Alguns dias depois, recebi a ligação de Guilherme:

— Você ainda tá viajando a trabalho?

— Volta logo, a Cecília conseguiu voltar pro país com tanta dificuldade, quer reunir todo mundo e até fez questão de dizer que queria te ver.

Franzi a testa:

— Ainda não terminei aqui. Vocês se reúnam sem mim.

A voz dele logo ficou impaciente:

— Que trabalho é esse que você não pode adiar um pouco?

— A Cecília te convidou especialmente, e você insiste em bancar a sem-graça, é isso?

— Tô te avisando, você vai, queira ou não. Caso contrário, pode esquecer aquele terreno no leste da cidade!

Fiquei balançada. Todo o projeto de construção daquele terreno tinha sido feito por mim e já estava pela metade. Se Guilherme desse para trás agora, todo o meu esforço seria em vão.

Tudo bem, eu iria. De qualquer forma, nosso relacionamento estava perto do fim. Que fosse a despedida.

Segui a localização que ele me mandou e cheguei ao hotel. A sala já estava cheia, a maioria eram amigos de Guilherme.

Ele e Cecília foram colocados bem no centro, lado a lado, os dois até usavam roupas da mesma cor, parecendo um casal de verdade.

Assim que me viu, Cecília se levantou:

— Juliana, você veio!

— A gente te esperou tanto... Ah, será que eu tô no seu lugar? Não fica chateada, eu já vou levantar.

Guilherme, de cara fechada, a segurou de imediato:

— Não levanta. Ela que chegou tarde, que vá sentar lá atrás.

— Desculpa, Juliana... — Cecília, com uma expressão constrangida, acabou se acomodando no colo dele. — Já que o Guilherme disse isso...

Puxei uma cadeira próxima, sem dar importância:

— Tá tudo bem, não me incomodo.

Daqui pra frente, não importa o que os dois façam, eu também não vou me importar.

No meio da festa, fui ao banheiro. Quando voltei, ainda na porta do salão, ouvi os amigos de Guilherme comentando animadamente:

— Eu sempre disse, a Cecília combina muito mais com o Guilherme. Vocês são amigos de infância, já têm uma base de sentimento.

— Pois é! Aquela Juliana não tem nada de bom. Comparada à Cecília, não chega nem perto!

— Agora que a Cecília voltou, por que vocês não ficam juntos de novo?

— Ei, não fala bobagem. A Cecília vai ser pianista.

Guilherme não negou nada, apenas a olhava com um carinho cheio de afeto.

Como é que eu fui me apaixonar por um lixo desses?

Quando empurrei a porta e entrei, os amigos dele ainda estavam elogiando em voz alta:

— Ouvi dizer que o Guilherme comprou um piano de duzentos milhões para o novo concerto da Cecília. Isso é que é generosidade!

— Nossa, se isso não for amor de verdade, então o que é?

Guilherme me desprezava, e seus amigos, imitando ele, também não faziam questão de me respeitar. Nem se davam ao trabalho de disfarçar na minha frente.

— Que jeito de falar é esse? — Disse Guilherme, de modo casual. — A Cecília tem talento pra isso, merece.

Baixei a cabeça, torcendo os lábios num sorriso. Pelo visto, ele estava mesmo assumindo que eram "o verdadeiro amor".

Depois, ele ainda olhou para mim e completou:

— Além disso, eu também investi dinheiro no terreno da família Ribeiro.

— Juliana, não se preocupa, volto pra casa e já assino o contrato.

— Ah, isso eu também ouvi falar. — Alguém logo comentou. — Mas parece que foram só cinquenta milhões.

— Pfff, nem chega a um quarto do preço do piano da Cecília!

Risadinhas soaram ao redor, como se estivessem zombando da minha pechincha.

E eu mesma não consegui segurar uma risada.

Antes, o que foi que me deu, pra perder tempo com um homem como esse?

De repente, uma garota apontou para o acessório de cabelo de Cecília, surpresa:

— Meu Deus, Cecília, esse grampo em forma de coroa é lindo demais!

Ela olhou para Guilherme, corando:

— Foi presente dele. Disse que era pra me desejar sucesso no concerto.

Reconheci na hora, era a peça que deveria estar no meu cabelo no dia da cerimônia de noivado.