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Capítulo 6: Obras de Arte e Armadilhas  

*Flávia Narrando*

No dia seguinte, após as atividades do colégio, levei as gêmeas para o jardim para elas ter uma atividade recreativa e mais saudável, ao entardecer entramos novamente era lindo ver o rosto delas corado de tanto brincar. Ao entrar no meu quarto, porém encontrei uma pilha de caixas de seda. Dentro, vestidos que pareciam feitos de sonhos — rendas francesas, sedas italianas, tudo em tons de azul que lembravam meus olhos.

— Presente do senhor Hawthorne — Rosália apareceu na porta, evitando meu olhar.

— Ele disse que… funcionários da família Hawthorne devem refletir seu padrão.

Agarrei o tecido mais próximo, sentindo a maciez como uma afronta. As caixas de seda pareciam rir de mim, seus laços perfeitos eram uma afronta ao meu jeans rasgado. Abri a primeira: um vestido azul-marinho que custaria mais que meu semestre na faculdade.

No fundo, sabia o que aquilo era: uma armadilha dourada. Rafael queria me transformar em uma de suas estátuas decorativas, controlável e bonita, já havia percebido isso, desde de ontem quando ele me falou de minhas roupas.

Mas Sir Mancha, o unicórnio do vestido manchado, sussurrou uma ideia. Sorri, peguei minha mochila de lápis, tintas e canetinhas, sentando no chão de mármore gelado.

“Padrão Hawthorne” Tradução: "Seja decorativa, mas invisível. Se ele quer um manequim, vai ter uma obra de arte.”

Sir Mancha, o unicórnio acidentado do meu vestido manchado, sussurrou: "Mostre a ele que você não se quebra". Sabia que poderia perder meu emprego, logo no segundo dia, mas jamais deixaria aquele homem me controlar, ele era meu patrão não meu dono.

Comecei pelo decote. Em vez de rendas delicadas, pintei dragões em tons de ouro, suas caudas sinuosas contornando a cintura. Nas mangas, transformei os bordados franceses em asas de fênix, usando tinta ultravioleta que brilhava no escuro. Bia apareceu no meio do processo, de pijama de dinossauros, e jogou glitter sobre a mesa.

— Que lindo Flávia! — porém pondo as mãos no queixinho de anjo disse: — Mas acho que precisa de um pouco mais de magia — anunciou, espalhando purpurina rosa choque nas asas.

Melissa, sempre a artista, desenhou olhos minúsculos nas flores do tecido. — Agora elas veem tudo — sussurrou, séria.

Quando Rafael bateu à porta às 19h para o jantar, estávamos cobertas de tinta, o vestido uma explosão de cores contra o minimalismo cinza do quarto.

— O que diabos… — ele começou, os olhos castanhos dilatando ao me ver.

— Refletindo o padrão Hawthorne — interrompi, fazendo uma reverência teatral.

—Dragões são parte da herança familiar, não?

Mel ergueu um desenho do Senhor Escamas. — Combinamos!

Bia pulou em frente, derrubando um pote de glitter no sapato italiano dele. — Acabei de descobrir tio Hawt a Flávia é uma fada disfarçada!

Ele ficou parado, alternando o olhar entre minha transformação e as gêmeas sujas de tinta. Por um instante, juro ter visto um canto da boca tremer — quase um sorriso. Quase.

— Jantaremos na varanda — disse bruscamente, virando os calcanhares. Mas não antes que eu visse: no bolso do paletó, uma ponta daquele mesmo relatório que me deixou intrigada.

À meia-noite, enquanto as gêmeas dormiam, desci à cozinha. O vestido brilhava fracamente na escuridão, as asas de fênix pulsando como faróis.

Rafael estava na poltrona, um copo de uísque vazio na mão, dormindo com a testa franzida. Com o iPad ao seu lado, desligado, quase caindo de suas mãos então peguei com cuidado para ele não acorda.

