O Limite

Peter

O jantar terminou bem, para minha felicidade, que já não aguentava mais as insinuações de que Lina e eu seríamos mais do que amigos. Eu não conseguia mensurar o quanto odiava quando faziam algo desse tipo, mas era um comportamento tão previsível de pais que, por mais que me irritasse, eu já estava acostumado.

Eles sempre presumiam coisas desnecessárias e criavam um clima extremamente desconfortável, sem qualquer noção do limite que deveria existir nas relações. Minha mãe, com seu otimismo eterno, e Mark, com sua tentativa forçada de ser o pai do ano, formavam uma dupla perfeita para me deixar em pânico social.

Ainda de bom humor, com muito esforço para ignorar os comentários alheios, decidi lavar a louça. Era o mínimo que eu poderia fazer depois de Logan ter preparado um macarrão à carbonara que, por mais que me custasse admitir, estava delicioso. O som da água quente correndo pela torneira era um ruído bem-vindo, abafando o eco das vozes na minha cabeça.

Enquanto eu limpava um prato, vi a silhueta de Logan se aproximar na minha visão periférica. Senti meu corpo enrijecer. Ele parou ao meu lado, deixando um prato sujo na pia, bem perto de onde minhas mãos estavam. Seus dedos roçaram nos meus por um instante, e uma faísca atravessou meu braço. Eu me forcei a ignorar.

"Pode colocar aqui, eu lavo", estendi a mão para pegar o prato, mas ele se afastou, como se tivesse se arrependido de ter se aproximado.

"Obrigado", ele disse baixo, e sua voz, que costumava ser um trovão, agora era apenas um sussurro.

Ele se virou para sair, e eu respirei fundo, aliviado. Por um momento, pensei que a tensão tinha se dissipado. Mas, antes que ele saísse da cozinha, ele se virou novamente em minha direção, tocando meu ombro. O toque inesperado me pegou de surpresa.

Foi um arrepio instantâneo e estúpido que correu pelo meu braço. Eu tentei me convencer de que era medo, uma reação à sua arrogância usual. Mas, no fundo, eu sabia que não era. Era uma sensação nova, incômoda e... estranha.

E mesmo tentando me convencer disso, eu pensaria na sensação esquisita por um longo tempo.

"Olha, quero me desculpar pela maneira que tenho me comportado", ele disse, a voz quase inaudível. Ele olhou para baixo, tentando esconder a feição, e dava para notar que aquilo estava sendo absurdamente difícil para ele. Parecia ter que se esforçar para cada palavra, como se estivesse levantando um peso gigantesco.

No entanto, eu estava desconfiado. Não conseguia acreditar em sua mudança repentina. Todo o comportamento que ele teve até ali demonstrava exatamente o contrário do que se via agora. Aquele pedido de desculpas parecia uma farsa, um truque para me desarmar.

"Okay", eu respondi, com uma expressão confusa. Ainda atordoado com a sensação do toque, eu me vi sem palavras.

"Okay? Só isso que vai responder?" ele perguntou, com uma ponta de irritação na voz. O tom dele já estava mudando, o garoto arrogante de antes estava prestes a voltar.

"O que você quer que eu diga? Que eu te perdoo? Que eu diga que esqueço tudo magicamente e iremos ser amigos? Não é assim, mas aceito suas desculpas, tá bom?", falei debochado, tirando Logan completamente do sério. Não que fosse difícil algo do tipo.

"Você é um babaquinha mesmo." Ele retrucou, seguindo em direção às escadas, a frustração evidente em cada passo.

"Eu? Você que torna tudo um inferno e eu que tenho que aceitar suas desculpas esfarrapadas? Me poupe, seu mimado!", gritei, assistindo Logan subir as escadas nervosamente.

Ao ouvir minhas palavras, ele parou. E em um flash de raiva, se virou. Desceu as escadas como um raio e correu em minha direção, me prensando contra a parede da cozinha. As mãos dele se fecharam na gola da minha blusa, me puxando com força. Meus músculos se contraíram, meu corpo se encolheu. Meu coração disparou em meu peito, batendo como um tambor.

