karina... — Felipe já não sabia o que fazer. Só podia dizer. — As coisas ainda não chegaram a um ponto sem esperança. Vamos pensar em algo juntos. — Eu sei, Dr. Felipe. — Karina respondeu com um tom de resignação, mas, no fundo, que outra saída poderia haver? Karina se forçou a manter a compostura, sorrindo com esforço: — Dr. Felipe, sinto muito por te causar tanto trabalho. — Não diga isso... — Felipe franziu as sobrancelhas e fez um gesto, desconfortável. Olhou para sua pupila e, finalmente, não conseguiu se segurar. — Você já contou para o Sr. Ademir sobre isso? Karina ficou surpresa, balançando a cabeça, sem entender. Claro q
Karina não entendia, será que ela tinha feito algo para irritar Ademir? Ao lado, o vendedor ambulante que empurrava seu carrinho gritou: — Eu disse, com essa barriga enorme, você não vai prestar atenção por onde anda? Eu te chamei, e você nem me ouviu! Agora tudo fazia sentido. Compreendendo a situação, Karina se desculpou, um pouco sem graça: — Desculpa. — Sem problemas, mas você precisa ficar mais atenta! Karina levantou os olhos e finalmente entendeu o motivo da expressão fechada de Ademir. Mas será que ele já poderia largá-la? — Obrigada, eu estou bem. Ademir olhou para Karina, com um sorriso irônico, mas o que sentia mesmo era raiva: — Você realmente não se importa com o seu corpo, é? Não olha para onde anda? O que estava pensando? — Não estava pensando em nada. — Karina abaixou a cabeça, ajeitando os fios de cabelo. — Você está tão cedo aqui, veio ver o avô? Ela desviou o assunto. — Sim. — Ademir ainda parecia estar sem palavras. — Vim fazer companhia
Como alguém teria coragem de suspender o trabalho de Karina? — É o seguinte, a Karina foi denunciada! — Do outro lado da linha, Helena explicou tudo, desde o início. Ademir permaneceu em silêncio, ouvindo atentamente até o fim. — Entendi. — Ele estava prestes a desligar quando, de repente, disse. — Por que você não me contou isso mais cedo? Helena tinha sido incumbida por Ademir de cuidar de Karina, mas mesmo com algo tão grave acontecendo, ela não lhe disse nada. — Eu... — Helena hesitou antes de responder. — Eu achei que, como vocês se veem todos os dias, ela mesma iria te contar. Ademir ouviu a resposta, mas não disse mais nada: — Obrigado. Vou desligar. Do outro lado da linha, Helena manteve o celular em mãos, mordendo o lábio inferior, com o coração batendo mais rápido. Ela estava certa de que algo estava errado entre Karina e Ademir! Como ele não sabia que Karina foi suspensa? Será que eles tinham se separado? Enquanto isso, Ademir ainda segurava o celular, se
Karina ficou um pouco atordoada com o grito de Ademir. — O que você disse sobre o Túlio? O humor de Ademir piorou ainda mais, e ele sorriu de forma fria e distante: — O quê? Falei um pouco do Túlio e você já está se sentindo culpada? O quê? Karina estava chocada. Este homem estava começando novamente com a sua atitude irracional! Ela não queria mais conversar com ele: — Já terminou de me xingar? Se terminou, por favor, vá embora. Karina estava tão preocupada com o trabalho acadêmico que não tinha forças para discutir com Ademir. Dizendo isso, ela se sentou no sofá e virou o rosto, evitando olhar para ele. Inicialmente, ela pensou em lhe oferecer um copo de água, afinal, Ademir era um convidado. Mas agora, Karina mudou de ideia! Ela não ia oferecer água nem para um cachorro! Ademir, ao vê-la agir assim, ficou irritado de novo. O charme do primeiro amor era realmente algo grande, não se podia nem mencionar o nome de Túlio! Mas ao ver Karina tão irritada, Ademir
Os olhos de Ademir, por um breve momento, pararam na barriga de Karina. — Você precisa manter uma boa mentalidade e um bom estado emocional. Karina apertou os lábios. — Ok, eu sei. — Então, vou indo. — Ademir se levantou e se dirigiu à porta. Ele deu dois passos, mas, de repente, parou e olhou para trás, falando: — Você realmente não tem coração. Eu venho até aqui, e nem um copo de água você me oferece. — Eu... — Nesse momento, Karina se sentiu um pouco envergonhada. — Você está com sede? Eu posso... — Deixa para lá. — Ademir sorriu, interrompendo ela. — Na próxima vez, quem sabe. Vou esperar boas notícias. Karina o acompanhou até a porta. — Vá com calma, até logo. — Tá. Karina ficou na porta, e só depois de um bom tempo, soltou um suspiro profundo. Apesar do casamento deles ter sido cheio de dificuldades, Ademir realmente era muito gentil com ela. Naquela noite, Ademir voltou. Karina abriu a porta e o convidou a entrar. Por causa da queixa que ele fez p
Karina entendeu o que Ademir queria dizer. Mesmo que Sílvia mudasse de versão e admitisse que havia mentido, já que o escândalo foi tão grande, mesmo que a situação se resolvesse, Karina ficaria com uma mancha indelével nesse episódio. — Mas... Você tem alguma prova? Nem Karina, a própria vítima, tinha como apresentar provas. — Ainda não vou te contar sobre isso. — Ademir sorriu. — Quando tudo estiver resolvido, você vai saber. Enquanto falava, Ademir colocou mais comida no prato de Karina. — Coma mais um pouco, você tem emagrecido ultimamente? — Emagreci? — Sim. Depois do jantar, Ademir a levou de volta à Rua de Francisco Antônio e seguiu para o Restaurante Ocean. Filipe e os outros estavam lá, e Estêvão também. Estêvão não estava ali para socializar; ele tinha vindo especificamente para esperar por Ademir. — Sr. Ademir. — Se sente. — Ademir desabotoou o paletó e se jogou no sofá. — Como está a situação? — Indo bem. — Estêvão respondeu. — Os documentos entr
Ademir acenou com a cabeça, em sinal de compreensão. Ele baixou os olhos para Karina e, com uma voz suave, disse: — Eu vou te esperar aqui fora, não tenha medo. — Tudo bem. Elas foram conduzidas até uma pequena sala de reuniões ao lado. Dentro, o diretor da faculdade, o coordenador pedagógico e outros estavam esperando por elas, e Felipe também estava presente. Karina viu o Dr. Felipe sorrir e acenar com a cabeça para ela. De repente, ela se acalmou. Mas, Karina não sabia exatamente o que Ademir havia feito para chegar a esse ponto. — Se sentem. — Sim. Karina e Sílvia se sentaram. O diretor tirou dois documentos da pasta e os colocou diante delas. Os conteúdos eram idênticos, cópias. — Este é o laudo pericial. O original está conosco. Karina baixou a cabeça e começou a folhear o laudo. O conteúdo estava bem claro. "Laudo Pericial: O material fornecido pelas partes (incluindo manuscritos e impressões digitais, além da versão em formato eletrônico no pendrive)