PeterMarço de 2022. Foi quando tudo virou de cabeça pra baixo. Não de um jeito trágico, daqueles que arrancam o chão debaixo dos pés com uma catástrofe, mas também estava longe de ser algo bom.Minha mãe jurava que era para melhor. E talvez para ela tenha sido mesmo. Mas, para mim? Definitivamente, não. Era meu último ano do ensino médio, a reta final. Eu deveria estar contando os dias para a formatura com meus amigos, planejando a viagem de despedida, aproveitando cada instante antes de dizer adeus ao colégio e à cidade onde cresci.Em vez disso, eu estava dizendo adeus a tudo. Empacotando minha vida inteira e me mudando para outra cidade. Outro estado. Outro mundo.A Califórnia.Não importava o quanto minha mãe tentasse, aquilo nunca pareceu uma boa ideia. Ela falava de sol, praias, oportunidades, de uma vida nova que nos esperava.E o que me deixava mais frustrado era que ela sabia. Minha mãe sempre soube ler os meus silêncios, mesmo quando eu achava que estava escondendo bem o

PeterA primeira semana em San Diego foi... silenciosa. Mas não aquele silêncio gostoso de domingo de manhã, quando a gente acorda e tudo parece em paz. Era um silêncio pesado, sufocante, que parecia avisar que alguma coisa ruim estava para acontecer. O tipo de silêncio que se arrasta pelos cantos e faz a gente pensar duas vezes antes de falar qualquer coisa. Antes de sentir qualquer coisa.Logan era praticamente um fantasma. Um fantasma irritante. Ele surgia e desaparecia tão rápido que parecia estar sempre fugindo de qualquer contato. Eu o via mais refletido nos vidros da casa do que de frente. Passava por mim como uma corrente de ar frio, deixando rastros que eu não queria, mas acabava percebendo.Eu dizia para mim mesmo que não me importava. Repetia isso várias vezes. Mas a verdade era que me importava, sim. E isso me deixava mais irritado do que a própria indiferença dele. Havia algo no jeito como me ignorava que fazia minha pele coçar, como se fosse uma mistura de orgulho ferido

PeterLogan e eu passamos a semana inteira sem trocar uma palavra. Nenhum olhar, nenhuma provocação, nada.Cheguei a pensar em pedir desculpas, mas toda vez que essa ideia surgia, eu lembrava de todas as vezes em que ele tinha sido grosso comigo sem motivo, como se a minha simples presença já fosse um incômodo. Então engoli o orgulho. Ou talvez tivesse engolido o arrependimento. Ou seja lá o que fosse aquilo.Logan parecia tão fechado quanto sempre, mas havia algo diferente nos olhos dele. Um peso. Cansaço, talvez culpa. Difícil saber. Ele era como uma fortaleza de muros altos demais, cheio de problemas mal resolvidos com o próprio pai, incapaz de simplesmente dizer “foi mal”.Enquanto isso, Liam insistia para a gente se ver. Eu queria, mas tinha medo de que ele enxergasse algo em mim que nem eu mesmo entendia ainda. Não queria que ele carregasse os meus problemas, mas também não tinha coragem de sumir. Então entrei na videochamada sem pensar muito. Ele atendeu com cara de sono, o qua

LoganA porta do meu quarto se fechou com um baque, mas o barulho dentro da minha cabeça era maior.Não era o som de uma briga, era o som da minha vida desmoronando. O pedido de desculpas, o empurrão contra a parede… o rosto de Peter tão perto. Eu não conseguia parar de pensar naqueles malditos segundos em que senti o ódio se misturar com alguma coisa que eu não tinha coragem de nomear.Meu corpo tinha entrado em pane. As bochechas queimando, o estômago revirado, as mãos tremendo. Peter tinha me visto perder o controle de uma forma que eu nunca tinha perdido. Eu estava com vergonha. Pura e simplesmente, vergonha.O silêncio da casa era uma tortura. Cada ruído parecia um lembrete do que tinha acabado de acontecer. Meu pai e Sarah estavam no quarto, por sorte. E eu, o filho imperfeito, estava aqui em cima, me desmontando em mais um colapso.Onde Peter estaria agora? Ainda na cozinha, me odiando ainda mais? A ideia de encará-lo de novo me encheu de pavor. Eu precisava fugir. Era uma urgê

PeterFiz o possível para passar despercebido.Não funcionou.No momento em que eu tentava me livrar daquela imagem do vestiário, senti uma mão pousar no meu ombro. Uma mão pesada e firme, mas não agressiva. Me virei e dei de cara com Joshua. Cabelo raspado nas laterais, sorriso largo e um brilho nos olhos que me fez pensar em verão. Ele exalava uma energia completamente diferente daquela que eu sentia de Logan.Era... leve. Gentil."E aí, novato. Primeiro dia?", ele disse, me dando uma garrafa de água."Sou Peter", respondi, pegando a garrafa. "Obrigado.""Joshua", ele disse, e eu sorri. "Meio-campista e, ocasionalmente, pacificador", ele completou, piscando para mim. Ele olhou de relance para Logan, que estava sentado do outro lado do banco, colocando as caneleiras, fones no ouvido e com uma carranca que podia assustar qualquer um. "O Logan é um pouco antissocial às vezes, mas ele é legal. No fundo. Bem lá no fundo", ele sussurrou, se inclinando para perto de mim.Logan bufou do out