"Você quer arrumar uma briga, Peter? Eu gosto de brigas." A voz dele era baixa, perigosa. Ele manteve o rosto tão próximo do meu que eu conseguia sentir seu hálito fresco contra minha bochecha. O perfume dele, que eu odiava secretamente, agora invadia meus sentidos.

Eu não tive reação. Só fiquei parado, encarando-o, meus músculos esmagados contra a parede. Os olhos dele eram como um oceano completamente escuro, sem fim, assustadores e fascinantes ao mesmo tempo. Era uma dualidade que me perturbou. E enquanto o estranhamento entre nós dois perdurava, eu vi algo em seus olhos se quebrar. A fúria, aos poucos, foi se dissolvendo. Uma confusão, um desespero, tomou conta de sua expressão.

Eu vi o rosto de Logan ruborizar, um calor que não tinha nada a ver com a raiva. Ele sentiu uma sensação esquisita, que não conseguia identificar. Seu estômago parecia dar cambalhotas dentro de si, e ver o meu rosto tão perto o atingiu como um soco. Seus sentidos estavam completamente perturbados, e isso deixou sua mente tanto quanto confusa.

"Me desculpe", ele falou baixo, desorientado. A voz dele agora era um suspiro. Ele soltou a gola da minha blusa com delicadeza, como se eu fosse de porcelana, contrariando todas as suas ações até ali. E, como uma nuvem de fumaça, ele se afastou, caminhou calmamente até as escadas, subindo degrau por degrau, até eu escutar o som da porta do quarto dele sendo fechada.

Eu permaneci encostado na parede fria, o peito subindo e descendo com uma velocidade assustadora. Eu tentei processar o que havia acontecido. Principalmente, tentando entender o porquê de meu corpo parecer prestes a desmoronar a qualquer momento, como se minhas estruturas estivessem sofrendo um ataque constante, perturbando toda a ordem natural das coisas.

Confuso, segui para o meu quarto, me deitei em minha cama e decidi ligar para o Liam. Precisava esvaziar minha mente de todos os pensamentos esquisitos que surgiram naquela noite.

"Liam?", eu perguntei, ouvindo uma respiração pesada no telefone.

"Cara, você não dorme?", ele perguntou, e eu ouvi seu bocejo sonolento.

"Me desculpa, não quis incomodar. Só queria conversar." Eu me virei de barriga para cima, encostando meus pés na parede.

"Aconteceu alguma coisa?"

"Não, só sinto sua falta. Sinto falta de casa."

"Eu também sinto. Daqui a alguns meses vamos passar um bom tempo juntos, será que você aguenta até lá sem a minha presença?", ele disse em tom de brincadeira, me fazendo sorrir.

"Acho que posso sobreviver." Respondi com um sorriso no rosto. "Vai dormir, amanhã nos falamos. Até logo…"

Naquela noite, demorei a pegar no sono. A cena de Logan me pressionando contra a parede se repetiu várias e várias vezes, e eu conseguia lembrar da sensação de sua respiração quente tocando minha bochecha. No entanto, me irritava ao sentir minhas bochechas quentes e rosadas.

Eu odiava a sensação que Logan havia causado em mim, e queria me livrar disso o quanto antes. Era um sentimento agridoce, uma mistura de raiva e atração que me enlouquecia. Então, me deitei de uma maneira confortável e me forcei a pegar no sono.

Precisava esquecer tudo aquilo, pelo menos enquanto pudesse. Mas a memória de seu olhar, do toque de sua mão na minha blusa e o som de sua voz pedindo desculpas permaneciam em minha mente.

Era como se, pela primeira vez, eu tivesse vislumbrado algo por trás da fortaleza que era Logan. E o que vi me deixou mais curioso do que qualquer outra coisa no mundo.

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