Mais uma vez, recebi uma ligação de despedida de Helena, ameaçando suicídio. E, mais uma vez, Hugo não hesitou em pausar o nosso casamento.
Segurei firme o vestido de noiva caro, que simbolizava pureza e felicidade, com o rosto pálido, bloqueando o caminho dele.
— Não podemos esperar até o fim da cerimônia? Já é a octogésima oitava vez. — Eu disse, sentindo meus olhos arderem.
Hugo suspirou, culpado, e me puxou para um abraço.
— Me dá só mais um pouco de tempo, Vivi. Você sabe, desde aquele acidente, a saúde mental da Helena está instável. Tenho medo de que ela faça alguma besteira. Fica tranquila, eu vou conversar sério com ela. E aí a gente casa de verdade.
Esta é a octogésima oitava vez que ouço essa frase.
Nas oitenta e sete anteriores, acreditei nela fielmente, me agarrando com cuidado a essa mentira sem peso, repetindo para mim mesma: "Se ele me ama, não tem problema adiar o casamento."
Mas todas as vezes ele era cancelado. Todas. Tivemos oitenta e sete cerimônias e, em nenhuma delas chegamos até o altar.
Helena sempre aparecia com alguma emergência. Ou sofria um acidente, ou tinha uma crise de depressão e ameaçava se matar. E Hugo, como sempre, era o primeiro a correr para o lado dela. E com um milagre, conseguia acalmá-la e fazê-la recuperar a vontade de viver.
Engraçado, não é?
Bastava meu noivo aparecer, e de repente tudo se resolvia, a vontade de viver voltava como mágica. Quem, há instantes, ameaçava cortar os pulsos, se entupir de comprimidos e gritar que ia acabar com tudo… já sorria outra vez.
Fiquei em silêncio, abraçando Hugo com toda a força do meu corpo, tentando fazer ele ficar.
— Vivi, não seja teimosa. Solta o Hugo. Sua irmã já subiu na sacada! — Minha mãe, impaciente, o apressou enquanto ele ainda tentava me consolar.
— O que você está aprontando agora? — Meu pai, com o rosto fechado, me repreendeu. — Se não tivesse te salvado, Helena não estaria assim. Você sempre foi egoísta, mas agora a sua irmã está lutando pela vida. Não consegue ser mais compreensiva?
O celular tocou de novo. Hugo hesitou, mas não soltou minha mão.
— Vivi, eu preciso ir. Você entende, não é?
Não consegui responder. Cambaleei, torci o tornozelo com o salto alto e caí no chão. O braço bateu com força no suporte metálico do arranjo de flores, abrindo um corte profundo.
A dor lacerante se espalhou pelo corpo, e eu soltei um gemido involuntário.
Hugo, no entanto, agiu como se não tivesse ouvido nada, e correu em direção à porta.
— Hugo, eu vou esperar até o fim do dia. Se você não voltar, não nos casaremos nunca mais. — Gritei para as costas dele, que se afastavam, num misto de desespero e ruína.
Ele ouviu. Hesitou por um segundo. Mas nunca olhou para trás.
Meus pais passaram por mim, apressados.
— Esse drama é para quem, Viviane? — Ao me ver caída, meu pai apenas resmungou, frio. — Deixa eu te falar, se for para cancelar o casamento ou até mesmo ceder o Hugo para sua irmã, você terá que aceitar. Porque a vida dela é mais importante que isso.
Minha mãe me olhou com uma expressão difícil de decifrar.
— Vivi, seja sensata. É só uma cerimônia. Se não der certo hoje, pode dar noutro dia. Mas sua irmã está esperando o Hugo para ser salva. No dia a dia, vocês podem discutir. Mas agora não temos tempo para lidar com seus dramas.
Esse tipo de fala, eu já ouvi inúmeras vezes desde que voltei para casa.
Quando fui "resgatada", Helena já estava na nossa família havia quinze anos. Nunca pedi para que ela fosse embora. Pelo contrário, sempre a tratei como uma de nós, de coração aberto.
Mas ela adorava tomar tudo o que era meu. Até mesmo o urso de pelúcia que dizia odiar. E o vestido vermelho que ela nunca usava.
Tudo que eu gostava, ela dava um jeito de pegar.
Uma vez, perguntei a ela por quê.
— Não tem porquê. Eu só gosto de ver o seu rosto quando eu tiro tudo de você. Seu olhar desesperado me diverte.
A resposta foi como um soco na alma.
Na época, eu era ingênua. Achei que, contando isso para os meus pais, eles finalmente enxergariam quem ela realmente era. E parariam de me culpar. Mas eu subestimei a manipulação da Helena, e o lugar que ela ocupa no coração deles.
— Viviane, como podemos ter uma filha tão mentirosa e egoísta? Você é uma decepção. — Recebi uma repreensão fria.
Pois que fiquem decepcionados.
Estou tão cansada. Cansada a ponto de não conseguir mais chorar. Só me restou esse frio entorpecido, que me congela até os ossos.
Levantei do chão, peguei um lenço de papel e pressionei o corte ainda sangrando no braço.
— Pai, mãe, vão logo ver ela. Ela ainda está lá no terraço.