Por algum motivo, o pingente de dragão ficou quente em meu peito, ao vê-lo assim tão simples, tão humano. Na janela, a lua iluminou o jardim onde, horas antes, ele observara minha "obra de arte" com algo que poderia ser… divertimento? Acreditei que ele me mandaria para o olho da rua depois disso, porém não me disse nada.

Devolvi o iPod, deixando uma marca de tinta dourada na capa — uma assinatura involuntária. Quando saí, ouvi um sussurro rouco atrás de mim:

— Nenhum dragão, real ou pintado, vai protegê-la se continuar me desafiando Flávia.

Sorri, sem virar.

— Mas é tão divertido tentar fazer dragões sorrir, senhor Hawthorne.

Após dizer isso sai dali, não corri. Caminhei com passos firmes, deixando cada pegada no mármore polido como marca de resistência.

Ao subir as escadas, senti o peso do seu olhar nas minhas costas e ouvi o eco daquela voz áspera e quente dele me perseguindo. "Nenhum dragão, real ou pintado, vai protegê-la..." Os dedos tremeram ao tocar o pingente, agora quente como brasa contra meu peito, então sorri. Rosália me esperava no topo das escadas, seus olhos sábios fixos nas manchas douradas que eu carregava nas mãos.

— Ele não é o monstro que pensa — sussurrou, colocando as mãos sobre as minhas — Apenas um homem que esqueceu como ser humano.

No quarto, guardei os vestidos de seda que ganhei dele. Não queria dizer para ele, mas Rosália me convenceu a usar as roupas que ele me deu pelo bem das gêmeas. Eu só queria fazê-lo entender que não seria um manequim em suas mãos, e que aquelas meninas mereciam muito mais do que padrões e normas. Mereciam carinho e atenção, coisas que ele não estava sabendo oferecer.

Agora, porém, depois que Mel me levou novamente ao quarto "proibido", comecei a entender um pouco o homem por trás daquela casca chamada Rafael Hawthorne. Foi ontem de tarde enquanto Rafael não estava, Melissa entrou sorrateira, arrastando uma chave e me levou até quarto ,então me mostrou um caderno de esboços proibido.

— O quarto do papai Miguel tem muitos dragões — disse, mostrando desenhos de criaturas aladas rabiscadas nas margens de relatórios antigos. "Ele também gostava de dragões tristes."

Aquelas palavras me perseguiram até o sono. Sonhei com Austin: mamãe regando rosas sob o sol poente, Jony tocando violão na varanda, e “ele” — as mãos que cheiravam a gasolina e maldade — esmagando meus gritos contra o asfalto frio.

Algumas horas depois ainda rolava na cama, pois não conseguia pegar no sono, lembrando dos meus pais, de Jonny e dos meus amigos no Texas. Chorei ao pensar em tudo que deixei para trás por causa “dele”... minhas lágrimas misturaram-se à sentimentos de saudades.

Na manhã seguinte, todas as funcionárias da mansão apareceram com detalhes em dourado nas roupas — até Rosália, com um broche de fênix improvisado.

Rafael passou o dia todo evitando meu olhar, mas as gêmeas juraram ter visto ele sorrir para o cafezinho, onde Mel desenhara um mini dragão na xícara.

— Isso é... inapropriado — rosnou, mas por algum motivo levou a xícara para o escritório.

Sabia que seria chamada por ele novamente, mas sorrindo pensei que o sacrifício valia a pena…

Enquanto isso, em um apartamento decadente do Brooklyn, “ele” abria um envelope anônimo. Fotos minhas sorrindo com as gêmeas escorregaram para a mesa manchada de whisky. Uma lâmina afiada fixou-as na madeira, cada furia acompanhado por um sopro rouco:

— Encontrei você, princesinha.

Sobre todas as imagens, um símbolo brilhava sob a luz de neon quebrada: meu dragão dourado, pintado com a tinta que Rafael tanto odiava. Nas costas do envelope, o endereço da mansão Hawthorne.

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